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LUÍS NASSIF
As eleições e São Paulo
Há certa confusão na leitura dos números nas
eleições municipais de São
Paulo. Apresentou-se a vitória
de José Serra no primeiro turno
como fortalecimento da candidatura do governador Geraldo
Alckmin à Presidência da República. Serra tem luz própria.
Sua vitória significará o fortalecimento da sua candidatura.
O segundo ponto é que há
uma resistência surda a Alckmin no PSDB paulista, especialmente nos diretórios da capital -embora ele tenha prestígio no interior. No segundo
governo, Alckmin se afastou de
quase todos os quadros históricos do partido, montou um secretariado de pouca expressão
(os que têm expressão não conseguem aparecer, por conta do
estilo do governador) e se indispôs com quase todas as lideranças estaduais. O nome mais
votado para vereador, José
Aníbal, foi preterido por Alckmin como candidato à prefeitura. Alckmin foi salvo de uma
rebelião partidária por conta
da candidatura de Serra.
Além disso, Alckmin só se envolveu decididamente na campanha após o governador de
Minas Gerais, Aécio Neves, vir
a São Paulo apoiar Serra e ser
aclamado como "presidente"
pela militância -um recado
sutil que Alckmin captou a
tempo.
No plano administrativo,
Alckmin até agora não demonstrou fôlego para vôos
mais altos. O final do governo
Fernando Henrique Cardoso,
por exemplo, despejou na administração pública quadros
de primeiro nível. Um governador que pensasse grande, tendo
um Estado com o potencial de
São Paulo para pilotar, montaria um ministério.
Enquanto Aécio Neves montou seu governo em cima de
três pesos-pesados -os secretários Fouad Noman, Anastasia e Wilson Brummer- e está
promovendo uma revolução
gerencial em um Estado quebrado, o governo Alckmin, pilotando o Estado mais rico do
país, não tem demonstrado ousadia e praticamente não tem
Estado-maior.
Tem virtudes, a maior das
quais é a correção tanto no plano pessoal quanto na gestão
pública. Dispõe de bela imagem na população, que tem sabido consolidar com a seriedade na gestão. Tem mantido a
continuidade administrativa,
mas não tem avançado; e demonstra responsabilidade fiscal, embora, em tempos de arrecadação baixa, recorra a cortes lineares de orçamento.
Tem tempo para mostrar serviço, se mais serviço tiver para
mostrar. Mas tem que correr. E
entender que não existe um
grande comandante sem um
grande Estado-maior. Mesmo
porque, sendo eleito prefeito,
Serra vai se transformar em
uma bomba de sucção, atraindo os melhores quadros do partido para a prefeitura.
Vendedor
Em Nova York, o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles, anunciou eufórico
que o investimento externo direto irá fechar em US$ 17 bilhões, acima dos US$ 11 bilhões
previstos pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na
sigla em inglês). Do total, US$ 5
bilhões são mero registro gráfico da compra da AmBev pela
Interbrew. Segundo Tatiana
Bautzer, do "Valor", indagado
por um analista sobre a razão
de tratar uma mera conta gráfica como investimento, Meirelles safou-se com mais uma
alocução clássica: "Não comento casos específicos". É um
craque!
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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