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OPINIÃO ECONÔMICA
Globalização, petróleo e emprego
ELOI FERNÁNDEZ Y FERNÁNDEZ E
ERNANI T. TORRES FILHO
Muita gente , em todo o
mundo, acredita que a globalização leva necessariamente ao
desemprego. Basta ver os protestos de rua que paralisaram as últimas reuniões do FMI e da OMC
nos Estados Unidos. Mas será que
essa tendência é inevitável? E no
Brasil, a situação poderia ser diferente?
Ainda é cedo para ter uma resposta definitiva para essas perguntas. O risco de perder empregos com a abertura de mercados
em um ambiente globalizado
existe e não deve ser desprezado.
Competitividade, no entanto, não
é uma questão apenas industrial
nem se limita ao curto prazo. Depende também -e muito- de
aspectos institucionais e de políticas macroeconômicas (câmbio,
impostos e comércio exterior).
Além disso, é algo que pode ser
adquirido desde que existam estratégias nacionais, que articulem
adequadamente governo e setor
privado.
A experiência internacional revela que a abertura do setor petróleo pode viabilizar a geração local
de empregos, desde que os investimentos na exploração e produção sejam direcionados primordialmente para o mercado interno. Isso, no entanto, só é sustentável se a indústria nacional for ou
estiver em processo de ser competitiva. A história vem mostrando
que competitividade e emprego
na indústria do petróleo não são
resultado da "geração espontânea" nem da ação da "mão invisível do mercado", mas fruto do
trabalho organizado e sistemático
de uma rede nacional de atores
públicos e privados.
O Reino Unido e a Noruega são
exemplos bastante ilustrativos.
Quando abriram o mar do Norte
às empresas estrangeiras, as compras locais eram desprezíveis.
Atualmente, cerca de 60% dos investimentos em petróleo realizados na Noruega e 80% na Inglaterra geram empregos nesses países porque as empresas locais são
competitivas internacionalmente.
Com a globalização, um país que
quer absorver investimentos em
petróleo precisa apresentar custos
competitivos. Caso contrário, os
investidores buscarão outras
oportunidades ou irão gerar emprego em outro lugar.
A experiência brasileira de abertura do setor petróleo ainda é recente. Mesmo assim, a licitação de
áreas de exploração pela ANP e as
parcerias da Petrobras já atraíram
um número expressivo de empresas estrangeiras, às quais espera-se que rapidamente venham se
unir capitais brasileiros. Esse processo vem sendo conduzido tendo-se em mente tanto as perspectivas de aumento da produção de
petróleo e gás quanto dos empregos locais. Não se trata de um sonho. A indústria brasileira está
hoje em um estágio mais avançado que as da Inglaterra e da Noruega no início do mar do Norte.
É maior, mais avançada e mais experiente no atendimento local, o
que constitui uma vantagem
competitiva razoável.
Para induzir as empresas estrangeiras a comprar no Brasil, o
governo vem adotando várias
medidas. A ANP incluiu em seus
Contratos de Concessão cláusulas
importantes a ser observadas pelos concessionários: a necessidade
de, em qualquer investimento, solicitar propostas de fornecimento
local; a garantia do direito de preferência a empresas brasileiras em
condições equivalentes às propostas de fornecedores estrangeiros; e garantir um percentual mínimo de compras locais, fixado
em cada proposta no processo da
licitação.
A Receita Federal, no intuito de
eliminar os impostos sobre investimentos no setor de petróleo,
vem aperfeiçoando o Regime Especial de Exportação e Importação (Repetro), voltado para a exploração e produção de petróleo e
gás no país. O BNDES criou o Programa de Apoio a Investimento
em Petróleo e Gás, que busca tornar mais atrativas as condições de
financiamento para projetos de
investimento que apresentem um
elevado índice de compras nacionais. A Petrobras, a principal investidora no setor no futuro próximo, vem colocando encomendas a fornecedores brasileiros.
Fora do ambiente de governo,
há que destacar o papel da Organização Nacional da Indústria do
Petróleo (Onip), organização privada que tem por objetivo promover a indústria brasileira fornecedora de bens e serviços para o
setor de petróleo. Além de importante fórum de negociação e debates entre atores públicos e privados, a Onip busca aproximar
compradores e vendedores por
meio de mecanismo criativos, como seu Cadastro de Fornecedores
Nacionais, que permitirá a empresas estrangeiras, ainda sem experiência no mercado brasileiro,
identificar de forma rápida, segura e de baixo custo potenciais fornecedores nacionais.
A despeito dos passos que já foram dados, os fornecedores nacionais ainda não dispõem de
condições totalmente satisfatórias
para competir no mercado nacional. Nossas empresas continuam
sujeitas a entraves fiscais, creditícios e burocráticos gravosos, que,
por incrível que possa parecer,
não são aplicáveis aos bens e serviços estrangeiros. É esse forte
viés a favor das importações que
precisa ser eliminado o mais rápido possível.
A experiência internacional
mostra que, no caso do setor petróleo, é possível promover um ciclo virtuoso de emprego com a
abertura de mercado. Para tanto é
preciso que a sociedade e as instituições dos governos locais atuem
de forma organizada e coerente
com esse objetivo. Com a globalização, não há mais soluções fáceis.
Eloi Fernández Y Fernández, 51, é diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e professor do Departamento de
Engenharia Mecânica da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica).
Ernani T. Torres Filho, 44, economista,
é assessor especial da ANP (Agencia Nacional de Petróleo) e professor do Departamento de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
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