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LUÍS NASSIF
A fusão Varig-TAM
Por enquanto, as negociações Varig-TAM se limitam a um acordo de intenções,
não mais que isso, que poderá
resultar em uma futura fusão
ou em nada.
Do lado da Varig, o pano de
fundo para o acordo é conhecido: um problema financeiro
grave.
Do lado da TAM, a motivação
é mais estratégica. A empresa
foi afetada pela variação cambial, com impacto direto sobre
seu passivo; e dos combustíveis,
com impacto sobre seus custos.
Mas ainda exibe desempenho
saudável, com um Ebitdar (lucro antes das despesas e receitas
financeiras, impostos, depreciação, amortização e leasing operacional dos aviões) de R$ 370
milhões de janeiro a setembro
do ano passado, 16,4% em relação à receita líquida.
No médio prazo, dois fatores
conspiram contra seu futuro. O
primeiro, o fato de duas grandes
companhias (Varig e Vasp) estarem atuando de maneira predatória no mercado, em cima de
um custo operacional distorcido
-posto que baseado na falta de
pagamento de compromissos
fiscais e tributários.
O cenário traçado pela TAM
para a Varig é que dificilmente
o governo deixaria a empresa
afundar, mas dificilmente aportaria recursos. Nesse cenário, o
desespero para fazer recursos levaria a Varig, cada vez mais, a
não pagar os compromissos e a
baixar os preços das passagens.
O segundo fato foi a entrada
da Gol no mercado. Uma companhia novata tem o ônus da
falta de linha e o bônus de custos reduzidos. Por ser nova, a folha de salários é mais baixa, por
não incorporar os benefícios
anuais previstos para a tripulação. Além disso, pode montar
sua estrutura de distribuição em
bases tecnológicas mais avançadas, sem precisar carregar o fardo dos investimentos anteriores.
A TAM levou 25 anos para
conseguir 32 linhas. A Gol conseguiu 20 linhas em pouco mais
de dois anos. Melhor: grande
parte no centro-sul, onde se concentram 70% do movimento aéreo nacional. É esse filé mignon
que garante fôlego às empresas
para atender o restante do país.
As negociações entre Varig e
TAM começaram 30 dias atrás.
A fusão das duas companhias
era sonho do comandante Rolim -fundador da TAM- e
um de seus pesadelos. A parte
agradável era o fato de poder
montar uma companhia do tamanho da Iberia e da Alitalia. O
pesadelo era os problemas da
Varig afundarem a TAM.
O acordo permitirá a cada lado conhecer o outro, antes do
casamento ou da separação
amigável. Na linha de frente da
operação haverá um banco de
investimento -o Fator, escolhido de comum acordo-, uma
empresa de auditoria -provavelmente a KPMG, por exclusão- e uma empresa especializada em aviação civil.
A probabilidade da fusão não
é alta. Do lado da TAM, a família controladora aceitou a possibilidade de uma nova companhia, com gestão profissional.
Do lado da Varig, a Fundação
Ruben Berta aceitou a idéia, em
princípio. Na hora de se definirem valores e participações, vai
se chegar ao mesmo impasse
que levou à demissão da antiga
diretoria: há, de um lado, uma
empresa, a TAM, com R$ 160
milhões de patrimônio líquido;
do outro, a Varig, com enorme
patrimônio líquido negativo.
Só a necessidade extrema fará
a FRB aceitar uma parcela do
capital adequado ao seu patrimônio líquido.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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