São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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ÁSIA
Mercado de Nova York cai 1% devido ao receio de que a turbulência dos mercados afete economia dos EUA
Crise na Indonésia volta a derrubar Bolsas

MARCIO AITH
de Tóquio

Saques e quebra-quebrasnas maiores cidades indonésias contribuíram ontem para derrubar as principais Bolsas de Valores asiáticas.
A crise na região também repercutiu na Bolsa de Nova York (EUA). O receio de que a economia do país diminua seu ritmo de crescimento em virtude dos problemas na Ásia levou ontem o índice Dow Jones, que reúne as principais ações, a cair 1,02%.
O mercado acionário norte-americano foi influenciado ontem pelo consenso de que pode ocorrer uma nova turbulência nas Bolsas asiáticas, como no ano passado, o que afetaria os EUA.
Na Indonésia, foi o segundo dia de protestos contra os aumentos dos preços de combustíveis e das tarifas de transporte público determinados pelo governo indonésio em cumprimento ao acordo firmado com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em troca de ajuda financeira que supera os US$ 40 bilhões.
Nas principais cidades do país -Jacarta, a capital, Surubaya, Medan e Jobjacarta, entre outras- policiais reprimiram com cassetetes, tiros, bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água multidões que saquearam lojas e colocaram fogo em carros.
Uma pessoa teria morrido em Medan, segundo jornais da região, por não ter conseguido escapar de uma loja em chamas.
As cenas dos distúrbios foram transmitidas pela TV para os países da região. A reação dos investidores foi imediata.
Japão
O principal índice da Bolsa de Valores de Tóquio (o Nikkei 225) caiu 2,05%, para 15.243,84 pontos. Foi o menor índice registrado no mercado acionário japonês desde 14 de janeiro passado. A Bolsa japonesa, a principal da Ásia, havia reiniciado negociações ontem depois de um feriado prolongado.
O Japão tem US$ 40 bilhões em investimentos diretos e US$ 23 bilhões em empréstimos a descoberto a instituições financeiras e empresas indonésias. As ações de bancos japoneses foram as que mais caíram ontem.
O mercado japonês também foi afetado por declarações pessimistas, em Washington, do secretário-geral do Partido Liberal-Democrata japonês, Koichi Kato.
Segundo Kato, há poucas chances de o governo japonês transformar em permanente a redução de impostos contida no último pacote econômico do país, divulgado em abril.
Kato disse ainda que mais bancos japoneses poderão quebrar nos próximos meses, em função de empréstimos podres direcionados ao mercado especulativo nos últimos anos.
Vizinhos
As ações caíram 3,24% na Bolsa da Malásia, 2,21% na da Coréia do Sul, 1,38% na da Tailândia e 0,83% na de Hong Kong.
Na Malásia, aumenta o temor de que, com os distúrbios na região, mais imigrantes ilegais indonésios fujam para o país.
Pelo menos oito deles, fugindo da deportação, morreram em choques com a polícia da Malásia em março.
Desde o início da crise econômica asiática, cerca de 50 mil indonésios fugiram para a Malásia em barcos e botes à procura de empregos. Com os distúrbios, espera-se que o número aumente ainda mais.
Também repercutiu no mercado um informe acadêmico elaborado pelo economista-chefe do banco central da China. Ele diz no documento que aumentariam as pressões para que o país desvalorizasse o yuan, a moeda local, para manter a competitividade dos produtos chineses.
Na Indonésia, com o aumento do preços das tarifas públicas e a extinção de um monopólio controlado pelo filho do presidente indonésio, Suharto, o país parece estar cumprindo à risca o programa de ajuste formulado pelo FMI.
Ainda não há solução, no entanto, para a dívida privada do país, de cerca de US$ 70 bilhões. Bancos internacionais e instituições indonésias já realizaram em vão rodadas de negociações na Indonésia e nos Estados Unidos. Amanhã, iniciam uma nova tentativa em Tóquio.
Ontem, o ministro da Economia do Japão, Hikaru Matsunaga, afirmou que o país entregará em breve uma ajuda emergencial de US$ 2 bilhões para que a Indonésia possa enfrentar a crise econômica. Os recursos integram o pacote de US$ 5 bilhões que o Japão já havia prometido ao país.
Na segunda-feira, o governo da Indonésia já havia anunciado que o país receberá US$ 7 bilhões nos próximos três meses.
Prabhakar Narvekar, agente do FMI na Indonésia, encontrou-se pessoalmente com o presidente Suharto, no começo da semana, para informá-lo que o fundo irá liberar ainda neste mês US$ 1 bilhão para fortalecer a balança de pagamentos do país.
O ministério das Finanças também divulgou no começo da semana que as reservas da Indonésia estarão plenamente fortalecidas até julho, como consequência do reatamento das relações do país com a comunidade internacional.


com agências internacionais


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