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Empresas veem classe C como saída da crise
Com maior capacidade de recuperação em cenário econômico adverso, grupo de renda menor é alvo de onda de lançamentos
Investimentos levam em conta consumo crescente dessa faixa de renda e até migração de compras das classes A e B com a crise
DENISE MENCHEN
JANAINA LAGE
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Apontada por especialistas
como a fatia do mercado mais
resistente aos efeitos da crise, a
classe C tem sido alvo de uma
nova onda de produtos e marcas específicas lançados para
atender a esse segmento.
Muitos investimentos foram
planejados antes da crise, mas
as empresas decidiram ir em
frente porque apostam na capacidade de consumo desse
grupo e na migração do consumo das classes A e B para itens
mais populares.
Pesquisa inédita, feita pela
agência McCann Erickson, que
investiga as tendências do consumo na classe C, mostra que
esses consumidores não estão
mais em busca do acesso a
bens, mas, sim, da melhoria de
qualidade. "Essas pessoas já
têm eletrodomésticos, além de
uma despensa e uma geladeira
sortidas e, agora, evoluíram.
Não basta dizer, agora, "você
pode ter determinada coisa",
mas sim "você pode ter a melhor'", diz Aloísio Pinto, vice-presidente de Planejamento da
McCann Erickson.
Um exemplo está na alimentação. Para 38% das mil famílias entrevistadas em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Porto
Alegre e Goiânia, o valor nutricional é o item mais importante
em um produto. Para 82% dos
entrevistados, nutritiva é a comida preparada em casa, onde
76% fazem sua principal refeição, o jantar.
A pesquisa, que será divulgada nesta semana, mostra ainda
que a posse de eletroeletrônicos é associada por 82% dos entrevistados a lazer para toda a
família. "Isso compensa a falta
de opções nos bairros", diz.
De acordo com Haroldo Torres, diretor do instituto Data
Popular, a classe C tem maior
capacidade de recuperação em
um cenário de crise.
"É um consumidor com perfil mais flexível de inserção no
mercado de trabalho. É o policial que dirige táxi ou é vigilante à noite, é a dona-de-casa que
vende comida, pessoas que se
viram na crise", disse. Ele ressalta que a classe A foi duplamente afetada pela crise global,
tanto com a perda de vagas em
cargos executivos como com as
perdas na Bolsa de Valores e em
fundos de investimento.
Isso explica a nova onda de
lançamentos voltados para a
classe C, apesar da crise.
"Quem vende para as classes A
e B têm um mercado de 20 milhões de pessoas. Mesmo que
também sofra com a crise, a
classe C é um grupo quatro vezes maior. Saber vender para
eles é questão de sobrevivência", diz o consultor de varejo
Roberto Meir.
Curioso é que nenhuma empresa tradicionalmente focada
nos segmentos A e B quer atender a classe C pela sua marca
principal. "Não podemos correr o risco de mandar a mensagem errada para nosso público
A e B", afirma Ronaldo Marcolin, diretor comercial da Única,
fabricante dos armários Dell
Ano, que acaba de lançar a linha
New, mais barata.
Curinga
Na incerteza econômica, ter
produtos de qualidade para a
classe C pode ser um curinga
para as empresas. "Se a economia piorar, o consumidor da
classe B vai comprar esse produto. Quando melhorar, a classe D ascende", diz o consultor
de varejo Marcos Quintarelli.
Conquistar o público C para
quem sempre vendeu para a
classe AB não é simples. "É preciso falar a língua desse público, oferecer bom atendimento
e investir em qualidade e design, para que o público valorize o produto. Se a comunicação
se mantiver sofisticada, o produto vai ser rejeitado. Se não
investir na qualidade, o público
não vai desejar o produto", diz
Quintarelli.
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