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ONG tenta barrar leilão de usina no Madeira
Em ação na Justiça, Amigos da Terra-Amazônia Brasileira aponta irregularidades no licenciamento ambiental da hidrelétrica
Para organização, usina teve licença prévia liberada sem
que os quesitos ambientais exigidos pela legislação fossem respeitados
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A organização não-governamental Amigos da Terra-Amazônia Brasileira entrou com
uma ação pública na 4ª Vara da
Justiça Federal, em Brasília,
para impedir o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio
Madeira, em Rondônia, previsto para segunda-feira.
No processo, aparecem como
réus o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e Furnas Centrais Elétricas.
Segundo Roberto Smeraldi,
diretor da organização, essas
instituições tentaram viabilizar a usina sem que os quesitos
ambientais exigidos pela legislação fossem respeitados.
A ação se baseia em um parecer do próprio Ibama justificando a concessão da licença
prévia (LP) para a usina. Segundo a Amigos da Terra, o parecer foi realizado em julho
deste ano, mas sua divulgação
foi adiada até o mês passado.
"Parece que o Ibama protelou ao máximo a divulgação da
justificativa da LP para viabilizar o leilão", afirma Smeraldi.
"Eles queriam impedir que a
LP fosse questionada."
Segundo a ação, em julho, já
se sabia que as obras prejudicariam os depósitos de sedimentos no Madeira e trariam dificuldade para a pesca de espécies, além de comprometer a
deposição de ovos e larvas.
Esses problemas tinham sido
apontados em audiências públicas, mas, segundo a Amigos
da Terra, elas só aconteceram
em Porto Velho, desconsiderando as comunidades locais e
indígenas que vivem em áreas
mais afastadas e serão afetadas.
Ontem, 250 lideranças indígenas da Amazônia protocolaram um pedido de suspensão
do leilão na Presidência da República. Eles alegam que não
foram consultados.
Para a concessão de uma LP,
todos os pedidos de ajustes no
Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) de uma obra precisam
ser atendidos. O Ibama afirma,
por meio de sua assessoria de
imprensa, que todas as exigências foram cumpridas e que,
por isso, a LP foi liberada.
Mas, de acordo com a ação,
em março deste ano, técnicos
do próprio Ibama haviam relatado as falhas existentes no
EIA. Quatro meses depois, o
atual diretor de licenciamento,
Messias Franco, teria assinado
um parecer comprovando que
as irregularidades apontadas
não tinham sido objeto de estudo até aquela data.
A ação pública movida pela
Amigos da Terra reforça o processo aberto pelo Ministério
Público Federal (MPF) de Rondônia, que, também em março
deste ano, pediu o cancelamento do leilão. Entre os diversos
motivos, o MPF alega que no
EIA não constava o impacto
que seria causado pela construção das redes de transmissão.
"Retirar as linhas de transmissão do EIA é uma estratégia
comum nesse tipo de projeto. É
uma forma de agilizar a LP",
afirma Gustavo Pimentel, gerente da Amigos da Terra. "Mas
alguém já viu uma usina hidrelétrica operar sem suas redes
de transmissão?"
Até o fechamento desta edição, o juiz Náiber Pontes de Almeida, da 4ª Vara da Justiça
Federal, não tinha decidido sobre o processo. Procurados pela
Folha, Furnas e Aneel não se
pronunciaram.
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