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Conservador, BC reduz juro para 12,75%
Queda, de 0,25 ponto percentual, é a 14ª consecutiva; taxa Selic atinge o menor nível desde a sua criação, em 1986
Mercado já esperava a decisão de ontem, a primeira tomada de forma unânime pelo diretores do
Banco Central desde outubro
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira decisão unânime desde outubro, o Comitê de
Política Monetária do Banco
Central aprovou ontem a redução da taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual,
para 12,75% ao ano.
A queda cautelosa dos juros
já era esperada pelo mercado financeiro desde que a recente
turbulência financeira mundial
desencorajou as apostas na retomada dos cortes de 0,5 ponto.
A única surpresa foi a ausência,
na reunião do Copom, do economista Afonso Bevilaqua, que
antecipou sua saída da diretoria do BC.
Lacônica, a nota divulgada
após a reunião disse apenas que
a decisão deu "prosseguimento
ao processo de flexibilização da
política monetária, iniciado na
reunião de setembro de 2005".
A taxa Selic, que serve de base para as compras e vendas
diárias de títulos públicos pelo
BC, é hoje a menor desde sua
criação, em 1986.
Apesar da aparente previsibilidade, a votação de ontem foi
precedida por um período de
ataques políticos, críticas técnicas e especulação no mercado em torno do futuro da política monetária.
Em janeiro, por 5 votos a 3, o
Copom -formado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, e pelos diretores do banco- optou por reduzir o ritmo
de queda dos juros dois dias
após o lançamento do programa oficial para a aceleração do
crescimento econômico (PAC).
A decisão desencadeou uma
onda insatisfação no governo e
em sua base de sustentação política. Conforme a Folha noticiou, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva passou a defender
a nomeação de diretores menos conservadores para o BC.
No mercado, a perspectiva
de uma queda mais lenta dos
juros contribuiu para acentuar
a queda do dólar, o que prejudica as exportações. Especialistas questionaram a "robusta"
recuperação da atividade econômica enxergada pelo BC na
ata que, uma semana depois,
explicou a inflexão da política
monetária. As previsões para a
inflação, afinal, estão abaixo da
meta de 4,5% para o ano.
Questionado sobre a decisão
do Copom, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo,
preferiu destacar que a queda
de ontem foi a 14ª consecutiva.
Segundo ele, isso indica que o
país pode chegar a um juro real
(descontada a inflação) de 6%
anuais. Com a decisão de ontem, a taxa real caiu para 8,6%,
mas ainda é a maior do mundo.
Quando ganhavam força as
previsões de que o BC acabaria
retomando o ritmo anterior de
queda dos juros, de meio ponto
percentual, o discurso conservador de sua diretoria foi reforçado na semana passada com a
turbulência nos mercados.
No primeiro dia da turbulência, Meirelles, em exposição no
Senado, usou a instabilidade
para defender "cautela", "prudência" e "parcimônia" -palavra presente nas últimas atas
do Copom para sinalizar cortes
mais modestos dos juros.
Ao contrário do que aconteceu em movimentos especulativos globais do passado recente, a instabilidade atual não
chegou a comprometer as expectativas do mercado para a
inflação ou o crescimento.
Foi o bastante, porém, para
trazer o mercado de volta ao
consenso em torno dos cortes
de 0,25 ponto.
Na avaliação do Copom, a
adoção de cortes menores poderá prolongar o período de reduções sucessivas nos juros,
que já é o mais longo da história da Selic.
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