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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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VIZINHO ÀS ESCURAS

Concessionária Edesur alega problema técnico; Kirchner "espera" que não seja pressão por reajuste

Argentina tem apagão e governo vê locaute

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

A cidade de Buenos Aires, na Argentina, enfrentou um apagão de meia hora ontem. O problema foi provocado, segundo a empresa responsável pelo fornecimento de energia, a Edesur, por problemas técnicos em duas de suas transmissoras. Mas a justificativa não convenceu o governo, que prometeu investigar o motivo do corte de energia.
O apagão ocorreu pela manhã e durou cerca de 35 minutos. Ao menos 400 mil ficaram sem luz.
A falta de energia paralisou ainda o funcionamento de três linhas de metrô que ligam o centro da cidade aos bairros mais distantes e muitas pessoas chegaram tarde ao trabalho. O corte também provocou caos no trânsito. Cerca de 600 semáforos deixaram de funcionar, alguns em avenidas de grande movimento da Grande Buenos Aires.
Em declarações à imprensa, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou ter ficado "preocupado" com o apagão repentino. "Espero que os cortes não sejam algum mecanismo de pressão que esses grupos estão acostumados a usar", disse, ao atacar os empresários do setor privado que administram serviços públicos no país.
Kirchner teme que as empresas estejam usando o corte no fornecimento como forma de fazer pressão para que o governo reajuste as tarifas públicas, congeladas desde janeiro de 2002, quando acabou a paridade entre peso e dólar. Na época, o governo temia uma hiperinflação e optou pelo congelamento.

Dívida dobrada
As empresas alegam que suas dívidas -em grande parte contraídas em dólares- dobraram de tamanho após a depreciação. Algumas amargaram prejuízos nos últimos anos e afirmam que sem o reajuste ficará inviável fazer novos investimentos no país.
O governo rebate e diz que as companhias não cumpriram as metas de investimento e qualidade dos serviços conforme previam os contratos.
Kirchner diz que essas empresas precisam ter paciência e aguardar que a economia do país melhore para que, assim, possa haver reajuste de tarifas. Disse ainda que muitas dessas empresas "tiveram lucros estratosféricos na década de 90".

Investimentos
Recentemente, a Adeera (Associação das Distribuidoras de Energia Elétrica), que concentra as maiores empresas do setor, divulgou um alerta de que a paralisia dos investimentos em serviços básicos como o fornecimento de energia elétrica poderia provocar desabastecimento.
Segundo Cláudio Bulacio, analista de projetos e investimentos da Adeera, a crise econômica -que provocou uma retração de quase 20% na economia nos últimos quatro anos-, somada ao congelamento das tarifas, praticamente impossibilitou a realização de novos investimentos.
A Edesur foi uma das que mais cortaram gastos. Entre 1992 e 2001, a média anual de investimentos era de US$ 120 milhões. Caiu para US$ 25 milhões em 2002. Dados da Adeera mostram que, para acompanhar a demanda pelos serviços de energia, que cresce em média 3% ao ano, seriam necessários investimentos de US$ 1 bilhão anuais.


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