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Bancos dizem que medidas são positivas
Para Fábio Barbosa, presidente da Febraban, pacote coincide com ação dos bancos para elevar transparência do setor
Banqueiro diz ainda que eventuais perdas de receita não serão repassadas aos clientes por causa da acirrada competição
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente da Febraban
(Federação Brasileira de Bancos) e do ABN Amro Real, Fábio Barbosa, adotou tom conciliador e considerou positivo o
pacote de tarifas bancárias do
governo. Ele não vê as medidas
como ingerência no setor e diz
que vão na direção do que os
bancos já vinham fazendo, de
elevar transparência.
"Todos saem ganhando
quando há mais transparência", afirma, acrescentando que
os bancos não repassarão aos
juros eventuais perdas que possam vir a ter com o pacote. "A
competição é muito acirrada."
Barbosa citou o exemplo dos
"spreads" (a diferença entre o
custo de captação de recursos
pelos bancos e os juros que cobram ao emprestá-los), que, diz
ele, vêm caindo a um ritmo
mais rápido do que a taxa básica de juro da economia, a Selic.
Ele diz que ainda precisa analisar melhor as medidas após
serem regulamentadas.
FOLHA - Como o senhor avalia o
pacote anunciado pelo governo?
FÁBIO BARBOSA - Eu acho que vai
na direção da transparência, o
que, na verdade, o sistema financeiro já tem procurado fazer. O sistema financeiro já vinha trabalhando nessa questão
de criar uma nomenclatura paras as tarifas e também na direção de mais transparência à cobrança dos serviços financeiros. Todos saem ganhando
quando há mais transparência.
Nós consideramos positiva a
medida. Hoje, os bancos já possuem 100 milhões de contas
correntes. Em 1997, eram 40
milhões. Isso significa mais
clientes, mais inclusão bancária, e os bancos estão atentos à
necessidade de adotar mais
medidas no sentido de dar mais
disciplina às operações bancárias, da existência de algumas
regras. Com um número tão
grande de clientes, a gente precisa repensar essa questão da
transparência e da comparabilidade na cobrança das tarifas.
Nós vamos nos enquadrar no
que foi definido pelo governo.
FOLHA - O sr. não considera uma
ingerência do governo?
BARBOSA - Diga-se de passagem
que esse é o papel do Banco
Central. A atividade dos bancos
exige regulamentação mesmo.
Veja o exemplo do câmbio. São
uma ingerência do Banco Central as resoluções que existem
em relação ao câmbio? Depende, pode ser que sim, mas pode
ser que não também.
Os bancos são altamente regulamentados no Brasil e no
mundo. Uma crise como essa
que aconteceu nos Estados
Unidos, por exemplo, certamente vai exigir mais regulamentação lá fora, que deve se
refletir aqui. Os bancos se conectam mundialmente.
FOLHA - A padronização das tarifas
estimulará a competição entre os
bancos, como afirma o governo?
BARBOSA - A concorrência entre os bancos já é bastante acirrada e vai continuar assim.
FOLHA - Mas os "spreads" bancários caíram pouco.
BARBOSA - Não é verdade, o
"spread" caiu mais rápido do
que a Selic. O "spread" caiu de
40% para 35% em um ano paras as pessoas físicas. E os
"spreads" estão caindo fruto da
concorrência acirrada no setor
bancário. Há concorrência na
cobrança dos juros, há concorrência no custo dos serviços, e
os bancos estão sempre procurando intensificar o relacionamento com os clientes. E o que
o governo está fazendo agora é
disciplinando algumas transações bancárias. As medidas vão
aumentar a concorrência e dar
mais transparência ao setor.
FOLHA - O congelamento das tarifas não pode ter uma repercussão
negativa no setor, sendo considerado interferência do governo?
BARBOSA - O governo não congelou propriamente as tarifas,
mas apenas definiu uma periodicidade para os reajustes [por
180 dias]. Não foge muito do
que já acontece hoje. Muitas
instituições já adotam periodicidades semestrais ou anuais. A
medida tira um pouco a flexibilidade do sistema, mas a gente
ainda tem que entender melhor as decisões. De qualquer
forma, não muda muito do que
já se faz atualmente.
FOLHA - Os bancos vão repassar
para o juro eventuais perdas com as
medidas? O fim da taxa de liquidação antecipada pode ter um efeito
negativo nas contas dos bancos?
BARBOSA - Num sistema concorrencial tão forte como o
nosso, não há espaço para esses
preços serem repassados aos
juros. A concorrência está muito ativa no setor. A concorrência está forte no juro, nas tarifas
e nas licitações pelas folhas de
pagamento. Os bancos não vão
repassar para o juro as perdas
com as medidas. Todas essas
medidas, como o fim da cobrança das taxa de liquidação
antecipada, buscam dar mais
competitividade aos bancos. É
claro que a gente vai analisar
melhor as medidas, mas a direção está correta, que é de dar
mais transparência ao setor.
FOLHA - O sr. diz que há uma forte
concorrência entre os bancos, mas
como explica esse aumento de 17%
da receita com as tarifas neste ano?
BARBOSA - Esse aumento das
tarifas não corresponde apenas
à cobrança de serviço para as
pessoas física, também estão
incluídas as tarifas para pessoas jurídicas. Nessa conta, por
exemplo, também se incluem
as comissões que os bancos recebem com os famosos IPOs
[lançamento de ações], assim
como as operações de crédito,
que cresceram significativamente neste ano. Há muitas tarifas ligadas a crédito, como a
cobrança de cadastro, abertura
de crédito e outras. As tarifas
para pessoas físicas representam menos de 50% do total dessa linha correspondente a serviços financeiros. Pelas nossas
contas, a cobrança de tarifas sobre pessoas físicas fica entre
um terço e 40% do total.
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