São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O PSDB é ridículo


Partido nada propõe sobre gasto público, finge repulsa de má-fé à CPMF e parece um PMDB com verniz de cascata

NO LIXO do PSDB ou do Instituto FHC não haveria algum programa tucano para o país? Todos os economistas tucanos estariam tão assoberbados de faturar no mercado financeiro a ponto de não poder doar uma idéia ao partido? É o que parece, dada a miséria intelectual e política do desempenho tucano no debate da CPMF. O tucanato limitou-se a dar dicas ao governo, como madames na cozinha, e esperou sentado o Ministério da Fazenda cozinhar um pacotinho de acordo para a votação.
O cozido lulo-tucano é uma lista de providências incongruentes, uma enumeração caótica de favores a grão-tucanos decorada com medidas tributárias de alcance entre incerto e irrelevante. Mas foi baseado em reivindicações tucanas, nenhuma delas capaz de dar sentido à suposta e neófita indignação do partido com impostos. Neófita, pois invisível nos anos de arrocho de FHC.
O primeiro ridículo tucano é o partido ter votado contra a CPMF na Câmara e fazer beicinho no Senado. O segundo é negociar aumento de vinculação de receitas para a saúde em um debate sobre contenção de gastos. O terceiro é pedir um projeto de reforma tributária, como se projeto redundasse em si nalguma melhoria, como se a reforma fosse andar em ano eleitoral, como se o PSDB soubesse qual reforma quer (tucanos de São Paulo e do Nordeste se matam por causa do assunto).
Quarto ridículo é a conversinha de isentar da CPMF tal ou qual faixa de renda. Miseráveis ainda pagariam o imposto, indireto. Sem estudo decente sobre a incidência efetiva da carga tributária sobre faixas de renda e sobre seus efeitos indiretos sobre emprego, por exemplo, tudo isso é jogo para a galera. Quinto ridículo é discutir mais um pacotinho de isenções fiscais particularizadas, mais um aumento da confusão tributária, de efeito real incerto, aliás.
O único ponto sério do cozido fiscal lulo-tucano é a limitação de gastos correntes do governo federal.
Lula apareceu com uma névoa de proposta -o gasto corrente poderia subir 2,5% reais ao ano. Então o tucanato fez biquinho e derrubou a negociação. Faltaram favores, esmolas, para uns caciques?
Mas a proposta do governo é, em si, nada. Quando entra em vigor?
Qual a punição para a infração da norma? Se o gasto estourar o limite, o que acontece? Demissão de funcionários? O que seria feito com o excedente, pois a receita do governo cresce a quase 10% anuais? Mais investimento e/ou pagamento da dívida pública? Em que proporção?
Por que ao menos o PSDB não passa a bola para o governo, apresenta um plano claro de reorganização do gasto público e obriga Lula a esclarecer o que quer fazer dos impostos? Porque o PSDB torna-se apenas um PMDB com verniz, verniz de cascata. O PSDB é ridículo.
Cortar a CPMF em bloco, de ano para outro é irresponsável e contraproducente. O governo elevará outro imposto e/ou cortará do modo mais tosco, no investimento, como o fez FHC -governos são lerdos, a gestão de gastos é ruim em si e a despesa obrigatória é enorme. Assim como não fez tal ajuste pela "gestão", o PSDB não fará Lula gastar melhor. Vai só criar confusão por revanchismo cara-de-pau, pois o tucanato foi mestre em farra fiscal.

vinit@uol.com.br


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