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ANÁLISE
Carga tributária cairá pouco
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Demorou , mas o governo reconheceu que a carga tributária atingiu um nível praticamente insuportável para as pessoas físicas e empresas. A prova
desse reconhecimento está em
um tópico da nota oficial "Governo lança medidas de desoneração
tributária", divulgada ontem pelo
Ministério da Fazenda.
Diz a nota: "A implementação
das medidas de desoneração tributária que estão sendo propostas, bem como de outras medidas
já adotadas, está sendo possibilitada pelo bom desempenho da arrecadação tributária. O custo das
medidas em 2004 será coberto pelo excesso de arrecadação e seu
impacto em 2005 será considerado quando da elaboração do projeto de lei orçamentária."
O bom desempenho: somente
no primeiro semestre deste ano a
Receita Federal arrecadou mais
8,81% em termos reais (já descontada a inflação) em relação ao
mesmo período de 2003. Foram
R$ 155,875 bilhões neste ano e R$
143,253 bilhões em 2003.
Assim, as medidas anunciadas
ontem terão reduzido impacto
sobre a carga tributária em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Como a redução neste ano ficará em apenas R$ 1,4 bilhão, segundo o governo, a carga tributária cairá apenas 0,08 ponto percentual em relação ao PIB.
O cálculo é do advogado Gilberto Luiz do Amaral, presidente do
IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), que projeta um PIB de R$ 1,75 trilhão para
este ano. Os R$ 3,05 bilhões previstos para um período de 12 meses diminuirão a carga tributária
em 0,17 ponto percentual.
Antes do pacote, o IBPT previa
que a carga fiscal deste ano cresceria dois pontos percentuais -dos
36,11% de 2003 para 38,11% (Cofins maior para as empresas; Cofins e PIS sobre as importações;
aumento do teto da contribuição
ao INSS em janeiro e em maio, entre outros fatores). Se for considerado o 0,08 ponto, a carga fiscal
diminuirá para 38,03% do PIB.
Embora elogie a medida, Amaral critica a tática usada pelo governo. Segundo ele, o IPI, cujo período de apuração passa de quinzenal para mensal, ajudará as empresas: haverá menos burocracia
(um cálculo só por mês) e sobrará
mais dinheiro em caixa durante
15 dias. Mas é um tributo que a
União divide com Estados e municípios. Ou seja, a perda é dividida entre os três níveis de governo.
No caso da CPMF (o imposto
do cheque) a tática é inversa. A
partir de outubro, quando entra
em vigor a isenção para a conta-investimento, as operações de
crédito via banco terão de ser liquidadas por meio de cheques.
As empresas, sempre que receberem cheques, terão de depositá-los, não podendo mais usá-los
para pagar outros clientes (tática
para evitar a tributação).
Resultado: todas essas operações terão de pagar a CPMF. O
montante, segundo Amaral, deve
chegar a R$ 3,2 bilhões no período
de um ano (resultado líquido, já
deduzido o efeito da isenção da
conta-investimento). Assim, somente com a taxação dessas operações pela CPMF, o governo ganhará mais do que está "retribuindo" com o pacote. E sem repartir o excesso de arrecadação.
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