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MERCADO FINANCEIRO
Desde março de 2003, o viés de baixa não é adotado nas reuniões que estabelecem os juros básicos
Para analista, BC pode usar tendência de baixa
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Analistas de bancos e consultorias voltam a considerar a possibilidade de o Banco Central usar o
viés -tendência- de baixa na
próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), marcada para a próxima semana.
A maioria considera baixa a
probabilidade de que venha a
ocorrer, mas não descarta o uso
de viés. Nos meses em que durou
o processo de queda de juros, esse
instrumento de política monetária foi esquecido por analistas.
Desde março do ano passado, o
viés não é adotado nas reuniões
que estabelecem os juros básicos.
O viés possibilita ao presidente do
BC reduzir ou elevar os juros, entre uma reunião e outra, sem a necessidade de convocar o Copom.
É empregado quando a autoridade monetária avalia que algum
evento significativo possa acontecer e demandar alteração nos juros antes da reunião seguinte.
O fato novo a justificar o viés seria o IPCA de março, que sai após
o Copom e deve apontar queda
forte da inflação. "Isso poderia
justificar o uso do viés de baixa se
não houver redução de 0,25 ponto
percentual dos juros na próxima
reunião do Copom", diz Andrei
Spacov, do Unibanco.
Para a maioria dos analistas
consultados pela Folha, porém, o
Banco Central empregaria o viés
com outra intenção, a de dar uma
sinalização positiva ao mercado.
"Esse instrumento seria usado
agora para indicar que se estima
melhora do cenário daqui para a
frente, e não em decorrência de
um resultado de inflação que sai
todo mês", afirma Zeina Latif,
economista do HSBC Asset Management. "Senão, poderiam esperar duas semanas para cortar."
Desde a gestão anterior, de Armínio Fraga, houve uma mudança não- explícita e, em alguns momentos, se usou o viés ao estilo do
Fed [o BC dos EUA], diz Latif.
"O uso do viés com o objetivo
de sinalizar e coordenar expectativas seria uma novidade na atual
diretoria. Não dá para descartá-la,
mas lhe atribuo uma probabilidade baixa", afirma.
"Faz sentido empregar o viés
para indicar uma disposição positiva do BC em relação à política
monetária", diz Roberto Padovani, da consultoria Tendências.
"Mas é difícil afirmar porque o
viés tem sido pouco usado -e
usado de forma confusa."
Como o BC já registrou em ata e
no relatório de inflação que espera queda do IPCA em março, não
haveria razão para usar o viés, diz
Fábio Akira, do JP Morgan. "O
Copom deve manter os juros, sem
viés, e cortá-los em meio ponto
percentual em abril. Cerca de 35%
da meta de inflação de 5,5% já estão comprometidos, o que reduz
sua margem de manobra."
"As atas foram muito pessimistas. A chance só não é zero porque
nada é impossível, mas não vejo
nenhuma ação concreta do BC até
abril", diz Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management.
Esta semana será cheia de dados
importantes para o Copom. Hoje
serão conhecidos o IPC de fevereiro e o IPC-S. Amanhã, será a
vez do IGP-DI do mês passado.
Na quarta, saem as prévias de
março do IPC-Fipe e do IGP-M,
além da produção industrial de
janeiro. E, na quinta, o IPCA e o
INPC, ambos de fevereiro.
AmBev
Analistas sugerem não negociar
papéis da AmBev. Só em março,
as ações ordinárias da companhia
subiram 35%, enquanto as preferenciais caíram 22%. "A maior
parte de alta ou queda já aconteceu. É melhor esperar porque faltam informações. Os números
[da transação com a Interbrew]
não estão claros", diz Lucio Graccho, diretor do HSBC.
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