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VIZINHO ÀS ESCURAS
Concessionária Edesur alega problema técnico; Kirchner "espera" que não seja pressão por reajuste
Argentina tem apagão e governo vê locaute
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A cidade de Buenos Aires, na
Argentina, enfrentou um apagão
de meia hora ontem. O problema
foi provocado, segundo a empresa responsável pelo fornecimento
de energia, a Edesur, por problemas técnicos em duas de suas
transmissoras. Mas a justificativa
não convenceu o governo, que
prometeu investigar o motivo do
corte de energia.
O apagão ocorreu pela manhã e
durou cerca de 35 minutos. Ao
menos 400 mil ficaram sem luz.
A falta de energia paralisou ainda o funcionamento de três linhas
de metrô que ligam o centro da cidade aos bairros mais distantes e
muitas pessoas chegaram tarde
ao trabalho. O corte também provocou caos no trânsito. Cerca de
600 semáforos deixaram de funcionar, alguns em avenidas de
grande movimento da Grande
Buenos Aires.
Em declarações à imprensa, o
presidente da Argentina, Néstor
Kirchner, afirmou ter ficado
"preocupado" com o apagão repentino. "Espero que os cortes
não sejam algum mecanismo de
pressão que esses grupos estão
acostumados a usar", disse, ao
atacar os empresários do setor
privado que administram serviços públicos no país.
Kirchner teme que as empresas
estejam usando o corte no fornecimento como forma de fazer
pressão para que o governo reajuste as tarifas públicas, congeladas desde janeiro de 2002, quando
acabou a paridade entre peso e
dólar. Na época, o governo temia
uma hiperinflação e optou pelo
congelamento.
Dívida dobrada
As empresas alegam que suas
dívidas -em grande parte contraídas em dólares- dobraram
de tamanho após a depreciação.
Algumas amargaram prejuízos
nos últimos anos e afirmam que
sem o reajuste ficará inviável fazer
novos investimentos no país.
O governo rebate e diz que as
companhias não cumpriram as
metas de investimento e qualidade dos serviços conforme previam os contratos.
Kirchner diz que essas empresas precisam ter paciência e
aguardar que a economia do país
melhore para que, assim, possa
haver reajuste de tarifas. Disse
ainda que muitas dessas empresas "tiveram lucros estratosféricos
na década de 90".
Investimentos
Recentemente, a Adeera (Associação das Distribuidoras de
Energia Elétrica), que concentra
as maiores empresas do setor, divulgou um alerta de que a paralisia dos investimentos em serviços
básicos como o fornecimento de
energia elétrica poderia provocar
desabastecimento.
Segundo Cláudio Bulacio, analista de projetos e investimentos
da Adeera, a crise econômica
-que provocou uma retração de
quase 20% na economia nos últimos quatro anos-, somada ao
congelamento das tarifas, praticamente impossibilitou a realização
de novos investimentos.
A Edesur foi uma das que mais
cortaram gastos. Entre 1992 e
2001, a média anual de investimentos era de US$ 120 milhões.
Caiu para US$ 25 milhões em
2002. Dados da Adeera mostram
que, para acompanhar a demanda pelos serviços de energia, que
cresce em média 3% ao ano, seriam necessários investimentos
de US$ 1 bilhão anuais.
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