São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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PREÇOS
Variação do IPC da Fipe em abril, que chegou a 0,62%, teria ficado em 0,49% se não fosse a alta desse alimento
Paulistano enfrenta "inflação do feijão'

MAURO ZAFALON
da Redação

O efeito da "âncora verde" sobre a inflação acabou. Ao contrário, os alimentos passam agora a ser os vilões da taxa inflacionária. A opinião é de Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Ele dá como exemplo as pressões do preço do feijão sobre o IPC. "São Paulo está vivendo a inflação do feijão", diz o economista, ao informar que a taxa de inflação fechou abril em 0,62%, após dois meses de deflação.
O feijão foi responsável por 21% dessa taxa. Sem ele, a taxa de abril teria sido de 0,49%. Só neste ano, os consumidores paulistanos já tiveram reajuste de 59% nos preços do produto, segundo registros no IPC da Fipe.

Pressões se invertem
A situação inflacionária é hoje bem diferente da registrada no início do Plano Real, explica Heron do Carmo.
Naquele período, a estabilidade e até queda dos preços dos alimentos criaram a chamada "âncora verde". Ou seja, os produtos agrícolas impediam evolução maior da taxa média de inflação, que era pressionada pelo setor de serviços.
Agora, enquanto os preços dos serviços até caem, devido à alta anterior excessiva e ao desaquecimento da economia, os alimentos estão com forte pressão devido à menor oferta de produtos. Com isso, a classe de baixa renda passa a ser a mais prejudicada pela evolução média dos preços. Já a classe média, que sofreu na pele os efeitos iniciais do Plano Real, deixa de ter o bolso pressionado pelos serviços.

Aluguel em baixa
Entre os benefícios que a classe média começa a ter, segundo o economista da Fipe, estão a queda nos preços dos aluguéis, das consultas médicas, das tarifas (inclusive as aéreas), dos serviços pessoais (cabeleireiro, alfaiate etc.) e até de matrículas e mensalidades escolares.
As classes mais pobres, que têm os cereais como importante componente da alimentação diária, estão sentindo mais a alta do feijão e, em menor escala, a do arroz.

Alta se mantém
Para Heron do Carmo, a pressão do feijão no IPC vai continuar nas próximas semanas, uma vez que as pesquisas de preços do início de maio indicam novas altas de preços (no atacado os preços do feijão carioquinha já subiram 246% neste ano). Nos supermercados paulistas, a alta alcança 99%, segundo o Datafolha (ver gráficos).
O custo da cesta básica, que já está em patamar recorde, vai continuar subindo, uma vez que a pesquisa abrange poucos produtos. O feijão é um deles e tem grande peso na composição média desse custo.
Nos últimos seis meses, a inflação média de São Paulo foi de 1,58%, segundo a Fipe. Nesse mesmo período, os alimentos subiram 4,15%. Em 98, para uma inflação média de 0,46%, a alta dos alimentos é de 2,51%.
Essa discrepância não preocupa tanto o economista, em termos de taxa geral, porque outros setores devem neutralizar o aumento dos alimentos.

Outros itens
Os custos com habitação, por exemplo, estão em queda, tendência que deve ser mantida nos próximos meses.
A pressão dos alimentos é também neutralizada pela queda de preços no item de despesas pessoais (cigarros, bebidas e recreação) dos paulistanos. A queda acumulada no ano é de 2,32%.
A grande pressão dos preços em São Paulo no mês passado veio de vestuário, devido ao fim de liquidações de verão e chegada nas lojas da coleção outono-inverno. A alta em abril foi de 6,59%, mas neste ano o setor acumula queda de 4,71%.
O economista da Fipe diz ainda que a economia desaquecida como está não deve permitir aumentos em serviços e produtos industrializados.



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