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ANÁLISE
Problema não é só dívida pública
Mercado percebe que débito privado agrava situação dos países "problemáticos" da Europa
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise na Europa ganha dimensões mais inquietantes
com o reconhecimento, por
grande parte do mercado, de
que o problema na região não é
só de endividamento público.
Esse pode ser o maior problema da Grécia. Mas, para outros
países listados como "problemáticos", é a soma do endividamento do setor público com o
privado (de empresas e bancos)
que faz a crise ser grande.
Enquanto a dívida pública
grega como proporção do PIB
(relação que determina a capacidade ou não de honrá-la) é
maior do que a de Portugal e
Espanha, a história é diferente
quando considerados o endividamento privado de todos.
As dívidas totais de Portugal
(pública e privada) equivalem a
236% do PIB português. No caso da Espanha, a 342% do PIB
espanhol. Na Grécia, essa proporção é bem menor, de 195%.
Isso significa que a solvência
de outros países na comparação com a Grécia pode se tornar
mais complicada com o tempo.
O motivo é que os três países
(mais a Irlanda) terão em comum crescimento baixo ou negativo neste ano (-3% na Grécia
e -0,5% na Espanha, por exemplo). Ficarão aquém da magra
média europeia, abaixo de 1%.
Isso quer dizer que estão fadados a ter uma relação entre o
tamanho das dívidas (que cresce com juros cada vez mais altos) e PIB (que encolhe) ainda
maior ao final de 2010 e além.
Se já há receio em relação às
dificuldades desses países em
honrar suas dívidas hoje, essa
percepção só tende a piorar.
É isso o que o mercado antecipou ontem quando se desfez
em massa de ações de empresas
e bancos na Europa e nos EUA.
O outro aspecto grave da crise é a enorme exposição do sistema bancário mundial a dívidas privadas e públicas dos
"problemáticos" Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda.
Segundo o BIS (Bank for International Settlements), os setores público e privado desses
países devem US$ 2 trilhões a
bancos dentro e fora da Europa.
Em recessão e com alto desemprego, não é difícil prever
empresas e governos faturando
e arrecadando menos, o que pode agravar a dívida.
Os EUA enfrentaram problema semelhante em 2009. Lá, o
Fed (BC) assumiu 100% da rolagem das dívidas de empresas
e do Tesouro, que estavam virtualmente quebrados.
Se o BC europeu fizer o mesmo, a conta recairá sobre a Alemanha e a França. Isso pode ser
politicamente inaceitável.
Já uma onda de calotes ou de
aumento de juros para rolar dívidas poderá ter reflexos ainda
maiores nos países "problemáticos" e além de suas fronteiras.
FOLHA ONLINE
Ouça comentário de
Fernando Canzian sobre a
crise
www.folha.com.br/1012613
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