São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Bancos dizem que medidas são positivas

Para Fábio Barbosa, presidente da Febraban, pacote coincide com ação dos bancos para elevar transparência do setor

Banqueiro diz ainda que eventuais perdas de receita não serão repassadas aos clientes por causa da acirrada competição

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e do ABN Amro Real, Fábio Barbosa, adotou tom conciliador e considerou positivo o pacote de tarifas bancárias do governo. Ele não vê as medidas como ingerência no setor e diz que vão na direção do que os bancos já vinham fazendo, de elevar transparência.
"Todos saem ganhando quando há mais transparência", afirma, acrescentando que os bancos não repassarão aos juros eventuais perdas que possam vir a ter com o pacote. "A competição é muito acirrada."
Barbosa citou o exemplo dos "spreads" (a diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e os juros que cobram ao emprestá-los), que, diz ele, vêm caindo a um ritmo mais rápido do que a taxa básica de juro da economia, a Selic.
Ele diz que ainda precisa analisar melhor as medidas após serem regulamentadas.

 

FOLHA - Como o senhor avalia o pacote anunciado pelo governo?
FÁBIO BARBOSA -
Eu acho que vai na direção da transparência, o que, na verdade, o sistema financeiro já tem procurado fazer. O sistema financeiro já vinha trabalhando nessa questão de criar uma nomenclatura paras as tarifas e também na direção de mais transparência à cobrança dos serviços financeiros. Todos saem ganhando quando há mais transparência.
Nós consideramos positiva a medida. Hoje, os bancos já possuem 100 milhões de contas correntes. Em 1997, eram 40 milhões. Isso significa mais clientes, mais inclusão bancária, e os bancos estão atentos à necessidade de adotar mais medidas no sentido de dar mais disciplina às operações bancárias, da existência de algumas regras. Com um número tão grande de clientes, a gente precisa repensar essa questão da transparência e da comparabilidade na cobrança das tarifas.
Nós vamos nos enquadrar no que foi definido pelo governo.

FOLHA - O sr. não considera uma ingerência do governo?
BARBOSA -
Diga-se de passagem que esse é o papel do Banco Central. A atividade dos bancos exige regulamentação mesmo. Veja o exemplo do câmbio. São uma ingerência do Banco Central as resoluções que existem em relação ao câmbio? Depende, pode ser que sim, mas pode ser que não também.
Os bancos são altamente regulamentados no Brasil e no mundo. Uma crise como essa que aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo, certamente vai exigir mais regulamentação lá fora, que deve se refletir aqui. Os bancos se conectam mundialmente.

FOLHA - A padronização das tarifas estimulará a competição entre os bancos, como afirma o governo?
BARBOSA -
A concorrência entre os bancos já é bastante acirrada e vai continuar assim.

FOLHA - Mas os "spreads" bancários caíram pouco.
BARBOSA -
Não é verdade, o "spread" caiu mais rápido do que a Selic. O "spread" caiu de 40% para 35% em um ano paras as pessoas físicas. E os "spreads" estão caindo fruto da concorrência acirrada no setor bancário. Há concorrência na cobrança dos juros, há concorrência no custo dos serviços, e os bancos estão sempre procurando intensificar o relacionamento com os clientes. E o que o governo está fazendo agora é disciplinando algumas transações bancárias. As medidas vão aumentar a concorrência e dar mais transparência ao setor.

FOLHA - O congelamento das tarifas não pode ter uma repercussão negativa no setor, sendo considerado interferência do governo?
BARBOSA -
O governo não congelou propriamente as tarifas, mas apenas definiu uma periodicidade para os reajustes [por 180 dias]. Não foge muito do que já acontece hoje. Muitas instituições já adotam periodicidades semestrais ou anuais. A medida tira um pouco a flexibilidade do sistema, mas a gente ainda tem que entender melhor as decisões. De qualquer forma, não muda muito do que já se faz atualmente.

FOLHA - Os bancos vão repassar para o juro eventuais perdas com as medidas? O fim da taxa de liquidação antecipada pode ter um efeito negativo nas contas dos bancos?
BARBOSA -
Num sistema concorrencial tão forte como o nosso, não há espaço para esses preços serem repassados aos juros. A concorrência está muito ativa no setor. A concorrência está forte no juro, nas tarifas e nas licitações pelas folhas de pagamento. Os bancos não vão repassar para o juro as perdas com as medidas. Todas essas medidas, como o fim da cobrança das taxa de liquidação antecipada, buscam dar mais competitividade aos bancos. É claro que a gente vai analisar melhor as medidas, mas a direção está correta, que é de dar mais transparência ao setor.

FOLHA - O sr. diz que há uma forte concorrência entre os bancos, mas como explica esse aumento de 17% da receita com as tarifas neste ano?
BARBOSA -
Esse aumento das tarifas não corresponde apenas à cobrança de serviço para as pessoas física, também estão incluídas as tarifas para pessoas jurídicas. Nessa conta, por exemplo, também se incluem as comissões que os bancos recebem com os famosos IPOs [lançamento de ações], assim como as operações de crédito, que cresceram significativamente neste ano. Há muitas tarifas ligadas a crédito, como a cobrança de cadastro, abertura de crédito e outras. As tarifas para pessoas físicas representam menos de 50% do total dessa linha correspondente a serviços financeiros. Pelas nossas contas, a cobrança de tarifas sobre pessoas físicas fica entre um terço e 40% do total.


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