São Paulo, Sexta-feira, 07 de Maio de 1999
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CONJUNTURA
Apesar dos últimos avanços, há risco de relaxamento pelo governo, afirma o presidente do banco central dos EUA
Brasil ainda tem problemas, diz Greenspan

MARCIO AITH
de Washington

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), Alan Greenspan, disse ontem que a situação fiscal brasileira ainda é um problema e que, apesar dos avanços recentes, existe o risco de o governo do Brasil relaxar seu rigor no ajuste da economia do país.
Falando a uma platéia de banqueiros e de economistas em Chicago, Greenspan disse que o governo brasileiro conseguiu evitar uma "explosão" depois do início da crise cambial, em janeiro, mas que "a estrutura fiscal do país ainda permanece um problema". Segundo ele, "as próprias autoridades brasileiras a definem como um problema".
Greenspan elogiou os esforços feitos pelos governos da América Latina para conter o contágio da crise brasileira. "Porém, existe, tanto para o Brasil quanto para os outros países, o risco de um afrouxamento na disciplina que tem lhes servido bem."
A ressalva do presidente do Fed sobre o Brasil foi branda perto das que descreveu sobre a economia dos EUA. Elas derrubaram ontem o índice Dow Jones e aumentaram a procura por títulos do Tesouro norte-americano (que rendem muito menos do que as ações, mas garantem segurança para os investidores).
Greenspan disse que existem sérios desequilíbrios na expansão recorde da economia norte-americana. "A menos que sejam administrados, esses desequilíbrios trarão um fim a essa longa trajetória de crescimento forte e de baixa inflação."

Pleno emprego
A economia dos EUA cresce ininterruptamente desde 1991. Nos últimos dois anos, a taxa de crescimento médio anual do país ficou em 3,9%, a maior entre os países considerados altamente industrializados.
Segundo o presidente do Fed, o maior problema da economia dos EUA é o limite a que chegou seu mercado de trabalho. Empresas em todos os setores demoram até um ano para conseguir empregados.
O desemprego nos EUA está em 4,2%, o menor nível dos últimos 20 anos. Com base nesse índice, os economistas consideram que existe pleno emprego no país.
"Num determinado ponto, as condições do mercado de trabalho podem se tornar tão apertadas que o aumento nos salários começará a superar os ganhos de produtividade. Aí, os preços inevitavelmente começarão a subir", disse Greenspan.
O presidente do Fed disse que os ganhos de produtividade nas fábricas dos EUA e a queda mundial nos preços de commodities evitaram que os salários cada vez mais altos provocassem aumentos significativos nas taxas de inflação.
No entanto, sugeriu que esses ganhos de produtividade podem não aumentar no mesmo ritmo daqui para a frente e lembrou o risco adicional causado pela recuperação recente nos preços das commodities.
Em 1997, comentando a ascensão vertiginosa do índice Dow Jones, Greenspan disse que a economia norte-americana exibia uma "exuberância irracional". Apesar do impacto da declaração, a euforia aumentou ainda mais desde então.


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