São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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INVESTIMENTOS
Evento reúne 300 empresários japoneses e brasileiros para discutir oportunidades de negócios no país
Brasil quer atrair capital privado japonês

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

Se depender da vontade das indústrias e do governo brasileiro, o Brasil poderia tornar-se uma alternativa para os investimentos japoneses em tempos de crise econômica no Sudeste Asiático.
Com essa proposta de "vender" o país para investidores estrangeiros, cerca de 300 empresários brasileiros e japoneses abriram ontem em São Paulo um seminário sobre as oportunidades de negócios existentes hoje no Brasil.
O evento, organizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e pelo Keidanren, entidade equivalente do Japão, contou com a participação do ministro da Fazenda brasileiro, Pedro Malan, e será encerrado hoje.
O ministro brasileiro garantiu aos empresários japoneses que o processo de privatização terá continuidade e que não haverá desvalorização cambial.
Malan reafirmou que a inflação em 98 deverá ficar entre 3% e 4% e tentou mostrar aos empresários que os números da economia brasileira estão melhorando.
"O déficit comercial de 98 será inferior ao do ano passado, assim como o déficit em conta corrente", declarou. Na sua opinião, o país deverá receber, no mínimo, US$ 17 bilhões em investimentos diretos neste ano.
"Queremos ver de que forma está ocorrendo a privatização e temos intenção de investir no Brasil", disse o chefe da delegação japonesa, Minoru Murofushi, que também é dirigente do Keidanren e presidente do grupo Itochu.
De acordo com uma sondagem informal realizada com os representantes das empresas japonesas que participam do evento, a maioria dos empresários acredita que a economia brasileira vai continuar propícia a investimentos.
"Com a crise asiática, aprendemos que precisamos diversificar os investimentos", afirmou Masatake Kusamichi, presidente da Nissho Iwai Corporation.
No entanto, ressaltou o executivo, as empresas japonesas somente investirão no Brasil nas atividades que dêem retorno a longo prazo. "Não vamos entrar no boom e depois sair", disse.
Os investimentos diretos feitos por empresas japonesas no Brasil, mais direcionados à construção de fábricas, especialmente no setor automotivo, perderam espaço.
Segundo os empresários japoneses, nos últimos anos houve uma preferência por investir no próprio Sudeste Asiático.
Em 1990, do total de investimentos estrangeiros diretos no país, o Japão respondia por 9,3%. Em 1995, a participação era de 7,7%.
Ainda assim, o Japão é o quarto maior investidor estrangeiro no país.
De acordo com o presidente da CNI, Fernando Bezerra, os setores que mais interessam aos japoneses são o automotivo, incluindo autopeças, mineração, siderúrgico, telecomunicações, eletroeletrônicos e agropecuária.
A tendência, agora, é que os investimentos japoneses no Brasil, se efetivados, se dirijam para o setor de infra-estrutura.
Os japoneses são superavitários no comércio com o Brasil e impõem uma série de barreiras não-tarifárias contra a entrada de alguns produtos brasileiros.
Segundo a CNI, existem barreiras contra as importações de álcool etílico, arroz, carnes, couros, calçados, fumo, frutas, vegetais e pescado.
No ano passado, o Brasil teve um déficit comercial com o Japão de US$ 531 milhões. Em 1990, início da abertura comercial brasileira, o país tinha um superávit de US$ 1,1 bilhão com os japoneses.



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