São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Para especialistas, "mexicanização" é a nova ameaça à economia brasileira

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil corre o risco de fazer todo o "dever-de-casa" macroeconômico e, ainda assim, continuar a ter níveis de crescimento medíocres, a exemplo do que acontece com o México, país que tem o sonhado grau de investimento desde 2002, mas não consegue superar os 3% anuais de expansão do PIB.
"O México resolveu uma série de problemas, mas tem dificuldade para retomar taxas de crescimento mais altas", disse o economista Raul Veloso em exposição feita ontem na reunião anual da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
O país centro-americano resolveu a fragilidade de seu setor externo, estabilizou o câmbio, reduziu a inflação, tem um risco-país baixo, conseguiu o grau de investimento e derrubou os juros. Só falta o mais importante: crescer.
O Brasil avançou em todos esses pontos, e a obtenção do grau de investimento não parece uma conquista impossível ou extremamente distante. O risco é conseguir tudo isso e, ainda assim, continuar a crescer menos de 3%.
Um dos primeiros economistas brasileiros a usar a expressão "mexicanização" foi o ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, em artigo publicado no jornal "O Estado de S.Paulo" em setembro. "O caso do México ilustra de uma forma clara que, mesmo após obter o grau de investimento e conseguir reduzir substancialmente os juros reais (no bojo de uma inflação sob controle), a economia brasileira pode continuar crescendo pouco", escreveu.
Na exposição de ontem, Veloso sustentou que o aumento dos investimentos é essencial para o país ter taxas mais elevadas de expansão do PIB.
Para isso, segundo Veloso, é preciso reduzir os gastos públicos, para recuperar a capacidade de investimento do Estado, e cortar impostos, com o objetivo de aumentar o fôlego das empresas privadas.
O economista destacou que, nos anos 70, o volume de investimentos no Brasil rondava os 32% do PIB. Na mesma década, o crescimento médio anual do país era de 8,5%, superior à média mundial de 6,3%.
A partir dos anos 80, o Brasil começou a ter índices de expansão do PIB inferiores à média global. Na "década perdida" de 80, o crescimento foi de 1,7%, comparado a 3,2% no restante do mundo. Nos anos 90, a relação foi de 2,7% para 3,4%. Na atual, é de 2,2% para 4%, afirmou o economista.
Na avaliação de Veloso, esse cenário é reflexo do baixo nível de investimento do período, inferior a 20% do PIB. "Não há como sustentar crescimento sem investimentos", disse.
(CLÁUDIA TREVISAN)


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