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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

A fusão Varig-TAM

Por enquanto, as negociações Varig-TAM se limitam a um acordo de intenções, não mais que isso, que poderá resultar em uma futura fusão ou em nada.
Do lado da Varig, o pano de fundo para o acordo é conhecido: um problema financeiro grave.
Do lado da TAM, a motivação é mais estratégica. A empresa foi afetada pela variação cambial, com impacto direto sobre seu passivo; e dos combustíveis, com impacto sobre seus custos. Mas ainda exibe desempenho saudável, com um Ebitdar (lucro antes das despesas e receitas financeiras, impostos, depreciação, amortização e leasing operacional dos aviões) de R$ 370 milhões de janeiro a setembro do ano passado, 16,4% em relação à receita líquida.
No médio prazo, dois fatores conspiram contra seu futuro. O primeiro, o fato de duas grandes companhias (Varig e Vasp) estarem atuando de maneira predatória no mercado, em cima de um custo operacional distorcido -posto que baseado na falta de pagamento de compromissos fiscais e tributários.
O cenário traçado pela TAM para a Varig é que dificilmente o governo deixaria a empresa afundar, mas dificilmente aportaria recursos. Nesse cenário, o desespero para fazer recursos levaria a Varig, cada vez mais, a não pagar os compromissos e a baixar os preços das passagens.
O segundo fato foi a entrada da Gol no mercado. Uma companhia novata tem o ônus da falta de linha e o bônus de custos reduzidos. Por ser nova, a folha de salários é mais baixa, por não incorporar os benefícios anuais previstos para a tripulação. Além disso, pode montar sua estrutura de distribuição em bases tecnológicas mais avançadas, sem precisar carregar o fardo dos investimentos anteriores.
A TAM levou 25 anos para conseguir 32 linhas. A Gol conseguiu 20 linhas em pouco mais de dois anos. Melhor: grande parte no centro-sul, onde se concentram 70% do movimento aéreo nacional. É esse filé mignon que garante fôlego às empresas para atender o restante do país.
As negociações entre Varig e TAM começaram 30 dias atrás. A fusão das duas companhias era sonho do comandante Rolim -fundador da TAM- e um de seus pesadelos. A parte agradável era o fato de poder montar uma companhia do tamanho da Iberia e da Alitalia. O pesadelo era os problemas da Varig afundarem a TAM.
O acordo permitirá a cada lado conhecer o outro, antes do casamento ou da separação amigável. Na linha de frente da operação haverá um banco de investimento -o Fator, escolhido de comum acordo-, uma empresa de auditoria -provavelmente a KPMG, por exclusão- e uma empresa especializada em aviação civil.
A probabilidade da fusão não é alta. Do lado da TAM, a família controladora aceitou a possibilidade de uma nova companhia, com gestão profissional. Do lado da Varig, a Fundação Ruben Berta aceitou a idéia, em princípio. Na hora de se definirem valores e participações, vai se chegar ao mesmo impasse que levou à demissão da antiga diretoria: há, de um lado, uma empresa, a TAM, com R$ 160 milhões de patrimônio líquido; do outro, a Varig, com enorme patrimônio líquido negativo.
Só a necessidade extrema fará a FRB aceitar uma parcela do capital adequado ao seu patrimônio líquido.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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