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Vizinho não descarta novas medidas
ANDRÉ SOLIANI
CLÁUDIA DIANNI
ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO IGUAZÚ
Um dia depois de impor barreiras comerciais à entrada de produtos brasileiros de linha branca,
o secretário de Comércio da Argentina, Martín Redrado, deixou
claro que seu país poderá adotar
medidas similares para outros setores, caso não haja acordo para
limitar as vendas brasileiras.
"Se não se chegar a um consenso sobre os mecanismos de ajuste
de emergência [para limitar importações]; se não houver acordos no comitê [acordos entre os
setores privados], o que fica claro
é que a Argentina continuará protegendo seus setores produtivos",
afirmou Redrado, ao fim do segundo dia de negociações da reunião de Cúpula do Mercosul.
Os setores brasileiros mais vulneráveis às pressões protecionistas, que o governo argentino confirmou que pode atender, são: telecomunicações, máquinas agrícolas, calçados, tecidos, carne de
porco e siderúrgicos.
O próximo embate entre os dois
países na arena comercial deve ser
no setor de produtos para telecomunicações. A Folha apurou que
a Argentina deverá incluir na sua
lista de exceção da TEC (Tarifa
Externa Comum) bens desse segmento. Na prática, isso significa
que o Brasil perderá a vantagem
de ser sócio do Mercosul, ao menos para esse tipo de comércio.
Os países do bloco não pagam
Imposto de Importação quando
vendem produtos entre si e possuem uma TEC aplicada a produtos de fora do bloco. Ao incluir os
bens de telecomunicações na lista
de exceção da TEC, os países de
fora do bloco venderão para a Argentina com tarifa zero também,
concorrendo com os brasileiros.
Em 2002, o então ministro de
Economia da Argentina, Domingo Cavallo, também adotou essa
medida, que foi suspensa depois
das reclamações feitas pelo Brasil.
Justificativa
O subsecretário de Integração
da Argentina, Eduardo Sigal, ao
justificar a medida contra a importação de máquinas de lavar e
refrigeradores do Brasil, afirmou
que os negociadores argentinos
avisaram os brasileiros, nas últimas semanas, das pressões do setor privado. "Dissemos que as indústrias reclamavam e que, se não
houvesse um acordo privado, teríamos de adotar medidas."
As pressões protecionistas da
indústria argentina ganharam
força com o aumento do superávit comercial brasileiro. Desde
1995, a Argentina mantinha um
saldo favorável com o Brasil. Há
13 meses, a trajetória se inverteu.
Redrado confirmou que a Argentina fez uma proposta formal
ao Mercosul para a criação de um
mecanismo automático de proteção comercial, que seria ativado
quando houvesse um desequilíbrio na balança comercial entre os
dois países.
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