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Fundo é acusado de favorecer a Telemar
Recursos do fundo de pensão dos empregados, o Atlântico, foram investidos na tele e em suas principais acionistas
Sindicato afirma que fundo pagou R$ 259,5 mi a mais do que deveria por ações que representam 4% do capital da empresa de telefonia
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O sindicato dos telefônicos
de Minas Gerais, em queixa
apresentada ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, acusou acionistas
controladores da Telemar de
usarem o fundo de pensão dos
empregados, o Atlântico, em
benefício próprio.
Em maio de 2004, o fundo
comprou 4% da Telemar Participações (holding dos acionistas controladores do grupo Telemar) por R$ 356,68 milhões.
Segundo o sindicato, foram pagos R$ 259,5 milhões a mais do
que as ações valiam. O volume
total da carteira de ações do
fundo é de R$ 538 milhões e seu
patrimônio, de R$ 2,4 bilhões.
Os acionistas controladores
dizem que o preço foi estabelecido por avaliador externo, e
que a operação passou pelo crivo da Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) e da SPC
(Secretaria de Previdência
Complementar).
A SPC, que fiscaliza os fundos
de pensão, limitou-se a informar que o Atlântico foi autuado, recorreu da autuação, que o
recurso ainda não foi julgado e
que o processo é sigiloso.
A operação envolveu o fundo
de pensão e quatro empresas
privadas acionistas da Telemar
Participações: La Fonte, Andrade Gutierrez, Lexpart (Opportunity e fundos de investimentos) e Asseca (grupo GP Investimentos). Cada um vendeu
1% da empresa para o fundo.
Segundo cálculos de administradores de investimentos
ouvidos pela Folha, se o Atlântico tivesse aplicado os
R$ 356,68 milhões em 2004
em CDI teria hoje R$ 506,5 milhões, ao passo que os 4% da
Telemar valeriam penas R$
186,7 milhões.
A Telemar Participações não
é negociada em Bolsa e seu único ativo são as ações da TNL
(Tele Norte Leste) adquiridas
no leilão de privatização da Telebrás, em 1998. Assim, o valor
de suas ações é calculado com
base na cotação desses papéis.
No mês passado, a ação ordinária da TNL estava em
R$ 31,74. Considerando que as
ações dos controladores valem
25% mais do que as dos minoritários, chegou-se ao valor
atual de R$ 184,85 milhões.
Dois valores
Há mais um indício de que o
preço pago em 2004 foi alto. O
Atlântico é dono, indireto, de
mais 5% do capital da Telemar
Participações, que foram adquiridos no leilão da Telebrás,
em 1998, em nome da Fiago
Participações. Os 5% estão contabilizados por R$ 114,64 milhões no balanço de junho, enquanto os 4% estão por
R$ 324,58 milhões.
O fundo comprou as ações
dos controladores por operação triangular: primeiro, adquiriu 100% das ações sem direito
a voto de outra empresa dos
controladores, Alium Participações e, em seguida, as trocou
por ações da Telemar.
Só a primeira parte do negócio foi pública. A compra das
ações da Alium foi feita em leilão no mercado de balcão da
Bovespa, que durou 15 minutos. Segundo o sindicato, a
Alium dera prejuízo de R$
97,36 milhões em 2002 e de R$
98,76 milhões em 2003, e não
valeria o valor desembolsado
pelo fundo de pensão.
O negócio chamou a atenção
do mercado financeiro, na ocasião. O jornal ""Valor" noticiou
que o preço justo apontado por
analistas seria R$ 153 milhões.
Outro caso polêmico levantado pelo sindicato mineiro foi
o investimento no grupo La
Fonte, acionista da Telemar.
Em março de 2003, ele comprou R$ 170 milhões em ações
preferenciais, sem direito a voto, da LF Tel, por intermédio de
um fundo exclusivo de investimento chamado Krill.
Trinta e dois meses depois,
em novembro de 2005, as ações
foram contabilizadas pelo
Atlântico por R$ 159,39 milhões, e, em janeiro deste ano,
foram trocadas por papéis da
La Fonte Participações. Segundo o sindicato, atualizando-se
os valores, o negócio teria dado
prejuízo de R$ 90,5 milhões ao
fundo de pensão.
O Atlântico tem 13% de seu
patrimônio em investimento
direto na Telemar Participações (fora os 5% que tem, através da Fiago) e 8,6% em ações
da La Fonte, quando o limite legal por empresa é de 5%.
É sócio em empresas de outros dois acionistas controladores da Telemar: investiu R$ 60
milhões em AG Concessões,
(grupo Andrade Gutierrez), em
2003, e tem R$ 30 milhões investidos no parque temático
Hopi Hari, do grupo GP.
O Atlântico tem, ainda, R$
26,8 milhões em cotas do fundo
de investimentos GP Tecnologia, e R$ 2,4 milhões em contas
do fundo AG Angra.
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