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ARTIGO
O estilo da gestão O'Neill
JOÃO MARCUS MARINHO NUNES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Paul O'Neill tomou posse
como secretário do Tesouro
americano no dia 20 de janeiro de
2001. O posto era a coroação de
uma carreira distinguida, tanto
no setor público como no setor
privado. Foi presidente da Alcoa e
da International Paper e, entre
1974 e 1977, foi diretor-adjunto do
"Office of Budget and Management" (OBM) durante as gestões
dos presidentes Nixon e Ford, período durante o qual trabalhou
com o atual vice-presidente Dick
Cheney e com Alan Greenspan.
Mas, depois da dupla Rubin-Summers, secretários do Tesouro
de Clinton, ninguém teria uma vida fácil. Ao assumir o posto, Rubin impôs sua visão, que ficou conhecida como "Doutrina Rubin",
segundo a qual superávits fiscais
permitem a manutenção de juros
reais baixos e aumento nos investimentos privados, que impulsionam o progresso técnico e o crescimento sustentado com inflação
baixa.
Não importa que a "Doutrina
Rubin" nunca tenha sido demonstrada na teoria. Na prática,
foi exatamente isso que aconteceu, com os Estados Unidos usufruindo o mais longo período de
expansão econômica da sua história.
Paul O'Neill, ao contrário de
Rubin, desde o início primou pela
controvérsia. Mais do que a maioria dos membros do gabinete
Bush, O'Neill falava o que pensava, sem qualquer preocupação
com os efeitos dos seus comentários sobre os mercados, ou mesmo se refletiam a política da administração Bush.
Poucos meses após tomar posse, por exemplo, seus comentários sobre o dólar, na prática negando que o governo tivesse uma
preocupação especial com um
dólar forte -fama da qual Rubin
também gozava- perturbaram
os mercados e deixaram os "traders" perplexos.
As comparações com Rubin,
feitas por comentaristas, sempre
foram desfavoráveis a O'Neill. Em
julho deste ano, as diferenças entre os dois atingiram o seu ponto
mais alto. Enquanto as bolsas registravam fortes quedas, O'Neill
estava fazendo um "tour" pela
Ásia, sendo criticado por não fazer nenhum pronunciamento oficial na tentativa de elevar a confiança do investidor. Ao ser interpelado por jornalistas, O'Neill disse "que estava surpreso pela sua
ausência ter sido notada". Esse
comportamento contrastava com
o de Rubin durante as crises asiática e russa.
As gafes em que se envolveu são
memoráveis. Sua descrição do colapso da Enron como exemplo da
"genialidade do capitalismo"
chocou o establishment enquanto
que seu comentário de que uma
ajuda financeira ao Brasil muito
provavelmente "sairia rapidamente do país para contas na Suíça" provocou uma corrida contra
o real e um pequeno incidente diplomático.
O mercado americano reagiu
bem ao anúncio do seu pedido de
demissão. Nos mercados emergentes, a expectativa é de que o
próximo secretário cause menos
tumulto.
João Marcus Marinho Nunes, economista, é sócio da ForeSee Asset Management e autor de "O Vôo da Águia: A Economia Americana no Fim do Milênio",
Saraiva, 2002
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