São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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Para Lula, alta do real é inevitável

Presidente avalia que não há medida de impacto a ser tomada no curto prazo para evitar valorização do câmbio

Lula acredita que área econômica deve ser cautelosa ao debater ações no câmbio e, assim, evitar que expectativas sejam afetadas


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que não há nenhuma medida de impacto que possa tomar no curto prazo para evitar uma eventual nova onda de valorização do real em relação ao dólar. Após a obtenção do grau de investimento, na semana passada, o Ministério da Fazenda elevou o grau de preocupação com o câmbio.
Há temor na pasta de Guido Mantega de que o grau de investimento (espécie de selo de qualidade de bom pagador dado pelos investidores internacionais) traga mais recursos externos ao país e valorize ainda mais o real em relação à moeda norte-americana. Setores exportadores se queixam de que são prejudicados pelo dólar barato, pois seus produtos ficam mais caros na comparação com os de outros países.
Lula pediu cautela aos auxiliares. Hoje, em reunião no Planalto com seus principais ministros, haverá avaliação do cenário econômico. A tendência é o governo usar o discurso de que o Brasil tem sido pouco afetado pelas incertezas econômicas internacionais e que não precisa tomar nenhuma medida radical no curto prazo.
Ou seja, reafirmar a política de câmbio livre e flutuante e empurrar com a barriga. Nas palavras irônicas de um conselheiro econômico do presidente, "não fazer nada será um ato de coragem".
O grau de investimento, que é uma boa notícia para vários setores da economia, aconteceu na semana passada. Seria cedo, avalia Lula, para adotar alguma medida cambial única e exclusivamente em razão do temor dos exportadores e da Fazenda em relação aos efeitos do grau de investimento.
Daí a intenção de aguardar mais um pouco até que haja maior clareza no cenário internacional sobre qual problema global ameaçaria mais a economia brasileira: a crise financeira dos Estados Unidos ou a inflação mundial dos alimentos.
No cardápio de medidas paliativas do governo em relação ao câmbio, estão uma eventual nova elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na entrada de dólares no país e o chamado fundo soberano. O fundo daria ao Tesouro Nacional, órgão sob a influência da Fazenda, o poder de comprar dólares no mercado para tentar combater a valorização do real.
Lula já descartou duas medidas de peso: intervir no Banco Central para mudar a política de juros e alterar as regras do câmbio, como impor algum tipo de controle à entrada de capital no país.
Para o presidente, a área econômica deve ser cautelosa ao debater novas medidas. Ele acredita que isso poderia afetar as expectativas no momento em que o Brasil cresce apesar da crise internacional. O petista avalia que o ano de 2008 está ganho do ponto de vista econômico.
Não crê que a recente retomada de um processo de alta dos juros pelo Banco Central ofereça risco ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). O efeito da alta dos juros sobre o câmbio é sempre visto por Lula como preocupante. O presidente expressa isso publicamente para acalmar setores exportadores que cobram medidas mais efetivas.


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