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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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FUSÃO NO AR

Com isso, elas pretendem aumentar sua participação no mercado de rotas internacionais a partir do Brasil

Varig/TAM quer limitar vôos de estrangeiras

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O protocolo de intenção de fusão entre a Varig e a TAM tem um objetivo no campo da aviação internacional. A Folha apurou que já existem conversas da TAM com o governo Lula para que sejam revistos acordos de vôos de companhias brasileiras e estrangeiras.
A meta é reduzir o número de viagens de aviões de empresas estrangeiras para cá. O que aumentaria o mercado da TAM e da Varig em vôos para o exterior. Ou seja, a idéia é criar uma espécie de reserva de mercado de vôos internacionais para as companhias brasileiras. A Varig e a TAM, principalmente essa última, vivem hoje uma situação bastante complicada nesse segmento.
Enquanto as quatro grandes companhias americanas (American Airlines, United, Continental e Delta) fazem cerca de cem vôos semanais de ida e volta para o Brasil, a Varig e a TAM realizam 50 no mesmo trajeto.
A diferença é consequência da falta de poder de fogo das brasileiras para enfrentar os preços das estrangeiras. Enquanto a Varig cobra US$ 763 pelo bilhete de ida e volta São Paulo-Miami e a TAM US$ 723, a United, por exemplo, vende por US$ 661.
O governo Lula estaria analisando o assunto e os prejuízos que essa situação traz para a balança comercial. Enquanto a TAM e a Varig negociam sua fusão, o governo pode abrir negociações com países como os Estados Unidos para modificar os acordos bilaterais.
Uma das idéias em estudo é diminuir o limite de vôos entre os países. No caso das viagens entre Estados Unidos e Brasil, poderia ser colocado o limite de 80 vôos semanais para as companhias norte-americanas e 80 para as brasileiras.
Como American Airlines, United, Delta e Continental fazem atualmente cem vôos semanais de ida e volta para o Brasil, a redução de sua cota teria consequência positiva no aumento da procura de passagens da TAM e da Varig por brasileiros.
Isso permitiria atenuar a guerra de preços entre empresas aéreas brasileiras e estrangeiras. Os valores das passagens aéreas tenderiam a ficar mais altos ou se estabilizar. Para um executivo de uma companhia brasileira concorrente da TAM e da Varig, essa mudança prejudicaria a concorrência no mercado aéreo brasileiro. Os clientes seriam lesados por ter de pagar mais.

Ministério da Defesa
O Ministério da Defesa afirmou desconhecer negociações sobre a redução de vôos internacionais. A esperança da TAM, e por consequência da Varig, é conquistar mais passageiros estrangeiros, em um momento em que as duas companhias enfrentam sérios problemas financeiros.
Cerca de 80% dos passageiros que viajam entre o Brasil e os Estados Unidos são brasileiros. Atualmente, cerca de 70% deles embarcam em companhias norte-americanas, que podem praticar preços baixos porque as viagens para o Brasil representam apenas 1% de sua receita.
Juntas, a Varig e a TAM têm em média cerca de 10% de sua receita originada em vôos para os Estados Unidos. A Varig é a que detém mais vôos. Com um prejuízo previsto em US$ 280 milhões no ano passado, a TAM poderia aumentar sua receita internacional com a mudança. O mesmo ocorreria com a Varig, que no primeiro semestre de 2002 registrou perdas de R$ 1,041 bilhão.
Um executivo do setor considerou, no entanto, que dificilmente os Estados Unidos concordariam em reduzir seus vôos ao Brasil.


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