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ANO DO DRAGÃO
Taxa de novembro surpreende mercado e bate em 3,02%, mas deve cair neste mês; no ano, alta é de 10,22%
Inflação oficial acumula dois dígitos no ano
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A inflação oficial de novembro,
medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo), bateu o recorde do Plano
Real e surpreendeu o mercado,
chegando a 3,02%. Alimentos e
combustíveis comandaram a disparada. Especialistas esperam
uma alta menor em dezembro.
A maior alta anterior, 6,84%,
havia sido em julho de 1994, primeiro mês do Plano Real. Mas o
próprio IBGE, responsável pelo
cálculo do índice, informa que o
número daquele mês ainda carregava resíduo da hiperinflação anterior ao Real, comprometendo
sua comparabilidade com os números posteriores. Em outubro
deste ano a alta do índice havia sido de 1,31%.
Com o número de novembro, o
IPCA acumulado no ano atingiu
10,22%, superando todas as metas
traçadas pelo governo. A meta
original, que era de 3,5%, podendo chegar a 5,5%, já estava superada. Já a chamada meta externa,
que está no último acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), estabelecia um limite máximo de 9,5% para este ano.
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), esperava
que o número de novembro ficasse entre 2,6% e 2,7%. O banco
BBV calculava que o IPCA bateria
em 2,8%.
"Foi um número alto e bastante
assustador", disse Luís Carlos Lima, economista sênior do BBV.
Para Lima, a "bolha" inflacionária liderada pelos alimentos e pelos combustíveis vai estourar este
mês, quando ele espera um IPCA
de aproximadamente 1%. Mas ele
alerta que esse estouro não resolve o problema, lembrando que
houve alta de preços em 85,6%
dos itens que compõem o índice.
"Isso é um sinal de que há inércia", afirmou. O economista avalia que só o anúncio das linhas
mestras da política econômica do
próximo governo poderá fazer o
IPCA voltar a patamares abaixo
de 1% ao mês.
"É, de fato, um índice bastante
preocupante, que sinaliza para a
necessidade de o governo adotar
medidas que reduzam essa pressão", disse Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea.
Alta de juros
Levy defende um aumento da
taxa de juros básica, atualmente
em 22%, como forma de evitar
que a inflação se realimente por
uma corrida ao consumo provocada pela queda dos juros reais,
decorrente da própria alta da inflação anterior.
Mas ele avalia que o número de
novembro não deve se repetir
neste mês. "Foi uma combinação
de fatores de pressão que não deve se repetir", afirmou.
Entre os alimentos, carnes, açúcar refinado, pão francês, arroz e
frango exerceram as maiores
pressões para compor o IPCA recorde de novembro. O açúcar refinado já subiu 53,30% neste ano,
vindo abaixo, em termos percentuais, apenas da farinha de trigo,
com 72,04%, e do óleo de soja,
com 64,16%.
Embora tenham subido 6,36%
no mês, as carnes tiveram impacto de 0,19 ponto percentual na
composição do índice, contra 0,14
ponto do açúcar refinado, que aumentou 49,60%. Isso ocorre porque as carnes, mais importantes
na dieta/orçamento das pessoas,
têm também peso maior na formação do indicador.
A economista Eulina Nunes, gerente do Departamento de Índices de Preços do IBGE, disse que a
inflação "está generalizada", mas
também avalia que as pressões residuais que passaram de novembro para dezembro apontam para
uma desaceleração da alta de preços neste mês.
Os principais resíduos de novembro que estão passando para
dezembro são, basicamente, os
das altas da gasolina, do álcool
combustível, do gás de cozinha,
do óleo diesel e das tarifas de ônibus urbanos em algumas regiões.
Esses resíduos decorrem de aumentos praticados em novembro
e não totalmente captados pela
pesquisa do mês, encerrada no
dia 26.
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