São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2007

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Bovespa "descola" dos EUA durante crise

Até três semanas atrás, Bolsa caía mais no Brasil do que em NY; na semana passada, ela resistia ao pessimismo nos EUA

Ontem, Bolsa paulista passou dia em queda, mas fechou com pequena alta de 0,46%; cotação do dólar sobe 0,26%, para R$ 1,907

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das principais Bolsas entre os países emergentes, a Bovespa "descolou" seu desempenho do ritmo ditado pelos mercados americanos nas últimas três semanas, em meio à crise imobiliária nos EUA.
Até o acirramento da crise, sempre quando a Bolsa de Nova York tinha queda de 1% no índice Dow Jones, a Bovespa seguia a tendência com baixa maior, entre 1,5% e 2%. A razão era que o mercado americano oscila menos por ser maior, maduro, conservador e ter menos resgates dos fundos de pensão e de investimento.
Na semana passada, porém, a história mudou: a volatilidade da Bolsa de Nova York chegou a ser maior do que a da Bovespa. Enquanto a Bolsa de Nova York recuava 1,1% no índice Dow Jones, a Bovespa mantinha o "sangue frio" e caía 0,7%.
A explicação corrente era que a perspectiva para a economia brasileira seguia boa, enquanto a crise no setor imobiliário americano poderia restringir o crédito e acentuar a desaceleração na maior economia do mundo.
Mas ontem o conservadorismo imperou no mercado brasileiro. Enquanto a Bolsa de Nova York e a Nasdaq tinham forte recuperação, a Bovespa seguiu em baixa a maior parte do dia. Não fosse o bom desempenho das ações dos setores elétrico e petroquímico, a Bolsa paulista poderia ter fechado em baixa. No encerramento dos negócios, a Bovespa terminou com alta modesta de 0,46%, enquanto a Bolsa de Nova York subiu 2,18% no Dow Jones -a maior variação percentual desde junho de 2003. No mercado de câmbio, o dólar subiu 0,26% e fechou a R$ 1,907.
O conservadorismo ontem foi visto como uma oportunidade para corrigir o excesso de otimismo recente no mercado, como afirmou na quinta-feira o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
"Há um descolamento, sim, pois a economia brasileira é melhor do que a [média] global. Ainda temos boas notícias por vir, como a elevação de rating da [agência de risco] Moody's. Vemos uma correção que acontece em ritmo diferente dos mercados internacionais", disse Gilberto Pereira, gerente de renda variável da Liquidez.
"A queda [ontem] foi mais uma realização. Os fundamentos [da economia] do Brasil e dos EUA são diferentes, daí o descolamento. Sem falar que a crise hoje é no mercado americano. Então, é natural uma maior volatilidade nos EUA", disse Flavio Serrano, economista da López León.
Outro fator que limita as oscilações no mercado brasileiro é a diminuição da liquidez. Nas últimas semanas, a Bovespa perdeu volume de negócios com a saída do investidor estrangeiro. Sem força, os negócios tendem a ser mais limitados no Brasil.
Para Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, o país é um dos emergentes que primeiro sofre durante as crises. "É mais fácil entrar e sair do Brasil do que do México e da Argentina. Aqui, as quedas tendem a ser mais rápidas do que as recuperações. Não concordo com a tese do descolamento. Na primeira semana da crise, a queda foi alta no Brasil. Não há uma regra para o comportamento do mercado na crise."
"Não vejo tanto descolamento assim. Os mercados seguem juntos. Podemos ter fatos pontuais, como a fusão das teles e a consolidação na petroquímica na semana passada, que levem a um movimento menos conservador aqui do que nos EUA. Sem falar que a Bovespa está mais ligada a movimento dos preços das commodities devido ao peso da Vale [do Rio Doce] e das siderúrgicas", disse André Ng, da Infinity Asset.
O diretor de Pesquisa e Estratégia para América Latina do banco West LB, Ricardo Amorim, fez um levantamento do desempenho da Bolsa de Nova York e da Bovespa durante períodos de crise nos últimos quatro anos. Ele concluiu que a Bovespa responde com rapidez ao pessimismo inicial e depois segue uma variação entre 2% e 3% durante o período de instabilidade. Dessa vez, Amorim afirma que a Bovespa parece resistir mais ao pessimismo do que a Bolsa de Nova York. "Após a estabilização dos mercados, a Bovespa deve se recuperar com maior força do que o mercado americano", disse.


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