|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARROCHO
Para pagar juros, governo Lula decide elevar a meta de superávit primário para 4,25% do PIB, ou R$ 68 bilhões
Palocci anuncia o maior aperto fiscal do Real
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva buscará neste ano realizar o
maior aperto nas contas públicas
desde o lançamento do Plano
Real, em 1994. A meta para o superávit primário -a parcela das
receitas destinada ao pagamento
de juros- foi elevada para 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto),
ou R$ 68 bilhões.
Embora os dados ainda sejam
muito precários, a sinalização é de
que o governo terá de fazer um
aperto fiscal adicional de cerca de
R$ 8 bilhões, valor suficiente para
manter todas as universidades federais por um ano ou para elevar
o salário mínimo a R$ 250. Equivale ainda a mais de quatro vezes
o R$ 1,8 bilhão previsto para gasto
no Fome Zero, o programa prioritário do governo Lula.
Ao fazer o anúncio, o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
não detalhou como pretende atingir o objetivo. Foi informado apenas que haverá cortes de gastos e
revisão de estimativas anteriores
para a arrecadação, o valor do PIB
e os resultados fiscais de Estados,
municípios e empresas estatais.
Segundo Palocci, os cortes e as
novas previsões já estão definidos
e serão divulgados a partir da próxima segunda-feira, quando Lula
comandará uma reunião ministerial. Conclui-se, portanto, que os
ministros não terão mais a oportunidade de debater o plano de
gastos de suas pastas.
Mas mesmo as reais dimensões
do arrocho fiscal a ser promovido
não estão claras. Até anteontem,
trabalhava-se com uma meta de
superávit de 3,75% do PIB, o que,
a partir de um PIB em torno de
R$ 1,5 trilhão, significava uma
economia de R$ 56 bilhões por
parte dos governos federal, estaduais e municipais e suas empresas para o pagamento de juros.
Numa das poucas vezes em que
a equipe de Palocci mencionou algum detalhe da nova meta, o secretário do Tesouro, Joaquim
Levy, indicou que os cálculos agora levam em conta um PIB de R$
1,6 trilhão. Só essa elevação levaria
a meta anterior aos R$ 60 bilhões.
O objetivo da política de superávits primários, que o Brasil segue
desde 99 por imposição do acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional), é deter a escalada
da dívida pública -o que, até o
ano passado, não foi obtido, apesar de esforços crescentes de aumento de impostos e cortes de
gastos. De início, pretendia-se estabilizar a dívida em 46,5% do
PIB. Agora, deseja-se evitar um
percentual superior a 56% do PIB,
patamar de fechamento de 2002.
Foi com esse parâmetro, disse Palocci, que a nova meta de superávit foi fixada.
"O superávit não é o mínimo
possível nem o máximo que conseguimos", disse o ministro, que
na próxima semana receberá uma
missão do FMI destinada a revisar
os números do acordo. Palocci
considerou improvável, porém,
um novo aumento da meta fiscal.
A discussão sobre as políticas
fiscal e monetária são um ponto
delicado nas relações entre o governo Lula e o PT, que historicamente condenou as exigências do
FMI e os efeitos negativos do controle fiscal sobre a atividade econômica e o nível de emprego.
Palocci muniu-se de argumentos para justificar a medida: prometeu, como já vinha fazendo,
que os cortes não afetarão os programas sociais prioritários do governo e avaliou que, diante das
atuais incertezas dos mercados
doméstico e internacional, elevar
a confiança no país terá impacto
pró-crescimento.
O ministro não disse claramente, mas o aumento do superávit
também terá o papel importante
de complementar a política de
combate à inflação, que levou o
Banco Central a elevar, no mês
passado, sua taxa de juros de 25%
para 25,5% ao ano.
Mais juros levam a mais despesas com a dívida pública. O cenário é ainda mais complicado porque a meta de inflação para 2003
anunciada em janeiro, de 8,5%,
mesmo bem superior ao limite
máximo de 6,5% estabelecido antes, ainda não conta com a confiança dos investidores.
Segundo pesquisa do BC, o ponto médio das previsões dos bancos é de um IPCA de 11,44% neste
ano, o que sugere a possibilidade
de novas altas dos juros do BC.
Questionado se o governo poderia mudar novamente a meta de
inflação, Palocci não chegou a ser
incisivo: "Não pretendemos ficar
mexendo muito na meta".
Palocci disse ainda que contou
com o apoio do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva quanto ao aumento do superávit primário perseguido pelo governo neste ano.
O ministro da Fazenda afirmou
que, durante a campanha, Lula já
havia deixado claro seu compromisso com a austeridade fiscal.
"Dialogamos com o presidente
Lula e dissemos que, na nossa
avaliação, essa seria a meta necessária ao cumprimento do objetivo
[assumido durante a campanha".
Lula sabe disso e concordou com
ela [a meta de 4,25% do PIB"."
Durante a coletiva, assim como
seu antecessor Pedro Malan, Palocci não respondeu diretamente
a várias perguntas, como, por
exemplo, quando questionado
sobre os detalhes do aperto fiscal
para alcançar a nova meta de superávit primário. Palocci disse
que os detalhes serão conhecidos
na segunda-feira, quando o ministro Guido Mantega (Planejamento) anunciar os cortes no Orçamento.
(GUSTAVO PATÚ, LEONARDO SOUZA E NEY HAYASHI DA CRUZ)
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Para analistas, nova meta é plenamente executável Índice
|