São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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LUÍS NASSIF

As eleições e São Paulo

Há certa confusão na leitura dos números nas eleições municipais de São Paulo. Apresentou-se a vitória de José Serra no primeiro turno como fortalecimento da candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência da República. Serra tem luz própria. Sua vitória significará o fortalecimento da sua candidatura.
O segundo ponto é que há uma resistência surda a Alckmin no PSDB paulista, especialmente nos diretórios da capital -embora ele tenha prestígio no interior. No segundo governo, Alckmin se afastou de quase todos os quadros históricos do partido, montou um secretariado de pouca expressão (os que têm expressão não conseguem aparecer, por conta do estilo do governador) e se indispôs com quase todas as lideranças estaduais. O nome mais votado para vereador, José Aníbal, foi preterido por Alckmin como candidato à prefeitura. Alckmin foi salvo de uma rebelião partidária por conta da candidatura de Serra.
Além disso, Alckmin só se envolveu decididamente na campanha após o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, vir a São Paulo apoiar Serra e ser aclamado como "presidente" pela militância -um recado sutil que Alckmin captou a tempo.
No plano administrativo, Alckmin até agora não demonstrou fôlego para vôos mais altos. O final do governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, despejou na administração pública quadros de primeiro nível. Um governador que pensasse grande, tendo um Estado com o potencial de São Paulo para pilotar, montaria um ministério.
Enquanto Aécio Neves montou seu governo em cima de três pesos-pesados -os secretários Fouad Noman, Anastasia e Wilson Brummer- e está promovendo uma revolução gerencial em um Estado quebrado, o governo Alckmin, pilotando o Estado mais rico do país, não tem demonstrado ousadia e praticamente não tem Estado-maior.
Tem virtudes, a maior das quais é a correção tanto no plano pessoal quanto na gestão pública. Dispõe de bela imagem na população, que tem sabido consolidar com a seriedade na gestão. Tem mantido a continuidade administrativa, mas não tem avançado; e demonstra responsabilidade fiscal, embora, em tempos de arrecadação baixa, recorra a cortes lineares de orçamento.
Tem tempo para mostrar serviço, se mais serviço tiver para mostrar. Mas tem que correr. E entender que não existe um grande comandante sem um grande Estado-maior. Mesmo porque, sendo eleito prefeito, Serra vai se transformar em uma bomba de sucção, atraindo os melhores quadros do partido para a prefeitura.

Vendedor
Em Nova York, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou eufórico que o investimento externo direto irá fechar em US$ 17 bilhões, acima dos US$ 11 bilhões previstos pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). Do total, US$ 5 bilhões são mero registro gráfico da compra da AmBev pela Interbrew. Segundo Tatiana Bautzer, do "Valor", indagado por um analista sobre a razão de tratar uma mera conta gráfica como investimento, Meirelles safou-se com mais uma alocução clássica: "Não comento casos específicos". É um craque!

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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