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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

Tributo a mr. Link

Do geólogo José Coutinho Barbosa, 38 anos de Petrobras, presidente por curto tempo em 1999 e, depois, diretor de Exploração e Produção, recebo o e-mail a seguir:
"Sua coluna da referência representa, de fato, a verdadeira homenagem da imprensa à Petrobras, pois nenhuma outra reportagem teve conteúdo tão preciso e verdadeiro. Sua referência a mr. Walter Link deixou-me sobremaneira feliz. Quantas inverdades, cunhadas em preconceitos e desconhecimento, têm sido divulgadas sobre esse notável personagem.
Link estruturou a Petrobras em moldes tão modernos que seus fundamentos permanecem até o presente. O então distrito é hoje a unidade de negócios; o geólogo do distrito agora é o gerente-geral da UN; orçamentos e programas físicos eram negociados entre sede e os distritos, que tinham bastante autonomia e flexibilidade.
Link assumiu em 1954 e já em 1955 selecionou e enviou técnicos brasileiros para cursos de dois anos nas melhores universidades americanas. Link atuou sem datas a celebrar, pois sua missão era organizar, treinar o pessoal e ao mesmo tempo avaliar todas as nossas áreas sedimentares terrestres, sem preocupação com descobertas fáceis que gerassem manchetes.
A ênfase no treinamento e aperfeiçoamento de pessoal felizmente foi continuada nas administrações subsequentes, notadamente por Carlos Walter Marinho Campos, um dos jovens que Link enviou na década de 50 para o Colorado School of Mines.
O tão falado Relatório Link, contendo a avaliação geológica de nossas bacias sedimentares, foi elaborado pelos geólogos que chefiavam os distritos de exploração, dos quais seis eram brasileiros e oito estrangeiros, todos assessorados pelos respectivos estafes.
Com base nos dados existentes à época (1960), as bacias geológicas foram classificadas em A, B, C e D, sendo A bacias com descobertas comerciais (Recôncavo) e D áreas consideradas sem possibilidades e nas quais as atividades exploratórias deveriam ser encerradas. Como D, foram classificadas as bacias paleozóicas do Amazonas, à exceção do Médio Amazonas, devido às ocorrências de petróleo subcomercial em Autas Mirim e Nova Olinda, bacia paleozóica do Paraná, que se estende pelos Estados do Sul, vindo até São Paulo, bacia cretácea de Barreirinhas (MA), bacia do Maranhão, Acre etc.
Geologia não é ciência exata, porém os acertos das conclusões contidas no Relatório ultrapassam de longe os eventuais enganos, e, acima de tudo, como você mostra em sua coluna, Link salvou a Petrobras de esgotar seus recursos nas bacias de idade paleozóica, tipo D.
Ao final Link, recomendava direcionar recursos para países nos quais concessões poderiam ser obtidas e as chances de encontrar petróleo eram boas. Doze anos depois, em 1972, na administração do general Ernesto Geisel, a Petrobras deu cumprimento àquela recomendação, criando a Braspetro, que logo no primeiro ano de atuação encontrou dois campos gigantes no Iraque.
Está na hora de a Petrobras dar o devido reconhecimento a um grande homem, um brasileiro que criou tantas ligações com o Brasil, que voltou para seu país levando duas crianças brasileiras adotadas".

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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