São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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BANCO X BANCO

Ex-presidente da instituição diz que inspeção e críticas do BC reveladas ontem pela Folha têm esse objetivo

Meirelles quer acabar com BNDES, diz Lessa

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Primeiro presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) do governo Lula, o economista Carlos Lessa acusou ontem o presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, de querer acabar com o banco de fomento e de agir de maneira deliberada contra o progresso do país.
"Acho esse cavalheiro um cavalheiro do não-Brasil. Tudo que é relevante para a nação é para ele pecado mortal, deve ser eliminado", afirmou Lessa à Folha.
Lessa disse que Meirelles tem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) como parceiros na suposta intenção de acabar com o BNDES. O fechamento do banco seria uma estratégia para "blindar o futuro" contra "mudanças na política econômica".
"Eu acho que esse grupo, dr. Palocci, dr. Meirelles, os homens da Febraban, do mercado de capitais, o mundo do chamado mercado, está muito preocupado com a sucessão presidencial. Eles querem já estabelecer regras que tornem impossível a mudança da política econômica", afirmou.
Lessa, 69, presidiu o BNDES de janeiro de 2003 a novembro de 2004. Foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter criticado a gestão de Meirelles.
"Fui demitido porque classifiquei [em entrevista à Folha] o discurso de Meirelles no Conselho de Desenvolvimento de um pesadelo. Naquela ocasião, Meirelles disse que a conta dos juros altos no Brasil era derivada do crédito consignado, o crédito do BNDES, da Caixa Econômica na linha imobiliária. Achei isso uma coisa absolutamente insultuosa, chamei de pesadelo. Eu disse que a política monetária era um pesadelo. Por isso fui demitido."
Para Lessa, da estratégia que objetiva acabar com o BNDES faz parte a inspeção que o BC realizou na instituição de abril a agosto do ano passado. A Folha revelou ontem que o BC concluiu serem "frágeis" os controles do banco para a concessão de crédito e que falta um sistema adequado de avaliação de riscos dos tomadores de crédito.
Lessa disse que "não tem cabimento" a "crítica que o Banco Central está fazendo ao BNDES", pois "conceitualmente banco de desenvolvimento não gera crise sistêmica do sistema bancário".
"Agora eles voltam à carga em cima do BNDES. Crise sistêmica é gerada basicamente por banco comercial que, ao quebrar ou trabalhar mal ou ficar insolvente, gera uma reação em cadeia. Como pode dizer que BNDES não acata boas regras bancárias se o BNDES é um banco hiperlucrativo, que cresce sem parar e tem a mais baixa taxa de inadimplência do país?", argumentou Lessa.

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