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ESTRUTURA
Petrobras e estatal chinesa assinam memorando de entendimento que prevê empréstimo de até US$ 1,3 bi para obra
China quer financiar gasoduto no Brasil
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
A Petrobras e a estatal chinesa
Sinopec deram ontem o primeiro
passo para que a China financie a
construção do gasoduto que ligará as regiões Sudeste e Nordeste
do Brasil, no qual deverão ser investidos de US$ 900 milhões (cifra
divulgada pelo Ministério de Minas e Energia, em Brasília) a US$
1,3 bilhão (valor apurado pela Folha, em Pequim).
As empresas assinaram em Pequim um memorando de entendimento pelo qual se comprometem a discutir os termos de um
contrato que dê à Sinopec (empresa responsável por 57,8% do
suprimento total de combustíveis
da China) a responsabilidade sobre a construção do gasoduto.
Segundo o documento, o financiamento para a obra será concedido pelo China Eximbank diretamente ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O Ministério de Minas e Energia
divulgou que o acordo engloba
dois trechos do gasoduto: Cabiúnas (RJ) à Vitória (ES) e Cacimbas
(ES) a Catu (BA). Esses trechos,
somados, têm 1.050 km.
O acordo só sairá do papel se as
partes envolvidas se entenderem
sobre as condições de financiamento e os termos do contrato de
construção do gasoduto. Os prazos da negociação que se inicia
agora estão fixados no memorando: até 30 de dezembro terão de
ser definidas as condições de financiamento e a obra deve ser iniciada em julho de 2005, para entrega em janeiro de 2007.
"Não foi assinado um contrato,
mas sim definidas as condições da
negociação do contrato", afirmou
a ministra das Minas e Energia,
Dilma Rousseff, em entrevista coletiva em Pequim.
Segundo ela, o gasoduto será
construído ainda que a Petrobras
e a Sinopec não cheguem a um
acordo sobre o contrato. Se isso
acontecer, a petrolífera brasileira
terá de buscar outras fontes de financiamento para o projeto.
A Eletrobras (estatal do setor de
energia) também assinou um memorando de entendimento com o
grupo Citic, braço do governo
chinês responsável pela realização
de investimentos no exterior. Mas
os termos do documento são
mais genéricos que o da Petrobras. O principal ponto prevê a
possibilidade de associação entre
as duas empresas para a disputa
dos contratos de transmissão e
geração de energia que o Brasil vai
licitar a partir de agora.
Entre este mês e março, haverá
leilões para construção de 5.500
km de linhas de transmissão de
energia, com investimentos de
US$ 1,33 bilhão. Em maio de 2005,
serão licitadas 17 hidrelétricas,
que terão capacidade de gerar
2.800 MW e exigirão investimentos de US$ 2,8 bilhões.
Resultado
O memorando da Petrobras e a
Sinopec é o acordo mais concreto
entre os dois países assinado desde a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, em
maio, quando houve várias declarações de intenção de colaborações futuras.
O Brasil espera atrair os dólares
chineses para aperfeiçoar a precária infra-estrutura do país. Um
dos principais documentos assinados durante a visita de Lula
previa investimentos da China em
ferrovias e portos brasileiros. Mas
tudo indica que o contrato da Petrobras tem chance de ser assinado antes dos demais.
O gasoduto terá extensão de
1.225 km e ligará Cabiúnas, no
Rio, a Catu, na Bahia. A capacidade de transporte é de 13 milhões
de metros cúbicos de gás por dia,
quantidade suficiente para que as
seis termelétricas da região nordeste produzam mais 1.240 MW
de energia -o equivalente a 1,7%
da capacidade instalada do país.
"A China está tendo um crescimento astronômico e isso faz com
que o país tenha um elevado nível
de recursos. Quando isso ocorre,
a tendência natural é a internacionalização da economia, com a
busca de investimentos que garantam remuneração", afirmou a
ministra Dilma Rousseff, sobre
uma das motivações dos chineses
para investir no Brasil.
Outra vantagem para os chineses é o fornecimento de equipamentos para as obras, em quantidade que terá de ser definida nos
contratos. Rousseff ressaltou que,
em qualquer caso, terá de ser respeitado o índice mínimo de conteúdo nacional previsto na legislação brasileira.
O presidente da Eletrobras, Silas
Rondeau Cavalcante Silva, acredita que a Eletrobras e a Citic poderão formar uma "dobradinha imbatível" para disputar os leilões.
Em sua avaliação, na condição de
estatais, as duas empresas tendem
a exigir uma remuneração menor
pelo investimento que realizarão.
Além disso, a Eletrobras teria a
vantagem de sua experiência como principal empresa pública na
área de energia elétrica do país.
O Ministério de Minas e Energia
do Brasil também assinou um
memorando de entendimento
com o Ministério do Comércio da
China, que funciona como uma
espécie de guarda-chuva para as
negociações nas áreas de gás, petróleo, combustíveis renováveis,
eletricidade e mineração.
Pelo acordo, que tem prazo de
dez anos, os dois países se comprometem a trocar informações
sobre projetos nessas áreas, incluindo mudanças relevantes na
legislação. Além disso, os governos devem "estimular" os organismos competentes de cada país
a facilitarem a cooperação entre
as empresas.
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