São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Taxa de novembro surpreende mercado e bate em 3,02%, mas deve cair neste mês; no ano, alta é de 10,22%

Inflação oficial acumula dois dígitos no ano

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A inflação oficial de novembro, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), bateu o recorde do Plano Real e surpreendeu o mercado, chegando a 3,02%. Alimentos e combustíveis comandaram a disparada. Especialistas esperam uma alta menor em dezembro.
A maior alta anterior, 6,84%, havia sido em julho de 1994, primeiro mês do Plano Real. Mas o próprio IBGE, responsável pelo cálculo do índice, informa que o número daquele mês ainda carregava resíduo da hiperinflação anterior ao Real, comprometendo sua comparabilidade com os números posteriores. Em outubro deste ano a alta do índice havia sido de 1,31%.
Com o número de novembro, o IPCA acumulado no ano atingiu 10,22%, superando todas as metas traçadas pelo governo. A meta original, que era de 3,5%, podendo chegar a 5,5%, já estava superada. Já a chamada meta externa, que está no último acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), estabelecia um limite máximo de 9,5% para este ano.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), esperava que o número de novembro ficasse entre 2,6% e 2,7%. O banco BBV calculava que o IPCA bateria em 2,8%.
"Foi um número alto e bastante assustador", disse Luís Carlos Lima, economista sênior do BBV.
Para Lima, a "bolha" inflacionária liderada pelos alimentos e pelos combustíveis vai estourar este mês, quando ele espera um IPCA de aproximadamente 1%. Mas ele alerta que esse estouro não resolve o problema, lembrando que houve alta de preços em 85,6% dos itens que compõem o índice.
"Isso é um sinal de que há inércia", afirmou. O economista avalia que só o anúncio das linhas mestras da política econômica do próximo governo poderá fazer o IPCA voltar a patamares abaixo de 1% ao mês.
"É, de fato, um índice bastante preocupante, que sinaliza para a necessidade de o governo adotar medidas que reduzam essa pressão", disse Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea.

Alta de juros
Levy defende um aumento da taxa de juros básica, atualmente em 22%, como forma de evitar que a inflação se realimente por uma corrida ao consumo provocada pela queda dos juros reais, decorrente da própria alta da inflação anterior.
Mas ele avalia que o número de novembro não deve se repetir neste mês. "Foi uma combinação de fatores de pressão que não deve se repetir", afirmou.
Entre os alimentos, carnes, açúcar refinado, pão francês, arroz e frango exerceram as maiores pressões para compor o IPCA recorde de novembro. O açúcar refinado já subiu 53,30% neste ano, vindo abaixo, em termos percentuais, apenas da farinha de trigo, com 72,04%, e do óleo de soja, com 64,16%.
Embora tenham subido 6,36% no mês, as carnes tiveram impacto de 0,19 ponto percentual na composição do índice, contra 0,14 ponto do açúcar refinado, que aumentou 49,60%. Isso ocorre porque as carnes, mais importantes na dieta/orçamento das pessoas, têm também peso maior na formação do indicador.
A economista Eulina Nunes, gerente do Departamento de Índices de Preços do IBGE, disse que a inflação "está generalizada", mas também avalia que as pressões residuais que passaram de novembro para dezembro apontam para uma desaceleração da alta de preços neste mês.
Os principais resíduos de novembro que estão passando para dezembro são, basicamente, os das altas da gasolina, do álcool combustível, do gás de cozinha, do óleo diesel e das tarifas de ônibus urbanos em algumas regiões.
Esses resíduos decorrem de aumentos praticados em novembro e não totalmente captados pela pesquisa do mês, encerrada no dia 26.


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