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Pacote não facilita a troca de banco, dizem analistas
Medidas são bem recebidas, apesar de mexerem em um sistema auto-regulado
Efeito prático das medidas será pequeno até abril; advogado vê risco de os bancos elevarem as tarifas antes de congelamento
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Visto como intervenção num
sistema até então auto-regulado, o pacote de tarifas bancárias do governo foi recebido como avanço por especialistas da
indústria bancária e entidades
de defesa do consumidor, apesar de ser criticado por não atacar o maior problema do consumidor com os bancos: a dificuldade de mudar de instituição
caso não fique satisfeito com o
serviço prestado e cobrado.
Para o advogado Jairo Saddi,
professor do Ibmec-SP, o efeito
prático das medidas até abril
-quando parte delas passa a vigorar- para o consumidor e
para os bancos será muito pequeno. Ele diz que há até o risco
de as instituições elevarem as
tarifas antes do congelamento.
"Foi uma solução bastante
discutível, com espírito liberal,
mas por meio de uma intervenção estatizante que acaba, muitas vezes, protegendo o mais
forte -no caso, os bancos. O governo apresenta como solução,
mas não é uma solução acabada. Não é bom restringir o sistema. Há o risco de os bancos aumentarem antes a tarifa. O que
é essencial [o governo] não mexeu ainda, que é a liberdade de
escolha do consumidor. Se ele
tiver uma tarifa alta e quiser
sair do banco, não consegue."
O consultor Roberto Troster,
ex-economista da Febraban,
afirma que um dos principais
avanços é permitir ao consumidor ter uma noção mais concreta do quanto paga pelas tarifas,
por meio do balanço consolidado no ano. "O consumidor passa a ter noção do que pagou. Os
bancos ganham porque estimula a concorrência. Quanto
mais transparência, melhor para os bancos [que prestam um
bom serviço]", disse.
Apesar da antipatia pela palavra "congelamento", Troster
afirma que se trata de uma forma de impedir que os preços
sejam depois fixados de acordo
com a necessidade do correntista por um serviço. "O congelamento evita flutuação de preço. Não quer dizer que esteja tabelando. Impede que se coloque um preço e depois altere se
[o correntista] precisar mais
dele. Dá credibilidade", disse.
Para Saddi, os pacotes básicos de serviços não deveriam
impor limites a operações essenciais dos correntistas, como
saques. "Não adianta dar quatro saques [grátis] e depois cobrar R$ 20 para o quinto." Ele
defende que alguns serviços sejam cobrados de acordo com o
valor financeiro da transação.
"Não tem sentido econômico
cobrar R$ 10 para fazer um
DOC de R$ 100 ou de R$ 4.999.
O serviço poderia ser uma porcentagem do valor movimentado. Faz sentido discutir o abuso
de poder econômico, uma vez
que o consumidor é a parte
mais fraca. Não é uma solução
fácil porque os bancos são muito poderosos no Brasil", disse.
Para o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e a Pro Teste (Associação
Brasileira de Defesa do Consumidor), as medidas trazem
mais transparência ao setor.
Paulo Pacini, advogado do
Idec, afirma que, além de padronizados, os nomes dos serviços devem ser claros e traduzir qual operação se referem.
Para Leonardo Diz, da ProTeste, se o consumidor puder
trocar de banco com facilidade,
as instituições se abrirão mais
para negociação. "O que faz
com que haja concorrência é
todos os bancos oferecerem os
mesmos serviços e os clientes
terem a mesma informação."
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