São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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LUÍS NASSIF

O caso Light

O levantamento da edição de ontem do jornal "O Dia", sobre a Light, deve merecer especial atenção das autoridades, não só da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) como do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Ainda mais após os problemas com a Enron nos EUA.
Até setembro de 2001, o resultado da empresa ficou negativo em R$ 2,177 bilhões, por conta especialmente dos encargos da dívida. O grave da história é que a maior parte do pagamento se destina às chamadas partes relacionadas -ou seja, empréstimos dos controladores à companhia, dos quais o principal é a EDF (Electricité de France). Pior: os empréstimos são remunerados a 11% ao ano, além da variação cambial. Se fosse operação no mercado internacional, o custo ficaria em libor mais 3% -no total, 5% ao ano.
Confirmados os dados, há três implicações graves no episódio. A primeira, a transferência indevida de divisas. A segunda, prejuízo direto para os acionistas minoritários. A terceira, a perda para os consumidores, já que o acordo de privatização prevê o equilíbrio financeiro da companhia.
Não se trata de um quadro simples. Entre 2000 e 2001, a energia vendida pela Light ficou 17% mais cara, lembra o jornal. No entanto nem a elevação das tarifas viabilizou a empresa. Apesar de conseguir R$ 1,238 bilhão de Ebitda (lucro antes de contabilizadas despesas com pagamento de juros e Imposto de Renda e depreciação de equipamentos e instalações) no ano passado, os indicadores de solvência da empresa caíram de 1,26 em 1999 (ou seja, R$ 1,26 a receber no curto prazo para cada R$ 1,00 a pagar) para perigoso 0,57. No terceiro trimestre de 2001 a geração de caixa não era suficiente para cobrir as despesas financeiras.
A alavancagem financeira da Light está em astronômicos 12,7, só comparável às das empresas de internet no auge do movimento especulativo da Nasdaq.
O resultado foi que, enquanto os controladores passaram a fazer aplicações de renda fixa a taxas elevadíssimas, os minoritários estão fazendo seu capital desaparecer. Em 1998, quando a Light adquiriu a participação da Eletropaulo na Light, as ações estavam a R$ 350,00 o lote de mil. Hoje caíram para um terço disso. Isso porque a compra foi feita em dólares, explodindo a dívida com a desvalorização de 1999.

Fax ridículo
A facilidade com que os políticos fogem do essencial para o supérfluo é extraordinária. É encontrado na empresa de Roseana Sarney e Jorge Murad R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo. É dinheiro que nenhuma empresa da economia formal manteria em caixa -nem as maiores multinacionais.
No entanto a discussão é sobre se o delegado mandou ou não um fax para o Palácio do Planalto depois de completada a apreensão do material encontrado no escritório. Longas elucubrações políticas para analisar o horário do fax, mesmo com o advogado da própria empresa testemunhando que a transmissão foi do auto do juiz que ordenou a apreensão.
Quem tem uma mídia esperta dessas não precisa se preocupar com os problemas reais do mundo.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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