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Bolsa pede acionista atento, diz ombudsman
Embora conte com a proteção de órgãos reguladores, investidor deve fazer a sua parte buscando informações, diz Izalco Sardenberg
Para o novo ombudsman, mercado brasileiro "não é perfeito", mas amadureceu bastante e virou destaque no cenário internacional
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde janeiro deste ano, o
jornalista Izalco Sardenberg,
60, é o novo ombudsman da
BM&FBovespa, com a função
de resolver as queixas de todos
os que se relacionam com a Bolsa -não só investidores mas
fornecedores e empresas listadas também- e detectar demandas e preocupações.
Na sua opinião, a relação dos
pequenos acionistas com o
mercado precisa ser uma via de
mão dupla: as instituições devem protegê-los, e eles têm que
se manter informados sobre
sua vida financeira.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha.
FOLHA - A Bolsa brasileira tem ombudsman desde 2001. Do que se trata essa reformulação do cargo realizada no início deste ano?
IZALCO SARDENBERG - No começo,
o ombudsman atendia principalmente os investidores no
mercado de ações no seu relacionamento com as corretoras,
cuidando basicamente de questões como ordens de compra e
venda que não foram executadas. A partir de 2010, o ombudsman passa a ser um canal
direto de comunicação para
qualquer público da Bolsa: empresas, fornecedores, imprensa. Além desse serviço mais tradicional, eu, como ombudsman, terei a função proativa de
ouvir as preocupações desses
públicos e levá-las à diretoria.
FOLHA - Como o senhor avalia o
serviço de relação com investidores
das empresas listadas na Bolsa? Os
minoritários ainda reclamam muito
de falta de transparência.
SARDENBERG - Claro que existem problemas. Mas houve um
avanço, sem nenhuma dúvida,
substancial, nos últimos anos,
em termos de governança corporativa. E os órgãos reguladores e outras entidades do mercado têm estado, sim, muito
atentos para defender os interesses dos investidores individuais e impedir que sejam desrespeitados. Eles são importantíssimos para as empresas;
para a Bolsa, são fundamentais.
Hoje, um terço dos nossos investidores [em volume de transações] é de pessoa física.
FOLHA - Por mais que haja um esforço do Brasil de se colocar como
um centro financeiro de nível internacional, o mercado local ainda não
é maduro o suficiente, por motivos
como as falhas do relacionamento
das empresas com seus acionistas e
a relativamente pequena participação da pessoa física.
SARDENBERG - Acho que certamente temos um mercado hoje
muito mais maduro do que há
15 ou 20 anos. Tanto é assim
que, na crise internacional, o
Brasil mostrou uma reação melhor porque o seu sistema regulatório estava muito mais estruturado do que o dos países
desenvolvidos. A facilidade oferecida no país para transferência de dinheiro não se encontra
por aí. A Bolsa também possui o
Novo Mercado [que exige normas aprimoradas de governança corporativa] e um excelente
sistema de garantias e controle
de risco. Por isso, digo que tanto o mercado bancário como o
de capitais estão muito evoluídos no Brasil. São perfeitos?
Não. Sempre há o que ser feito,
há onde avançar.
FOLHA - Um caso concreto em que
o investidor precisaria da intervenção dos reguladores é o das ações
antigas da Telebrás. A maior parte
dos detentores desses papéis nem
sabe que existem, e quem os procura passa sufoco para encontrá-los
nos bancos custodiantes. O sistema
não deveria ser mais organizado?
SARDENBERG - É preciso ir atrás,
essas ações não podem ter desaparecido. Se sumiram, é o caso de buscar uma solução nas
instâncias competentes ou na
Justiça. Na maior parte dos casos, os papéis estão lá, é que as
pessoas não sabem porque não
tinham conhecimento do mercado de capitais. Acho que hoje
existe muito mais informação.
Estamos falando em defesa do
investidor, porém é preciso dizer que o investidor precisa tomar mais cuidado. Isso significa ler os extratos que recebe,
acompanhar com atenção e carinho suas contas nos bancos.
Ele costuma receber avisos sobre assembleias, mudanças, e
nem abre. Então, vale para os
dois lados. As instituições têm
que proteger os investidores,
porém eles também precisam
fazer a lição de casa, precisam
acompanhar os seus investimentos, porque esse é meio caminho andado para a segurança dos seus investimentos.
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