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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Decisão que suspendeu acordo favorável ao Opportunity está sendo investigada; juíza nega irregularidades
Justiça analisa decisão de juíza contra Dantas
JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A decisão judicial que permitiu
aos fundos de pensão afastarem o
Opportunity do comando da Brasil Telecom está sob suspeita e pode ser anulada. O Conselho da
Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou
haver indícios de que a sentença
não foi escrita pela juíza responsável, Márcia Cunha, da 2ª Vara
Empresarial, e remeteu o caso ao
Órgão Especial do tribunal.
A juíza nega e diz possuir testemunhas de que foi a autora do
texto (leia texto abaixo). O Órgão
Especial do TJ é composto pelos
25 desembargadores mais antigos
do tribunal. O processo contra
Márcia Cunha corre em segredo
de Justiça, o que impede as partes
de falar sobre ele.
A Folha apurou, contudo, que a
decisão do Conselho de Magistratura foi tomada por unanimidade
em setembro, antes de a juíza procurar a imprensa acusando o Opportunity de tentar corrompê-la
por meio de seu marido.
No sábado, o jornal "O Globo"
publicou entrevista com Márcia
Cunha. Ela disse que, em fevereiro, quando a juíza recém havia assumido o caso envolvendo a Brasil Telecom, seu marido foi procurado por um emissário do Opportunity, Eduardo Rascovisky.
Segundo ela, ele teria proposto
ao marido da juíza que prestasse
serviços ao banco. Em troca, receberia um pagamento astronômico. Segundo a juíza, uma das conversas entre os dois foi gravada.
Na defesa que apresentou ao
Conselho da Magistratura, em junho, a juíza não fez menção à suposta tentativa de corrupção.
Questionada sobre isso, Márcia
Cunha disse: "Naquela época eu
não tinha provas". A juíza recusou-se a explicar como essas supostas provas foram obtidas posteriormente. Também não apresentou a gravação da conversa.
Por meio de sua assessoria, o
Opportunity negou qualquer tentativa de aproximação com Márcia Cunha e disse que Rascovisky
presta serviços ao banco. A Folha
apurou que ele é um administrador de empresas que trabalha no
escritório de advocacia do sogro,
um ex-desembargador do TJ, como lobista. Rascovisky não respondeu a pedido de entrevista.
Não é a primeira vez que Márcia
Cunha sofre questionamentos administrativos. A primeira foi no
início dos anos 1990 e envolvia
tentativa de fraude fiscal. A juíza
também foi alvo de críticas por
aceitar passagens de cortesia da
Varig quando julgava processos
envolvendo a companhia aérea.
Márcia Cunha foi responsável
pelo julgamento do chamado
acordo guarda-chuva. Uma ação
movida pelos fundos de pensão
reclamava que era inválido o
acordo de acionistas que garantia
ao Opportunity o controle da Brasil Telecom até 2018.
A decisão da juíza foi dada poucos dias após a apresentação da
defesa do Opportunity, que contava com mil páginas. Ao todo,
mesmo o julgamento sendo liminar e não de mérito, a sentença
contava com 40 páginas impressas. Causou estranheza ao Conselho de Magistratura a rapidez e a
diferença no padrão de decisões
proferidas por Márcia Cunha -
geralmente manuscritas e com,
no máximo, quatro páginas.
No documento, a juíza suspendeu o acordo guarda-chuva, o que
permitiu aos fundos de pensão o
afastamento do Opportunity das
empresas que compõem a cadeia
acionária da BrT. Se a sentença for
invalidada, o acordo de acionistas
entre fundos e Citigroup também
poderá ser considerado nulo.
Colaborou Luciana Brafman, da Sucursal do Rio
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