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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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ENERGIA

AES, que controla a distribuidora de SP, se declarou em "default técnico" e deixou de pagar US$ 85 milhões ao banco

BNDES pode assumir Eletropaulo, diz Dilma

BONANÇA MOUTEIRA
CHICO SANTOS

DA SUCURSAL DO RIO

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, indicou ontem que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poderá vir a assumir a Eletropaulo, distribuidora de energia controlada pela empresa norte-americana AES.
Na semana passada, a AES declarou-se em "default técnico" e deixou de pagar uma parcela de US$ 85 milhões da dívida que tem com o banco oficial, cuja garantia é a própria Eletropaulo. O BNDES financiou a empresa na privatização da distribuidora.
"A AES será tratada como é: um caso financeiro. Existe a possibilidade de o governo querer resolver a questão da dívida, e as garantias vão estar em questão", afirmou a ministra.
"Eu não acho que nenhuma empresa estrangeira achará isso estranho, até porque eu gostaria que vocês recordassem como foi tratada a Enron nos EUA", completou. A Enron, gigante americana de energia, quebrou depois de estar no centro de um escândalo de fraudes contábeis.
Em relação às dificuldades enfrentadas pelas distribuidoras de energia privadas, Dilma afirmou que "não se pretende ter nenhuma política de resgate de ninguém que esteja em dificuldade".
Quando questionada sobre uma suposta ameaça da EDF (estatal francesa que controla no Rio a distribuidora Light) de deixar o país, a ministra respondeu: "Se essas companhias quiserem sair do país, que saiam".
Dilma considerou "insólito esse tipo de ameaça", mas avaliou que esse não é caso da EDF. "A EDF, ao que eu saiba, até fez um gesto de quem não quis sair do país, porque botou dinheiro na empresa", disse.
O presidente do BNDES, Carlos Lessa, que esteve com a ministra, disse que a solução para o caso da AES transcende a competência do banco estatal: "É uma decisão a ser compartilhada por várias instâncias da República".
A dívida total da AES com o BNDES é superior a US$ 1 bilhão. Segundo Lessa, como a empresa, via Eletropaulo, controla o suprimento de energia elétrica "no coração industrial do Brasil" (a região metropolitana de São Paulo), o seu problema vai além da dimensão bancária.
Como a declaração de inadimplência técnica por parte da empresa dá ao BNDES um prazo de 40 dias para tomar uma posição sobre o que fazer, o banco vai procurar, no decorrer desse prazo, discutir uma saída com outras instâncias do governo.

Burro, ignorante e estúpido

Dilma Rousseff participou no Rio da cerimônia de posse da nova diretoria de Furnas e criticou o modelo energético do governo anterior, no que foi acompanhada pelo presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa.
Pinguelli disse que encontrou o setor numa situação pior do que imaginava. Segundo ele, o problema não são as empresas privadas, mas o modelo, que classificou como "burro, ignorante e estúpido".
O presidente da Eletrobrás informou que a estatal vai contratar escritórios de advocacia para analisar os contratos fechados no último governo. Disse ainda que uma das primeiras medidas será a cobrança de dívidas não-pagas às empresas do sistema Eletrobrás.
Segundo ele, o leque de devedores vai da União a Estados, municípios e fornecedores privados. "Podemos até renegociar, mas tem que pagar", afirmou.

Cemig
A Folha apurou que o Opportunity negocia a compra da parte integral da AES na Cemig -empresa de energia de Minas Gerais. Se fechada, a operação dará ao banco o controle do bloco privado na empresa mineira.


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