São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Conservador, BC reduz juro para 12,75%

Queda, de 0,25 ponto percentual, é a 14ª consecutiva; taxa Selic atinge o menor nível desde a sua criação, em 1986

Mercado já esperava a decisão de ontem, a primeira tomada de forma unânime pelo diretores do Banco Central desde outubro


GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira decisão unânime desde outubro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central aprovou ontem a redução da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 12,75% ao ano.
A queda cautelosa dos juros já era esperada pelo mercado financeiro desde que a recente turbulência financeira mundial desencorajou as apostas na retomada dos cortes de 0,5 ponto. A única surpresa foi a ausência, na reunião do Copom, do economista Afonso Bevilaqua, que antecipou sua saída da diretoria do BC.
Lacônica, a nota divulgada após a reunião disse apenas que a decisão deu "prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciado na reunião de setembro de 2005".
A taxa Selic, que serve de base para as compras e vendas diárias de títulos públicos pelo BC, é hoje a menor desde sua criação, em 1986.
Apesar da aparente previsibilidade, a votação de ontem foi precedida por um período de ataques políticos, críticas técnicas e especulação no mercado em torno do futuro da política monetária.
Em janeiro, por 5 votos a 3, o Copom -formado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, e pelos diretores do banco- optou por reduzir o ritmo de queda dos juros dois dias após o lançamento do programa oficial para a aceleração do crescimento econômico (PAC).
A decisão desencadeou uma onda insatisfação no governo e em sua base de sustentação política. Conforme a Folha noticiou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a defender a nomeação de diretores menos conservadores para o BC.
No mercado, a perspectiva de uma queda mais lenta dos juros contribuiu para acentuar a queda do dólar, o que prejudica as exportações. Especialistas questionaram a "robusta" recuperação da atividade econômica enxergada pelo BC na ata que, uma semana depois, explicou a inflexão da política monetária. As previsões para a inflação, afinal, estão abaixo da meta de 4,5% para o ano.
Questionado sobre a decisão do Copom, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, preferiu destacar que a queda de ontem foi a 14ª consecutiva. Segundo ele, isso indica que o país pode chegar a um juro real (descontada a inflação) de 6% anuais. Com a decisão de ontem, a taxa real caiu para 8,6%, mas ainda é a maior do mundo.
Quando ganhavam força as previsões de que o BC acabaria retomando o ritmo anterior de queda dos juros, de meio ponto percentual, o discurso conservador de sua diretoria foi reforçado na semana passada com a turbulência nos mercados.
No primeiro dia da turbulência, Meirelles, em exposição no Senado, usou a instabilidade para defender "cautela", "prudência" e "parcimônia" -palavra presente nas últimas atas do Copom para sinalizar cortes mais modestos dos juros.
Ao contrário do que aconteceu em movimentos especulativos globais do passado recente, a instabilidade atual não chegou a comprometer as expectativas do mercado para a inflação ou o crescimento.
Foi o bastante, porém, para trazer o mercado de volta ao consenso em torno dos cortes de 0,25 ponto.
Na avaliação do Copom, a adoção de cortes menores poderá prolongar o período de reduções sucessivas nos juros, que já é o mais longo da história da Selic.


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