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Bovespa "descola" dos EUA durante crise
Até três semanas atrás, Bolsa caía mais no Brasil do que em NY; na semana passada, ela resistia ao pessimismo nos EUA
Ontem, Bolsa paulista passou dia em queda, mas fechou com pequena alta de 0,46%; cotação do dólar sobe 0,26%, para R$ 1,907
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais Bolsas
entre os países emergentes, a
Bovespa "descolou" seu desempenho do ritmo ditado pelos
mercados americanos nas últimas três semanas, em meio à
crise imobiliária nos EUA.
Até o acirramento da crise,
sempre quando a Bolsa de Nova
York tinha queda de 1% no índice Dow Jones, a Bovespa seguia a tendência com baixa
maior, entre 1,5% e 2%. A razão
era que o mercado americano
oscila menos por ser maior,
maduro, conservador e ter menos resgates dos fundos de pensão e de investimento.
Na semana passada, porém, a
história mudou: a volatilidade
da Bolsa de Nova York chegou a
ser maior do que a da Bovespa.
Enquanto a Bolsa de Nova York
recuava 1,1% no índice Dow Jones, a Bovespa mantinha o
"sangue frio" e caía 0,7%.
A explicação corrente era
que a perspectiva para a economia brasileira seguia boa, enquanto a crise no setor imobiliário americano poderia restringir o crédito e acentuar a
desaceleração na maior economia do mundo.
Mas ontem o conservadorismo imperou no mercado brasileiro. Enquanto a Bolsa de Nova York e a Nasdaq tinham forte recuperação, a Bovespa seguiu em baixa a maior parte do
dia. Não fosse o bom desempenho das ações dos setores elétrico e petroquímico, a Bolsa
paulista poderia ter fechado em
baixa. No encerramento dos
negócios, a Bovespa terminou
com alta modesta de 0,46%, enquanto a Bolsa de Nova York
subiu 2,18% no Dow Jones -a
maior variação percentual desde junho de 2003. No mercado
de câmbio, o dólar subiu 0,26%
e fechou a R$ 1,907.
O conservadorismo ontem
foi visto como uma oportunidade para corrigir o excesso de
otimismo recente no mercado,
como afirmou na quinta-feira o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
"Há um descolamento, sim,
pois a economia brasileira é
melhor do que a [média] global.
Ainda temos boas notícias por
vir, como a elevação de rating
da [agência de risco] Moody's.
Vemos uma correção que acontece em ritmo diferente dos
mercados internacionais", disse Gilberto Pereira, gerente de
renda variável da Liquidez.
"A queda [ontem] foi mais
uma realização. Os fundamentos [da economia] do Brasil e
dos EUA são diferentes, daí o
descolamento. Sem falar que a
crise hoje é no mercado americano. Então, é natural uma
maior volatilidade nos EUA",
disse Flavio Serrano, economista da López León.
Outro fator que limita as oscilações no mercado brasileiro
é a diminuição da liquidez. Nas
últimas semanas, a Bovespa
perdeu volume de negócios
com a saída do investidor estrangeiro. Sem força, os negócios tendem a ser mais limitados no Brasil.
Para Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, o país é
um dos emergentes que primeiro sofre durante as crises.
"É mais fácil entrar e sair do
Brasil do que do México e da
Argentina. Aqui, as quedas tendem a ser mais rápidas do que
as recuperações. Não concordo
com a tese do descolamento.
Na primeira semana da crise, a
queda foi alta no Brasil. Não há
uma regra para o comportamento do mercado na crise."
"Não vejo tanto descolamento assim. Os mercados seguem
juntos. Podemos ter fatos pontuais, como a fusão das teles e a
consolidação na petroquímica
na semana passada, que levem
a um movimento menos conservador aqui do que nos EUA.
Sem falar que a Bovespa está
mais ligada a movimento dos
preços das commodities devido
ao peso da Vale [do Rio Doce] e
das siderúrgicas", disse André
Ng, da Infinity Asset.
O diretor de Pesquisa e Estratégia para América Latina
do banco West LB, Ricardo
Amorim, fez um levantamento
do desempenho da Bolsa de
Nova York e da Bovespa durante períodos de crise nos últimos
quatro anos. Ele concluiu que a
Bovespa responde com rapidez
ao pessimismo inicial e depois
segue uma variação entre 2% e
3% durante o período de instabilidade. Dessa vez, Amorim
afirma que a Bovespa parece
resistir mais ao pessimismo do
que a Bolsa de Nova York.
"Após a estabilização dos mercados, a Bovespa deve se recuperar com maior força do que o
mercado americano", disse.
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