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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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ETERNO REGRESSO

Empresários dizem a Anne Krueger que superávit primário deveria cair com retomada do crescimento

Fiesp reclama do aperto fiscal à vice do FMI

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da indústria vinculados à Fiesp (Federação das Indústria do Estado de São Paulo) aproveitaram reunião com a vice-diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, para reclamar da política fiscal do governo Lula -que tem o aval do Fundo-, dos juros altos e da velocidade com que o BC os têm reduzido.
Para os empresários, outros três fatores, além do aperto fiscal e dos juros altos, são impeditivos para o chamado crescimento sustentado: a carga tributária, a apreciação do câmbio e o "spread" bancário (a diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que se cobra do tomador de crédito).
A pedido do próprio FMI, Krueger se reuniu por uma hora e meia com uma comissão da Fiesp -participara antes de um almoço com banqueiros também em São Paulo. Nas duas oportunidades, estava acompanhada de Anoop Singh, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, e de Murilo Portugal, representante do organismo no Brasil.
No início do encontro com os empresários, Krueger detalhou os termos do acordo de US$ 14 bilhões com o Brasil anunciado na véspera pelo governo. Depois, pediu que expusessem o que consideravam impedimentos para investimentos no setor produtivo e as medidas que poderiam ser tomadas para estimulá-lo.
Estavam presentes Boris Tabacof, vice-presidente do conselho de administração da Cia. Suzano de Papel e Celulose e porta-voz dos empresários, Roberto Faldini e Maurice Costin, diretores da Fiesp, e Carlos Liboni, vice-presidente. Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, não participou do encontro. Segundo sua assessoria, fazia exames médicos.
""O que dissemos é que entendemos as razões que levaram a adotar essa meta de superávit primário, mas acreditamos que ele deva ser reduzido o mais rápido possível", disse Tabacof.
Superávit primário é a economia que o governo faz para pagar juros. Para 2004, a meta fixada pelo governo [e que, na média, estará presente no acordo com o FMI] é de 4,25% do PIB.
Krueger ouviu os empresários manifestarem o desconforto sobre a velocidade com que o BC tem reduzido os juros (passaram de 26,5% em maio para os atuais 19%, em cinco cortes). ""O que discutimos é a velocidade na qual essa descompressão da política restritiva deve acontecer. Estamos preocupados não só com os juros, que continuam muito altos, mas com os "spreads'", disse Tabacof.
Para ele, a reunião de ontem representou um avanço. ""O FMI mostrou interesse em ouvir o setor industrial. O Fundo está adotando uma nova postura."

Bancos
O encontro de Krueger com banqueiros ocorreu na sede do Unibanco. Pelo relato de Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Febraban, ela disse que a economia voltará a crescer e os indagou sobre medidas para expandir a oferta de crédito e cortar os "spreads".
A Folha apurou que Krueger mostrou-se preocupada com o aumento do trabalho informal -e suas consequências para a expansão do mercado de crédito.
Anoop Singh disse que, para o país crescer, precisa melhorar a relação comercial com o mundo, mas não fez alusão direta à Alca.
Estavam no almoço, na sede do Unibanco, além de Pedro Moreira Salles, presidente do banco, e de Ferreira, Carlos Alberto Vieira (Safra), Geraldo Carbone (BankBoston), Gustavo Marin (Citibank), José Ermírio de Moraes (Banco Votorantim), Miguel Jorge (Santander), Alberto Dias Mattos (Itaú), José Guilherme Lembi e Octavio de Barros (Bradesco).
Em Brasília, Antônio Ermírio de Moraes, presidente do conselho do Grupo Votorantim, elogiou o acordo, mas, questionado se seria um espécie de cheque especial, foi irônico: "Cheque especial cobra juros muito altos". Ermírio participou de reunião com o governo.

Feliz coincidência
Também em Brasília, o empresário Pedro Piva (Klabin) classificou como "uma feliz coincidência" o fato de o governo reduzir o ajuste fiscal em 2004, quando haverá eleições municipais.
"Não é de propósito [a redução do superávit em 2004], mas é uma feliz coincidência", disse Piva, ao ser questionado sobre a possibilidade de o governo investir mais R$ 2,9 bilhões em saneamento.
Os investimentos só poderão ser feitos porque o governo fará um arrocho maior neste ano.


Colaboraram Guilherme Barros, editor do Painel S.A., e a Sucursal de Brasília


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