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FINANÇAS
Saques em renda fixa e DI superaram em R$ 6 bilhões os depósitos do ano; só em abril, esse saldo foi de R$ 2 bilhões
Sangria em fundo DI começou em fevereiro
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
As perdas amargadas pelos fundos de investimento fizeram parte
dos investidores optar pela migração para outros tipos de aplicação, mas a sangria nos fundos DI e de renda fixa começou em fevereiro deste ano. Desde aquele mês, as captações desses dois tipos de fundos estão negativas. No
ano, a saída líquida de recursos já
chega a R$ 6 bilhões.
Em maio a captação líquida (a
diferença entre os depósitos e os
saques) nos fundos DI foi negativa em R$ 1,4 bilhão. E esse não foi
o pior desempenho do ano. Os
fundos DI já haviam perdido R$ 2
bilhões em abril e R$ 1,5 bilhão
em fevereiro, segundo as estimativas da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
A Thomson Financial, que publica mensalmente um estudo sobre a indústria de fundos na América Latina, também detecta a
mesma tendência. Henrique Garcia Spinoza Netto, da Thomson,
lembra que já em março alguns
fundos começaram a fazer ajustes, o que pode ter incentivado
parte dos investidores a migrar
para outros tipos de aplicação.
Mas Spinoza Netto afirma também que, desde fevereiro, a sangria dos fundos foi aumentada
pelos saques dos fundos de pensão, que começaram a se preparar
para pagar Imposto de Renda.
Em abril, quando parte dos fundos já havia ajustado as carteiras à
nova norma do Banco Central,
que os obriga a contabilizar o valor dos títulos públicos pelo preço
que são negociados no mercado,
os saques se aceleraram. "A volatilidade nos fundos começou em
março e abril. O que já abalava
um pouco a imagem de que eram
fundos completamente seguros",
afirma Spinoza Netto.
Ele avalia que o dinheiro sacado
dos fundos naqueles meses continua no mercado brasileiro. "Não
houve pressão forte na cotação do
dólar em abril, o dinheiro ficou no
mercado interno", diz.
Para Spinoza Netto, apesar de o
abalo provocado pelas perdas dos
últimos dias, os fundos continuarão sendo o que ele chama de
"porto seguro" para os investidores. "A administração das carteiras é competente. É uma indústria
de fundos enorme e está apenas se
ajustando a novas regras", afirma.
A avaliação do economista-chefe do BBV, Octávio de Barros,
também é otimista. Ele afirma
que, se a perda de confiança dos
grandes investidores nos fundos
tivesse realmente ocorrido, o volume de saques teria sido muito
maior do que o registrado.
O economista Heron do Carmo,
da Fipe, faz uma análise mais crítica. Ele diz que os investidores
não devem perder a confiança
nos fundos de investimento. No
entanto, afirma que eles devem
sacar seus recursos caso percebam que o gestor do fundo foi irresponsável.
Na avaliação do economista da
Fipe, as perdas ocorreram por
uma "barbeiragem do mercado",
porque os fundos deveriam fazer
uma curva suave de ajuste, seguindo as recomendações do
Banco Central.
Ao contrário da maioria dos
analistas, que culpam o BC pelas
perdas, Heron do Carmo diz que
o BC agiu certo porque "a encrenca seria ainda maior em setembro" se ele não tivesse antecipado
o prazo para a marcação a mercado para o final de maio. Ele diz, no
entanto, que o BC também teve
culpa nessa demora porque está
mantendo a taxa básica de juros
em patamares elevados desnecessariamente.
(MB, EF e MZ)
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