São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINANÇAS

Saques em renda fixa e DI superaram em R$ 6 bilhões os depósitos do ano; só em abril, esse saldo foi de R$ 2 bilhões

Sangria em fundo DI começou em fevereiro

DA REPORTAGEM LOCAL

DA REDAÇÃO

As perdas amargadas pelos fundos de investimento fizeram parte dos investidores optar pela migração para outros tipos de aplicação, mas a sangria nos fundos DI e de renda fixa começou em fevereiro deste ano. Desde aquele mês, as captações desses dois tipos de fundos estão negativas. No ano, a saída líquida de recursos já chega a R$ 6 bilhões.
Em maio a captação líquida (a diferença entre os depósitos e os saques) nos fundos DI foi negativa em R$ 1,4 bilhão. E esse não foi o pior desempenho do ano. Os fundos DI já haviam perdido R$ 2 bilhões em abril e R$ 1,5 bilhão em fevereiro, segundo as estimativas da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
A Thomson Financial, que publica mensalmente um estudo sobre a indústria de fundos na América Latina, também detecta a mesma tendência. Henrique Garcia Spinoza Netto, da Thomson, lembra que já em março alguns fundos começaram a fazer ajustes, o que pode ter incentivado parte dos investidores a migrar para outros tipos de aplicação.
Mas Spinoza Netto afirma também que, desde fevereiro, a sangria dos fundos foi aumentada pelos saques dos fundos de pensão, que começaram a se preparar para pagar Imposto de Renda.
Em abril, quando parte dos fundos já havia ajustado as carteiras à nova norma do Banco Central, que os obriga a contabilizar o valor dos títulos públicos pelo preço que são negociados no mercado, os saques se aceleraram. "A volatilidade nos fundos começou em março e abril. O que já abalava um pouco a imagem de que eram fundos completamente seguros", afirma Spinoza Netto.
Ele avalia que o dinheiro sacado dos fundos naqueles meses continua no mercado brasileiro. "Não houve pressão forte na cotação do dólar em abril, o dinheiro ficou no mercado interno", diz.
Para Spinoza Netto, apesar de o abalo provocado pelas perdas dos últimos dias, os fundos continuarão sendo o que ele chama de "porto seguro" para os investidores. "A administração das carteiras é competente. É uma indústria de fundos enorme e está apenas se ajustando a novas regras", afirma.
A avaliação do economista-chefe do BBV, Octávio de Barros, também é otimista. Ele afirma que, se a perda de confiança dos grandes investidores nos fundos tivesse realmente ocorrido, o volume de saques teria sido muito maior do que o registrado.
O economista Heron do Carmo, da Fipe, faz uma análise mais crítica. Ele diz que os investidores não devem perder a confiança nos fundos de investimento. No entanto, afirma que eles devem sacar seus recursos caso percebam que o gestor do fundo foi irresponsável.
Na avaliação do economista da Fipe, as perdas ocorreram por uma "barbeiragem do mercado", porque os fundos deveriam fazer uma curva suave de ajuste, seguindo as recomendações do Banco Central.
Ao contrário da maioria dos analistas, que culpam o BC pelas perdas, Heron do Carmo diz que o BC agiu certo porque "a encrenca seria ainda maior em setembro" se ele não tivesse antecipado o prazo para a marcação a mercado para o final de maio. Ele diz, no entanto, que o BC também teve culpa nessa demora porque está mantendo a taxa básica de juros em patamares elevados desnecessariamente.
(MB, EF e MZ)


Texto Anterior: Prefeitura de BH perde R$ 1,3 mi e vai à Justiça
Próximo Texto: Governo tem de rolar R$ 17,6 bi em junho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.