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Lula quer atender a Serra e exportadores
Após reunião com conselheiros, presidente deve elevar alíquota de ICMS em Estado produtor prevista na reforma tributária
Preocupado com alta do dólar, Lula também estuda desoneração da folha de pagamento de setores voltados à exportação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de avaliar que a proposta de reforma tributária foi
bem recebida pelo empresariado, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva calcula que terá de
atender a uma reivindicação do
governador José Serra (PSDB-SP) e de outros Estados produtores para que o assunto tenha
chance de prosperar. Lula também se empenhará para reduzir impostos da folha salarial de
setores exportadores.
Apesar de o governo ter previsto na proposta que a alíquota
para o ICMS cobrado na origem das mercadorias vá ficar
em 2%, Lula e conselheiros
econômicos com os quais se
reuniu anteontem consideram
que será preciso elevar esse
percentual.
A Folha apurou que o governo já aceita os 4% pleiteados
por Serra, mas os Estados consumidores desejam e lutarão
no Congresso pelo percentual
mais baixo. Reservadamente,
um dos negociadores do governo avalia que uma alíquota de
3% talvez seja aceita por quase
todos os Estados.
A alíquota prevista no texto
da reforma já é uma concessão
aos Estados produtores. Inicialmente, a idéia da Fazenda
era destinar toda a receita do
ICMS aos locais de consumo
das mercadorias, como forma
de beneficiar regiões mais pobres e eliminar em definitivo a
guerra fiscal, ou seja, a disputa
entre Estados para atrair empresas por meio da concessão
de benefícios fiscais.
Na reta final das discussões
em torno do texto, foi aceita a
argumentação apresentada pelo governo paulista, segundo a
qual privar os produtores de
toda a receita do ICMS desestimularia a fiscalização tributária. A Fazenda também avaliou
que uma alíquota de 2% é pequena o bastante para acabar
com a guerra fiscal -ou seja, a
oferta de um benefício fiscal
dessa magnitude não seria suficiente para influenciar decisões privadas de investimento.
Hoje, os Estados produtores
cobram até 12% de ICMS sobre
os produtos vendidos a outros
Estados, aos quais cabe o restante da alíquota do imposto.
As exceções são petróleo e derivados, energia elétrica e telecomunicações, só tributados
nos locais de consumo.
Embora mais discreto que
seu colega de partido, o governador de Minas, Aécio Neves,
também quer elevar o ICMS na
origem. O Amazonas tem interesse na medida porque tem
forte dependência do imposto
cobrado sobre os artigos produzidos na Zona Franca de Manaus. E o Rio de Janeiro tem
uma motivação extra: quer cobrar ICMS sobre o petróleo
produzido no Estado.
Exportações
Nas palavras de um dos conselheiros que estiveram com
Lula, o debate sobre o percentual do ICMS no Estado produtor é um dos principais nós da
reforma tributária. O outro, segundo avaliação na reunião, é
encontrar uma forma de evitar
que "impostos sejam exportados", para usar a expressão de
um dos conselheiros.
Ou seja, o governo vai estimular uma discussão no Congresso para que haja menos impostos sobre a folha salarial de
setores exportadores. O objetivo é encontrar outra forma de
taxar esse tipo de tributo. Via
contribuições, por exemplo.
No encontro de anteontem
no Palácio do Planalto, Lula
discutiu a recente aceleração
da queda do dólar. Estiveram
reunidos com o presidente o
ministro da Fazenda, Guido
Mantega, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), o ex-deputado
federal Delfim Netto (PMDB-SP) e o economista e presidente do conselho-curador da TV
Brasil, Luiz Gonzaga Belluzzo.
Segundo a Folha apurou, Lula demonstrou preocupação
com a valorização do real.
Na reunião, ele ouviu que setores exportadores da área do
agronegócio ainda sustentam o
balanço positivo de nosso comércio exterior. Mas, no dizer
de um dos presentes, "o setor
de "tradeables" [produtos que
também podem ser importados] já dá sinais de que pode
perder condições de exportar
de modo competitivo".
(KENNEDY ALENCAR, GUSTAVO PATU E LETÍCIA SANDER)
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