|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ETERNO REGRESSO
Empresários dizem a Anne Krueger que superávit primário deveria cair com retomada do crescimento
Fiesp reclama do aperto fiscal à vice do FMI
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes da indústria
vinculados à Fiesp (Federação das
Indústria do Estado de São Paulo)
aproveitaram reunião com a vice-diretora-gerente do FMI (Fundo
Monetário Internacional), Anne
Krueger, para reclamar da política fiscal do governo Lula -que
tem o aval do Fundo-, dos juros
altos e da velocidade com que o
BC os têm reduzido.
Para os empresários, outros três
fatores, além do aperto fiscal e dos
juros altos, são impeditivos para o
chamado crescimento sustentado: a carga tributária, a apreciação
do câmbio e o "spread" bancário
(a diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que se cobra
do tomador de crédito).
A pedido do próprio FMI, Krueger se reuniu por uma hora e meia
com uma comissão da Fiesp
-participara antes de um almoço com banqueiros também em
São Paulo. Nas duas oportunidades, estava acompanhada de
Anoop Singh, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, e de
Murilo Portugal, representante
do organismo no Brasil.
No início do encontro com os
empresários, Krueger detalhou os
termos do acordo de US$ 14 bilhões com o Brasil anunciado na
véspera pelo governo. Depois, pediu que expusessem o que consideravam impedimentos para investimentos no setor produtivo e
as medidas que poderiam ser tomadas para estimulá-lo.
Estavam presentes Boris Tabacof, vice-presidente do conselho
de administração da Cia. Suzano
de Papel e Celulose e porta-voz
dos empresários, Roberto Faldini
e Maurice Costin, diretores da
Fiesp, e Carlos Liboni, vice-presidente. Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, não participou do
encontro. Segundo sua assessoria,
fazia exames médicos.
""O que dissemos é que entendemos as razões que levaram a adotar essa meta de superávit primário, mas acreditamos que ele deva
ser reduzido o mais rápido possível", disse Tabacof.
Superávit primário é a economia que o governo faz para pagar
juros. Para 2004, a meta fixada pelo governo [e que, na média, estará presente no acordo com o FMI]
é de 4,25% do PIB.
Krueger ouviu os empresários
manifestarem o desconforto sobre a velocidade com que o BC
tem reduzido os juros (passaram
de 26,5% em maio para os atuais
19%, em cinco cortes). ""O que discutimos é a velocidade na qual essa descompressão da política restritiva deve acontecer. Estamos
preocupados não só com os juros,
que continuam muito altos, mas
com os "spreads'", disse Tabacof.
Para ele, a reunião de ontem representou um avanço. ""O FMI
mostrou interesse em ouvir o setor industrial. O Fundo está adotando uma nova postura."
Bancos
O encontro de Krueger com
banqueiros ocorreu na sede do
Unibanco. Pelo relato de Gabriel
Jorge Ferreira, presidente da Febraban, ela disse que a economia
voltará a crescer e os indagou sobre medidas para expandir a oferta de crédito e cortar os "spreads".
A Folha apurou que Krueger
mostrou-se preocupada com o
aumento do trabalho informal
-e suas consequências para a expansão do mercado de crédito.
Anoop Singh disse que, para o
país crescer, precisa melhorar a
relação comercial com o mundo,
mas não fez alusão direta à Alca.
Estavam no almoço, na sede do
Unibanco, além de Pedro Moreira
Salles, presidente do banco, e de
Ferreira, Carlos Alberto Vieira
(Safra), Geraldo Carbone (BankBoston), Gustavo Marin (Citibank), José Ermírio de Moraes
(Banco Votorantim), Miguel Jorge (Santander), Alberto Dias Mattos (Itaú), José Guilherme Lembi
e Octavio de Barros (Bradesco).
Em Brasília, Antônio Ermírio de
Moraes, presidente do conselho
do Grupo Votorantim, elogiou o
acordo, mas, questionado se seria
um espécie de cheque especial, foi
irônico: "Cheque especial cobra
juros muito altos". Ermírio participou de reunião com o governo.
Feliz coincidência
Também em Brasília, o empresário Pedro Piva (Klabin) classificou como "uma feliz coincidência" o fato de o governo reduzir o
ajuste fiscal em 2004, quando haverá eleições municipais.
"Não é de propósito [a redução
do superávit em 2004], mas é uma
feliz coincidência", disse Piva, ao
ser questionado sobre a possibilidade de o governo investir mais
R$ 2,9 bilhões em saneamento.
Os investimentos só poderão
ser feitos porque o governo fará
um arrocho maior neste ano.
Colaboraram Guilherme Barros, editor
do Painel S.A., e a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Frases Índice
|