UOL


São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TURISMO FINANCEIRO

Projeto contará a história do endividamento do país, que começou na guerra contra o Brasil em 1824

Dívida argentina vai virar tema de museu

Luis Lovecchio/Folha Imagem
Simón Pristupin, do Departamento de Economia da Universidade de Buenos Aires, exibe títulos


ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A dívida argentina vai virar tema de museu. Um projeto da Faculdade de Economia da UBA (Universidade de Buenos Aires) transformou a história do endividamento do país no Museu da Dívida, espaço que deve ser inaugurado em outubro, em Buenos Aires, e que será o primeiro no mundo a tratar especificamente deste assunto.
A idéia foi do engenheiro Simón Pristupin, professor do Departamento de Economia da UBA. "Senti que a universidade precisava interagir com a comunidade e explicar às pessoas o que é esse monstro da dívida", afirmou.
A Argentina tem hoje uma dívida externa avaliada em cerca de US$ 190 bilhões, dos quais quase 50% estão em moratória.
No museu, os visitantes poderão conhecer qual foi a trajetória desses empréstimos e de todos os outros contraídos pelo país no passado. Em exposição, estarão cópias e exemplares de títulos emitidos desde o século 19, além de roteiros ilustrativos para explicar a evolução da dívida e os motivos políticos que levaram ao endividamento.

Missão didática
No começo, o espaço funcionará dentro da universidade e tratará apenas da dívida argentina. A intenção é, no futuro, transformá-lo numa mostra itinerante que conte também a história de outros países, entre eles o Brasil.
"Queremos permitir que pessoas de outras cidades e nações tenham acesso ao museu", explicou Pristupin. "A maioria dos países da América Latina tem ou já teve problemas sérios com endividamento", afirmou.
A UBA está treinando estudantes de economia que trabalharão como guias. "O computador tem sempre a mesma resposta para a mesma pergunta. O ser humano pode adaptá-la para facilitar o entendimento de qualquer pessoa", afirmou Baltazar Ojea, estudante que trabalha no projeto.
Ojea explica que a proposta prevê ainda a elaboração de peças de teatro, vídeos e criação de objetos interativos que facilitem o entendimento. Para isso, o museu recrutou ainda voluntários dentro das faculdades de artes, comunicação e arquitetura.

Guerra contra o Brasil
A primeira dívida argentina foi contraída em 1824 para financiar a guerra contra o Brasil pelo controle da Província Cisplatina (Uruguai).
Também foi no século 19 que a Argentina decretou a sua primeira moratória, que quase levou à falência o banco Baring, principal financiador do governo argentino na época. Após várias negociações, a dívida foi considerada anulada pelos britânicos.
Com isso, o país iniciou o século 20 com baixo endividamento. A situação voltou a se agravar durante o governo militar (1976-1983), período em que a dívida cresceu mais de 360%. Entra nessa conta, os gastos contraídos para financiar a Guerra das Malvinas, em 1982, quando a Argentina tentou retomar o controle das ilhas, em poder do Reino Unido desde 1833.
Depois vieram os dez anos do governo de Carlos Menem (1989-1999), que ampliaram ainda mais o endividamento. Alguns economistas culpam Menem e o seu ministro da Economia Domingo Cavallo pela atual crise. No governo do ex-presidente, a dívida argentina aumentou 123%.
Em dezembro de 2001, após uma troca sucessiva de presidentes -ao todo foram cinco- a Argentina decretou a moratória da dívida externa.
O atual governo pretende retomar as negociações com credores em setembro e, assim, reestruturar os cerca de US$ 70 bilhões em bônus que estão em moratória.


Texto Anterior: FOLHA INVEST - Mercado: Wall Street reavalia sua cultura machista
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.