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Adiamento do leilão de internet sem fio frustra pequenos provedores de acesso
Empresas contestam suspensão de processo e ingerência do ministro Hélio Costa na agência reguladora
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O adiamento do leilão da
Anatel para internet sem fio
frustrou as pequenas empresas
que oferecem o serviço, via rádio, no interior do país e concorrem, muitas vezes em desigualdade de condição, com as
gigantes da telefonia fixa local,
oriundas da privatização do
Sistema Telebrás e que também oferecem banda larga.
Ignorados no debate sobre a
conveniência ou não da entrada das teles no mercado de internet sem fio, os pequenos responderam por 80 das 100 propostas recebidas pela Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) na segunda.
Eles se declaram descontentes com o adiamento do leilão,
determinado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), e com
a ingerência do ministro Hélio
Costa, das Comunicações, nas
decisões do órgão regulador.
""A interferência do TCU na
licitação foi completamente
descabida. Por que ele não se
manifestou antes, durante a
audiência pública, quando o
edital de licitação foi discutido?", questiona Paulo Minuzzi,
diretor da OFM - Sistemas
Ltda. A empresa, de Maceió,
disputa o leilão para freqüências em Alagoas, Pernambuco e
Tocantins.
Alguns dos pequenos provedores acham que a decisão do
TCU foi encomendada pelo governo, uma vez que o Planalto e
Costa queriam o adiamento da
licitação e a mudança do edital.
""Querem ganhar tempo para
mudar as regras do jogo e favorecer as companhias telefônicas", opina Paulo Dias de Araújo Filho, diretor da Cultura
Online, provedora de acesso à
internet em 300 localidades no
Estado de Goiás.
O executivo é francamente
contrário a que as teles possam
oferecer acesso à internet sem
fio dentro de suas áreas de concessão de telefonia fixa. Para
ele, o leilão para internet sem
fio é a última chance de estabelecimento de competição com
as companhias telefônicas.
""Não tem outra tecnologia à
vista que permita a um pequeno oferecer serviço com preço e
qualidade competitivos."
De norte a sul do país, os pequenos provedores criticam o
ministro Costa por ter ameaçado anular o edital por portaria.
Para estimular a competição, a
Anatel proibiu as teles de comprar licenças, no leilão, para
oferecerem banda larga sem fio
em suas áreas de concessão de
telefonia fixa. Costa acredita
que só as teles levariam o serviço às pequenas localidades.
""Se o governo está preocupado em levar internet em banda
larga ao interior, deveria estimular os pequenos e médios
provedores, pois foram eles que
disseminaram a internet no
país", afirma o empresário José
Gervásio Batista, proprietário
da GD Serviços de Internet, que
oferece acesso à rede sem fio,
por rádio, em Feira de Santana
(BA). A empresa, de 500 clientes, atua há cinco anos e começou oferecendo acesso discado.
""A suspensão do leilão pelo
TCU foi um banho de água fria
em nossas pretensões."
Outro pequeno provedor que
apresentou proposta no leilão
da Anatel foi Eugênio Mônego,
dono da Consult Informática,
de Caçapava do Sul, no Rio
Grande do Sul. A empresa tem
oito empregados, 200 clientes e
fatura R$ 20 mil mensais.
Mônego diz que sua empresa
disputa o serviço de banda larga com a Brasil Telecom, que é
sua fornecedora e sua concorrente. Para ele, a competição
com as teles só representa
ameaça para os pequenos porque não há fiscalização das práticas anticoncorrenciais.
Para Paulo Araújo Filho, da
Cultura Online, de Goiás, se as
teles puderem oferecer banda
larga sem fio nas sua áreas de
concessão, elas acabarão tendo
monopólio de mercado, como
aconteceu na telefonia local fixa. Segundo a Anatel, as teles
detêm, em média, 94% das ligações fixas locais.
Teles
As companhias telefônicas
argumentam que nenhum país,
até agora, impediu as concessionárias de disputar os leilões
de freqüências para internet
sem fio. Sustentam que o impedimento seria um retrocesso ao
tempo das reservas de mercado
e que seus clientes seriam prejudicados, porque ficariam sem
acesso a uma tecnologia inovadora, que reduz custos.
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