São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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TRABALHO

Governo deve votar lei nos próximos dias, mas teme represália da esquerda na Constituição Européia

França descarta recuar na semana de 35 horas

Phillipe Laurenson/Reuters
Marcha contra o projeto de flexibilização da semana de 35 horas, no sábado, em Marselha, França


JOHN THORNHILL
DO "FINANCIAL TIMES"

O governo francês disse ontem que não vai recuar de sua decisão de afrouxar a semana de trabalho de 35 horas, apesar da oposição maciça manifestada em 118 marchas de protesto em todo o país no final de semana. Mas autoridades expressaram temores de que a luta acirrada para estender a duração da semana de trabalho possa levar muitos membros da esquerda a rejeitar o tratado constitucional da Europa quando ele for submetido a referendo nacional, antes do meio do ano.
As preocupações do governo foram reforçadas na semana passada, quando o "parlamento" do sindicato CGT, um dos maiores da França, votou contra a Constituição Européia, ao afirmar que ela é "liberal" demais.
As marchas de sábado, que atraíram entre 320 mil e 600 mil manifestantes, segundo estimativas diferentes, foram lideradas por alguns dos maiores sindicatos franceses como parte de sua luta para preservar o estatuto da semana de 35 horas. Essa redução de horas foi saudada pela esquerda como a maior conquista do governo socialista anterior.
O porta-voz do governo, Jean-François Copé, disse que o governo não pretende recuar na lei que deu maiores liberdades aos trabalhadores. O projeto de lei, que permite que os empregados trabalhem mais horas, contanto que façam um acordo coletivo com seus empregadores, foi debatido na Câmara dos Deputados ontem e deve ser votado nesta semana.
O governo tem clara maioria no Parlamento e deverá aprovar seu projeto de lei, que considera essencial para tornar mais competitiva a segunda economia da zona euro. Um relatório recente de Michel Camdessus, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, concluiu que o principal motivo para o desempenho da economia foi seu "déficit de trabalho".
Muitos membros da CGT no protesto de sábado em Paris carregavam cartazes rejeitando a visão da Europa adotada pelo governo e pedindo o reforço dos direitos dos trabalhadores.
"É impossível a um país-membro revisar essa Constituição, por isso vou votar contra", disse Raphael Darmon, que portava adesivos da CGT e contra a Constituição em manifestação. "A França nunca aprovou uma Constituição que não pudesse revisar."
Patrick Devedjian, ministro da Indústria, disse que um "coágulo de descontentes" na esquerda é uma "preocupação" ao considerar o referendo. E pediu a François Hollande, o líder do Partido Socialista, que já realizou uma votação interna a favor da Constituição, que não brinque com fogo apoiando os protestos.
Os temores de Devedjian pareceram reforçados por pesquisa publicada ontem no "Journal du Dimanche", segundo a qual 46% dos eleitores continuavam indecisos sobre a Constituição.
Os principais motivos para rejeitar o tratado, para entrevistados que pretendiam votar "não", eram temores de que a Europa se torne "liberal demais", a situação social e econômica em geral na França e a oposição à abertura de negociações com a Turquia para sua entrada na União Européia.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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