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VINICIUS TORRES FREIRE
Conversa séria, depois da eleição
Técnicos já debatem como fazer um Orçamento realista para 2007; projeto
divulgado é quase protocolar
COMO PARECIA quase evidente,
o projeto de Orçamento que o
governo divulgou na semana
passada sabia mais a protocolo legal
do que a planilha clara de distribuição do gasto público federal em
2007. Já se trabalha em Brasília com
a idéia de que alguns gastos correntes discricionários serão contidos.
Mas não há intenção de aumentar o
superávit primário.
Decerto nenhum projeto de Orçamento brasileiro ainda pode ser levado ao pé da letra. A receita disponível depende do comportamento
ainda errático da economia e da arrecadação de impostos. Há enorme
quantidade de despesas obrigatórias, fixas por lei. A despesa de fato
administrável pelo governo federal é
o que sobra depois de abatidos esses
constrangimentos.
Os gastos previstos na lei orçamentária de 2007 não parecem caber na arrecadação estimada. Mas,
primeiro: já se trabalha com a idéia
de que a receita de impostos e contribuições sociais deve abocanhar
parte maior do PIB do que o previsto
para o ano que vem. Segundo: está
na mesa, sim, a discussão sobre a
conveniência de autorizar mais aumentos de gastos na Previdência e
na despesa com o funcionalismo.
Inflação imprevista também
Mais um sintoma de que está difícil como de costume entender a
economia brasileira, mesmo com a
redução contínua do seu nível de
anormalidade e com alguns anos livres de choques: a inflação está
caindo a uma velocidade maior do
que o previsto.
O IPCA de agosto, divulgado ontem, foi um quarto do que imaginava o chamado "consenso de mercado". Trata-se do índice de variação
de preços que serve como alvo para
a política do Banco Central. O IPCA pode fechar o ano abaixo de 3%.
O dólar barato tem ajudado a derrubar a inflação.
Mas a persistente discrepância
entre previsões e números reais da
atividade econômica e do IPCA
merece reflexão. Indica que é imprudente definir metas muito
apertadas e de curto prazo (um
ano) de política monetária. Com
metas apertadas e baixa previsibilidade dos indicadores econômicos,
aumenta o risco de que o custo da
política monetária seja desnecessariamente alto em termos fiscais
(gastos com juros, receita menor
que a potencial) e de crescimento.
O argumento econômico padrão
é que, verificado um aperto (juro)
maior em um período, a compensação pode vir na forma de um desaperto maior no período seguinte. A
teoria diz ainda que, no longo prazo, não terá sido a taxa de juros de
curto prazo o determinante do
crescimento. Em tese, é verdade.
Mas o que dizer quando anomalias, erros ou exageros de política
monetária se sucedem ao longo de
uma década, como tem ocorrido no
Brasil desde 1995? Ao lado de excrescências fiscais (gasto público
excessivo), longos períodos de exageros monetários prejudicam o cálculo econômico, criam instabilidade, fazem aumentar a dívida pública e desperdiçam crescimento.
Pior ainda é quando exageros e
anomalias ocorrem em períodos de
bonança econômica internacional.
A correção pode vir tarde demais,
em ambientes mais conturbados.
vinit@uol.com.br
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