|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aposentado tira 210% mais do FGTS
Aumento nas retiradas segue decisão que permite saque a quem se aposentou, mas continua na ativa
Decisão do STF, em vigor desde abril, eleva volume de saques para R$ 3,8 bilhões, em um total de 548,9 mil operações no ano
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os saques feitos por aposentados nas contas do FGTS
(Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço) subiram 210% no
primeiro semestre deste ano
quando comparados ao primeiro semestre de 2006 e afetaram
negativamente as contas do
fundo nesse período.
O número de saques também
subiu bastante: 73% em relação
ao primeiro semestre de 2006,
segundo dados da Caixa Econômica Federal.
A explicação para essa aparente explosão é a decisão do
STF (Supremo Tribunal Federal), vigorando desde abril, que
definiu que a aposentadoria
não acaba obrigatoriamente
com o vínculo empregatício entre a empresa e o trabalhador.
Assim, quem recebe benefícios da Previdência Social mas
continua na mesma companhia
onde trabalhava quando solicitou a aposentadoria pode sacar
o saldo existente na conta vinculada do FGTS, assim como o
valor depositado mensalmente
pelo empregador.
Até o julgamento do STF, a
aposentadoria era interpretada
como um pedido de demissão
do trabalhador. Se fosse continuar empregado no mesmo local, teria que ser recontratado e
uma nova conta do FGTS seria
aberta. O trabalhador podia sacar o saldo depositado no fundo, mas não os depósitos.
Além disso, não havia o pagamento da multa de 40% cobrada em casos de demissão sem
justa causa. A partir de agora,
como o trabalhador continuará
na empresa mesmo aposentado, receberá a multa se for demitido e o valor será obrigatoriamente calculado sobre todo
os anos trabalhados.
"A regra anterior estimulava
o trabalhador a adiar a aposentadoria porque o salário na ativa poderia ser maior e também
porque havia uma esperança de
ser demitido e receber a multa.
O que aconteceu agora é que os
pedidos de aposentadoria que
estavam represados estão sendo feitos", explica Mário Avelino, presidente do IFF (Instituto FGTS Fácil), uma ONG especializada em informações sobre
o FGTS.
Entre janeiro e junho do ano
passado, a Caixa Econômica
Federal liberou R$ 1,2 bilhão a
trabalhadores aposentados que
requisitaram saques do FGTS.
Neste ano, o valor chegou a R$
3,8 bilhões. Já o total de retiradas feitas saltou de 314.113 nos
primeiros seis meses do ano
passado para 548.901 saques
neste ano.
O impacto da decisão do STF
sobre as contas do FGTS foi claramente sentido nos meses de
abril e maio, principalmente.
Nos primeiros três meses do
ano, a arrecadação líquida do
fundo, que leva em conta as
contribuições e os saques feitos, foi sempre positiva.
Em abril, quando os saques
por aposentadorias alcançaram
o pico -R$ 1,4 bilhão para 145
mil saques-, a diferença entre
pagamentos e receitas do FGTS
foi de R$ 677 milhões. O resultado negativo se repetiu em
maio mas, em junho, o fundo já
havia voltado a operar no azul.
O governo, responsável pela
administração do FGTS, estima que em cerca de seis meses
o número de saques e os valores
pagos retornem aos padrões do
início do ano.
"Não há nenhum impacto de
longo prazo sobre a saúde econômica e financeira do FGTS.
Esse é um efeito pontual e sazonal. Com o tempo, as pessoas
com idade de se aposentar terão feito seus pedidos de saque
e voltaremos à normalidade",
diz o secretário-executivo do
Conselho Curador do FGTS,
Paulo Furtado.
Ele lembra que houve um
movimento semelhante de
mais saques, embora em magnitude muito maior, em 1997,
quando foi feita a primeira reforma da Previdência. Na época, a arrecadação líquida do
FGTS foi negativa em R$ 703,5
milhões.
Texto Anterior: SP terá a maior fatia da verba extra de alívio fiscal Próximo Texto: Frase Índice
|