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CONJUNTURA
Apesar dos últimos avanços, há risco de relaxamento pelo governo, afirma o presidente do banco central dos EUA
Brasil ainda tem problemas, diz Greenspan
MARCIO AITH
de Washington
O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), Alan Greenspan, disse ontem que a situação fiscal brasileira
ainda é um problema e que, apesar
dos avanços recentes, existe o risco
de o governo do Brasil relaxar seu
rigor no ajuste da economia do
país.
Falando a uma platéia de banqueiros e de economistas em Chicago, Greenspan disse que o governo brasileiro conseguiu evitar uma
"explosão" depois do início da crise cambial, em janeiro, mas que "a
estrutura fiscal do país ainda permanece um problema". Segundo
ele, "as próprias autoridades brasileiras a definem como um problema".
Greenspan elogiou os esforços
feitos pelos governos da América
Latina para conter o contágio da
crise brasileira. "Porém, existe,
tanto para o Brasil quanto para os
outros países, o risco de um afrouxamento na disciplina que tem
lhes servido bem."
A ressalva do presidente do Fed
sobre o Brasil foi branda perto das
que descreveu sobre a economia
dos EUA. Elas derrubaram ontem
o índice Dow Jones e aumentaram
a procura por títulos do Tesouro
norte-americano (que rendem
muito menos do que as ações, mas
garantem segurança para os investidores).
Greenspan disse que existem sérios desequilíbrios na expansão recorde da economia norte-americana. "A menos que sejam administrados, esses desequilíbrios trarão
um fim a essa longa trajetória de
crescimento forte e de baixa inflação."
Pleno emprego
A economia dos EUA cresce
ininterruptamente desde 1991. Nos
últimos dois anos, a taxa de crescimento médio anual do país ficou
em 3,9%, a maior entre os países
considerados altamente industrializados.
Segundo o presidente do Fed, o
maior problema da economia dos
EUA é o limite a que chegou seu
mercado de trabalho. Empresas
em todos os setores demoram até
um ano para conseguir empregados.
O desemprego nos EUA está em
4,2%, o menor nível dos últimos 20
anos. Com base nesse índice, os
economistas consideram que existe pleno emprego no país.
"Num determinado ponto, as
condições do mercado de trabalho
podem se tornar tão apertadas que
o aumento nos salários começará a
superar os ganhos de produtividade. Aí, os preços inevitavelmente
começarão a subir", disse Greenspan.
O presidente do Fed disse que os
ganhos de produtividade nas fábricas dos EUA e a queda mundial
nos preços de commodities evitaram que os salários cada vez mais
altos provocassem aumentos significativos nas taxas de inflação.
No entanto, sugeriu que esses ganhos de produtividade podem não
aumentar no mesmo ritmo daqui
para a frente e lembrou o risco adicional causado pela recuperação
recente nos preços das commodities.
Em 1997, comentando a ascensão
vertiginosa do índice Dow Jones,
Greenspan disse que a economia
norte-americana exibia uma "exuberância irracional". Apesar do
impacto da declaração, a euforia
aumentou ainda mais desde então.
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