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LUÍS NASSIF
O caso Light
O levantamento da edição de ontem do jornal "O
Dia", sobre a Light, deve merecer especial atenção das autoridades, não só da Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica)
como do Banco Central e da
CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Ainda mais após os
problemas com a Enron nos
EUA.
Até setembro de 2001, o resultado da empresa ficou negativo
em R$ 2,177 bilhões, por conta
especialmente dos encargos da
dívida. O grave da história é que
a maior parte do pagamento se
destina às chamadas partes relacionadas -ou seja, empréstimos dos controladores à companhia, dos quais o principal é a
EDF (Electricité de France).
Pior: os empréstimos são remunerados a 11% ao ano, além da
variação cambial. Se fosse operação no mercado internacional, o custo ficaria em libor mais
3% -no total, 5% ao ano.
Confirmados os dados, há três
implicações graves no episódio.
A primeira, a transferência indevida de divisas. A segunda,
prejuízo direto para os acionistas minoritários. A terceira, a
perda para os consumidores, já
que o acordo de privatização
prevê o equilíbrio financeiro da
companhia.
Não se trata de um quadro
simples. Entre 2000 e 2001, a
energia vendida pela Light ficou
17% mais cara, lembra o jornal.
No entanto nem a elevação das
tarifas viabilizou a empresa.
Apesar de conseguir R$ 1,238 bilhão de Ebitda (lucro antes de
contabilizadas despesas com
pagamento de juros e Imposto
de Renda e depreciação de equipamentos e instalações) no ano
passado, os indicadores de solvência da empresa caíram de
1,26 em 1999 (ou seja, R$ 1,26 a
receber no curto prazo para cada R$ 1,00 a pagar) para perigoso 0,57. No terceiro trimestre de
2001 a geração de caixa não era
suficiente para cobrir as despesas financeiras.
A alavancagem financeira da
Light está em astronômicos 12,7,
só comparável às das empresas
de internet no auge do movimento especulativo da Nasdaq.
O resultado foi que, enquanto
os controladores passaram a fazer aplicações de renda fixa a
taxas elevadíssimas, os minoritários estão fazendo seu capital
desaparecer. Em 1998, quando a
Light adquiriu a participação
da Eletropaulo na Light, as
ações estavam a R$ 350,00 o lote
de mil. Hoje caíram para um
terço disso. Isso porque a compra foi feita em dólares, explodindo a dívida com a desvalorização de 1999.
Fax ridículo
A facilidade com que os políticos fogem do essencial para o supérfluo é extraordinária. É encontrado na empresa de Roseana Sarney e Jorge Murad R$ 1,3
milhão em dinheiro vivo. É dinheiro que nenhuma empresa
da economia formal manteria
em caixa -nem as maiores
multinacionais.
No entanto a discussão é sobre
se o delegado mandou ou não
um fax para o Palácio do Planalto depois de completada a
apreensão do material encontrado no escritório. Longas elucubrações políticas para analisar o horário do fax, mesmo
com o advogado da própria empresa testemunhando que a
transmissão foi do auto do juiz
que ordenou a apreensão.
Quem tem uma mídia esperta
dessas não precisa se preocupar
com os problemas reais do mundo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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