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Pão de Açúcar, 60, tem novos desafios
Após reestruturação, Diniz afirma que empresa está pronta para voltar a crescer e enfrentar gigantes estrangeiros
Para celebrar data, todas
as redes do grupo fazem liquidação, e vinhos comemorativos com o nome do fundador são lançados
Rogerio Cassimiro - 5.set.08/Folha Imagem
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Abilio Diniz e Lula se cumprimentam em evento de comemoração dos 60 anos do Pão de Açúcar
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada uma das 575 lojas do
Grupo Pão de Açúcar tem, num
pequeno altar, a imagem de
Nossa Senhora de Fátima,
abençoada por um padre no dia
da inauguração.
Para manter a tradição católica, iniciada pelo fundador Valentim Diniz, em 1948, a empresa resolveu abrir as comemorações dos 60 anos da empresa com uma missa de Ação
de Graças no Mosteiro de São
Bento, celebrada na noite de
sexta-feira.
Para manter outra tradição
da família, que tem varejo no
sangue, foi organizada uma
grande promoção para celebrar
os 60 anos completados hoje.
Nela, foram unidos em esforços
de venda, pela primeira vez, todas as redes do grupo: Pão de
Açúcar, CompreBem, Sendas,
Extra, Extra Fácil, Extra Perto,
Extra Eletro e os canais de comércio eletrônico.
"Estamos prontos para crescer novamente", afirma Abilio
Diniz, presidente do conselho
do grupo, que anunciou investimentos de R$ 1 bilhão para
2009, com a abertura de cem
novas lojas. "É um momento
excelente o que a companhia
está vivendo."
A campanha de aniversário
recebeu investimentos de R$
12 milhões e prevê aumentar as
vendas da rede em 15%, em relação ao mesmo período de
2007, nos primeiros dez dias da
promoção. Apenas em um dia
da campanha, foram vendidos
1.500 televisores.
"Poucas empresas chegam
aos 60 anos fortes, jovens, com
sucesso, como o grupo, principalmente com forte desempenho em resultados e vendas",
diz Diniz. "Não somos de muita
comemoração, mas temos de
vibrar um pouquinho com o
momento que estamos vivendo."
Novo caminho
Em meio às celebrações pelos 60 anos, no entanto, a empresa que nasceu como uma
doceria na rua Brigadeiro Luís
Antônio, nos Jardins, tenta encontrar seu caminho.
Única rede varejista de alimentos de capital aberto, a empresa sofre cobranças mais fortes do que seus concorrentes,
que não abrem números. "O
Grupo Pão de Açúcar vem perdendo posições relativas no
mercado de bens de consumo
corrente", diz Claudio Felisoni,
coordenador do Provar (Programa de Administração de Varejo), da USP (Universidade de
São Paulo). "Tanto em alimentos como em bens duráveis e
semiduráveis."
Enquanto isso, os concorrentes avançam. O Brasil é prioridade para o grupo francês Carrefour há muitos anos. O gigante varejista conquistou a liderança no país após comprar o
Atacadão, em 2007.
Já o maior grupo varejista do
mundo, o americano Wal-Mart, que por anos dedicou
pouca atenção a mercados fora
dos Estados Unidos, resolveu
voltar-se para emergentes
diante das incertezas na maior
economia do mundo e do avanço dos países em desenvolvimento.
No mês passado, o Wal-Mart
anunciou investimentos de R$
1,8 bilhão, a serem aplicados na
abertura de novas lojas no Brasil. O Pão de Açúcar reagiu.
"Também temos poder de investimento", diz Diniz. "Estamos atentos ao movimento da
concorrência, mas nos preocupamos muito com a rentabilidade e o valor ao acionista."
Reestruturação
Foi exatamente essa preocupação que levou à troca de comando da rede, no fim de 2007.
O reestruturador Cláudio
Galeazzi assumiu a presidência
executiva cortando algumas
posições-chave e fornecedores,
investindo em tecnologia e distribuição e dando maior independência a cada loja. "O Cláudio é um comandante como deve ser", diz Diniz. "O líder tem
de ser equilibrado, tem de ter
humildade, saber ouvir, conciliar, negociar e, ao mesmo tempo, ser tolerante e firme."
Mais do que direcionar as
bandeiras a determinados públicos, Galeazzi criou um sistema no qual o abastecimento da
loja é adequado ao bairro, e não
apenas à marca que a unidade
carrega. Até então, todas as
compras e as entregas eram feitas sem diferenças locais.
"Estamos de volta às origens", diz Diniz, que afirma
lembrar-se do dia da abertura
da primeira loja, quando acompanhava seu pai. "É difícil encontrar time que conheça tanto
o que está fazendo e que esteja
lutando e trabalhando tão unido. Só pode ser uma equipe
vencedora e sair um trabalho
vitorioso."
O empresário tinha feito
mea-culpa durante a troca de
comando, em dezembro: preocupado em deixar a empresa
menos dependente de sua figura, acabou ficando distante do
dia-a-dia. Decidiu, então, ficar
mais próximo, fazendo valer
seu papel de representante dos
acionistas.
"O dono sempre tem de estar
presente", diz Diniz. "Os acionistas atuam por meio de governança corporativa, mas
nunca deixam de exercer seu
papel, que é de comando da empresa."
Os primeiros resultados puderam ser sentidos no último
trimestre, quando a rede apresentou forte redução de despesas e crescimentos importantes
em receita, lucro operacional e,
também, lucro líquido.
"Acreditamos que o Grupo
Pão de Açúcar está empenhado
na sua proposta de melhorias
operacionais", escreveu o analista Renato Prado, do Banco
Fator. Houve avaliações semelhantes de outros bancos, que
também destacaram as dificuldades futuras esperadas para a
empresa em seus relatórios.
Crise
Maior empresa do setor nos
anos 1980, com mais de 600 lojas, o grupo chegou à beira da
insolvência dez anos depois.
Mais de cem lojas foram fechadas -inclusive a operação internacional- e quase 40% dos
funcionários foram demitidos.
Entre os motivos da crise, estavam a expansão desenfreada
da empresa, desgovernos nas
políticas macroeconômicas durante o período e uma intensa
disputa familiar pela sucessão
do grupo.
O seqüestro de Abilio, no fim
de 1989, foi outro marco dos
anos difíceis do grupo. Mas, depois de cortes e reestruturações, a empresa voltou a se tornar uma potência, ocupando a
liderança do mercado de 2000
até o ano passado.
No auge da crise, Diniz tentou vender a rede por US$ 200
milhões. Não encontrou compradores. Em 1999, vendeu
parte do grupo para o francês
Casino e, em 2005, 50% do
controle, por US$ 860 milhões.
A rede vale hoje cerca de US$ 3
bilhões.
O fundador Valentim, morto
em março, aos 94 anos, também está sendo homenageado
nos 60 anos da rede.
Foram lançados vinhos comemorativos com a marca Valentim, nas versões malbec e
espumante.
"Estamos trabalhando num
cenário de continuidade do
crescimento em 2009, com inflação em queda e tranqüilidade para continuar investindo",
diz Diniz. "Nosso plano para o
ano que vem será bastante
agressivo."
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