São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Desde março de 2003, o viés de baixa não é adotado nas reuniões que estabelecem os juros básicos

Para analista, BC pode usar tendência de baixa

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Analistas de bancos e consultorias voltam a considerar a possibilidade de o Banco Central usar o viés -tendência- de baixa na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), marcada para a próxima semana.
A maioria considera baixa a probabilidade de que venha a ocorrer, mas não descarta o uso de viés. Nos meses em que durou o processo de queda de juros, esse instrumento de política monetária foi esquecido por analistas.
Desde março do ano passado, o viés não é adotado nas reuniões que estabelecem os juros básicos. O viés possibilita ao presidente do BC reduzir ou elevar os juros, entre uma reunião e outra, sem a necessidade de convocar o Copom.
É empregado quando a autoridade monetária avalia que algum evento significativo possa acontecer e demandar alteração nos juros antes da reunião seguinte.
O fato novo a justificar o viés seria o IPCA de março, que sai após o Copom e deve apontar queda forte da inflação. "Isso poderia justificar o uso do viés de baixa se não houver redução de 0,25 ponto percentual dos juros na próxima reunião do Copom", diz Andrei Spacov, do Unibanco.
Para a maioria dos analistas consultados pela Folha, porém, o Banco Central empregaria o viés com outra intenção, a de dar uma sinalização positiva ao mercado.
"Esse instrumento seria usado agora para indicar que se estima melhora do cenário daqui para a frente, e não em decorrência de um resultado de inflação que sai todo mês", afirma Zeina Latif, economista do HSBC Asset Management. "Senão, poderiam esperar duas semanas para cortar."
Desde a gestão anterior, de Armínio Fraga, houve uma mudança não- explícita e, em alguns momentos, se usou o viés ao estilo do Fed [o BC dos EUA], diz Latif.
"O uso do viés com o objetivo de sinalizar e coordenar expectativas seria uma novidade na atual diretoria. Não dá para descartá-la, mas lhe atribuo uma probabilidade baixa", afirma.
"Faz sentido empregar o viés para indicar uma disposição positiva do BC em relação à política monetária", diz Roberto Padovani, da consultoria Tendências. "Mas é difícil afirmar porque o viés tem sido pouco usado -e usado de forma confusa."
Como o BC já registrou em ata e no relatório de inflação que espera queda do IPCA em março, não haveria razão para usar o viés, diz Fábio Akira, do JP Morgan. "O Copom deve manter os juros, sem viés, e cortá-los em meio ponto percentual em abril. Cerca de 35% da meta de inflação de 5,5% já estão comprometidos, o que reduz sua margem de manobra."
"As atas foram muito pessimistas. A chance só não é zero porque nada é impossível, mas não vejo nenhuma ação concreta do BC até abril", diz Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management.
Esta semana será cheia de dados importantes para o Copom. Hoje serão conhecidos o IPC de fevereiro e o IPC-S. Amanhã, será a vez do IGP-DI do mês passado. Na quarta, saem as prévias de março do IPC-Fipe e do IGP-M, além da produção industrial de janeiro. E, na quinta, o IPCA e o INPC, ambos de fevereiro.

AmBev
Analistas sugerem não negociar papéis da AmBev. Só em março, as ações ordinárias da companhia subiram 35%, enquanto as preferenciais caíram 22%. "A maior parte de alta ou queda já aconteceu. É melhor esperar porque faltam informações. Os números [da transação com a Interbrew] não estão claros", diz Lucio Graccho, diretor do HSBC.



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