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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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CAPITALISMO VERMELHO

Geração de eletricidade não acompanha demanda industrial e começa a restringir a produção

Crise de energia ameaça expansão chinesa

Goh Chai Hin/France Press
Grupo de trabalhadores chineses migrantes que têm como ocupação a construção civil descansa na hora do almoço em Pequim


JAMES KYNGE
ALEXANDRA HARVEY
DO "FINANCIAL TIMES"

As fábricas estão funcionando apenas de noite ou decretando feriados forçados. As famílias em algumas cidades vêm sendo alvo de campanhas para que não liguem seus aquecedores. Em Hangzhou, uma cidade de rápido crescimento perto de Xangai, até mesmo os sinais de trânsito foram desligados por algum tempo, causando caos no tráfego.
A escassez de eletricidade na China, causada pela incapacidade dos fornecedores para acompanhar o ritmo de crescimento espantoso na demanda industrial, começa a ter efeito palpável sobre a vida cotidiana do país. Agora, surgiram sugestões de que é possível que a escassez também afete negativamente o crescimento econômico.
A Rede Estatal de Informações de Energia, uma organização governamental, previu uma escassez ainda mais séria e um racionamento de energia mais severo para o próximo ano.
É difícil obter dados seguros sobre a extensão da escassez.
As estatísticas oficiais são esparsas, e a demanda reprimida é difícil de avaliar, mas indícios circunstanciais sugerem que o racionamento de eletricidade passou por um severo aperto recentemente, com um aumento no número de blecautes e o governo demonstrando preocupação.
Mesmo que o país esteja ampliando sua capacidade de geração de energia em ritmo notável, demorará algum tempo para que a oferta se equipare à demanda -as estimativas variam de um a dois anos.
Michael Komesaroff, diretor-executivo da Urandaline, uma consultoria especializada em projetos que requerem uso intensivo de capital na China, disse que "a escassez é séria. Do total de 32 Províncias e regiões, 21 estão experimentando alguma forma de restrição ao consumo de energia".
As mais prejudicadas são as regiões de rápido crescimento da China, especialmente o delta do rio Yangtzé, que inclui as Províncias de Zhejiang e Jiangsu e a cidade de Xangai, que, somadas, responderam por 23% do PIB (Produto Interno Bruto) chinês no ano passado.

Racionamento
Algumas cidades em Guangdong, a Província meridional que fornece a maior parte das exportações industriais chinesas, também foram forçadas a adotar o racionamento. Huan Huahua, o governador da Província, disse que "esse é um dos principais gargalos que precisamos enfrentar para o nosso desenvolvimento".
Em Dongguan, um centro industrial que abriga mais de 25 mil fábricas no delta do rio Pérola, em Guangdong, algumas indústrias foram "convidadas" a suspender sua produção durante um dia por semana -ou a trabalhar de noite.
Os investidores estrangeiros nos setores que requerem uso intensivo de energia estão "preocupados" com a situação, disse um executivo que pediu que seu nome não fosse divulgado.
"Nos próximos quatro a cinco anos, teremos problemas [de escassez]", declarou.
A oferta não consegue acompanhar a procura em uma Província na qual o consumo total de eletricidade nos dez meses até outubro foi 19,2% superior ao do mesmo período em 2002.
No delta do rio Yangtzé, a situação é semelhante. A escassez de eletricidade em Zhejiang, Jiangsu e Xangai foi estimada entre 1,09 milhão e 5,24 milhões de kilowatts/hora, segundo a corporação estatal de distribuição de eletricidade, o equivalente a cerca de 10% a 15% do consumo.
Em Hangzhou, uma cidade têxtil florescente na Província de Zhejiang, as autoridades estão cortando a luz nos bairros em rodízio e solicitando que as pessoas não empreguem aquecedores.
Em Chansha, a capital da Província de Hunan, no centro do país, a situação é ainda pior. O governo municipal instituiu na semana passada um sistema de três dias de trabalho e um dia de folga para as fábricas e, em breve, pode alterar o sistema para dois dias de trabalho e um dia de folga, de acordo com Zhao Yuesi, um funcionário da prefeitura.
Os responsáveis por diversas cidades chinesas informam que a escassez já vem exercendo efeito sobre seu crescimento econômico, mas não estava claro até que ponto esse problema se tornaria sério para o país como um todo. O PIB chinês cresceu, oficialmente, 8,5% nos primeiros nove meses do ano, mas os analistas independentes estimam um número ainda maior, entre 10% e 11%.

Consequências
Mesmo assim, alguns analistas dizem que as preocupações com o abastecimento de energia na China também podem ter sido um fator na desaceleração constatada nos investimentos estrangeiros diretos durante o quadrimestre de julho a outubro, ante igual período em 2002.
O índice geral de investimento estrangeiro direto continua positivo, com alta de 5,8% no período de janeiro a outubro, para US$ 43,56 bilhões.
Komesaroff e outros dizem que o investimento -o principal propulsor do crescimento do PIB- está começando a desaquecer em certas regiões famintas de energia, devido à preocupação quanto a uma possível perda de confiança no abastecimento de eletricidade.
Em casos extremos, a falta de energia pode causar até desastres comerciais.
Um executivo de uma empresa que produz zinco em pó na Província de Hunan disse que "nossa eletricidade foi cortada quatro vezes. Nossas fornalhas precisam de energia contínua ou podem quebrar. Por isso compramos um gerador a diesel".
"Mas conseguir diesel está se tornando difícil. Nós ampliamos nossa capacidade, para aumentar a produção a partir de fevereiro, mas ainda não sabemos se poderemos usar as novas instalações."


Tradução de Paulo Migliacci


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