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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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DISTENSÃO

Risco-país cai 3,4% e encerra dia aos 908 pontos; indústria já teme perder rentabilidade com valorização do real

Dólar recua mais 2,11% e fecha a R$ 3,155

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado continua empurrando a cotação do dólar para baixo. Ontem a moeda dos Estados Unidos caiu 2,11% e fechou cotado a R$ 3,155 -o menor valor desde 12 de setembro do ano passado.
O risco-país continua em queda, registrou recuo de mais 3,4% e fechou aos 908 pontos, influenciado pela alta do C-Bond, principal título da dívida brasileira, que subiu mais 1,35%, e pela alta das Bolsas internacionais -reflexo da perspectiva de que se aproxima o fim do conflito no Iraque.
A queda da moeda estrangeira preocupa lideranças do setor industrial ouvidas pela Folha. Isso porque deve gerar perda para o bolso das empresas. "A cotação nesse patamar pode atrapalhar porque haveria tendência de queda na rentabilidade das companhias que exportam", diz José Fernandes, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
"Ficará bem mais difícil operar com um desconto X ou Y, com que os exportadores brasileiros trabalhavam antes, quando o real estava desvalorizado", afirma Paulo Skaf, presidente da Abit (associação do setor).
Explicação: quando a moeda brasileira se valoriza, fica mais caro vender produtos nacionais no exterior. Com isso, se as empresas quiserem faturar mais, terão de reduzir sua margem de lucro obtida com a venda no exterior.
Isso ocorre porque a retração econômica mundial acirrou a competição entre os exportadores. E quem tiver o melhor preço consegue os melhores contratos.
No passado, existia a política do desconto em cima dos preços fechados com os clientes internacionais. A estratégia era possível porque, em 2002, as companhias brasileiras vendiam grande volume de mercadorias com a valorização do dólar -e a rentabilidade era garantida. Os descontos ajudavam a atrair mais clientes.
Na visão de algumas entidades, o bom desempenho nas exportações de algumas empresas -a Sadia, por exemplo, elevou em 25% sua receita com exportação em 2002, e a Cargill, em 24,2%- criou um "colchão de amortecimento" que pode ser usado agora.

Menor margem
"Elas ganharam mercado lá fora, elevaram receita, e isso pode permitir que trabalhem com menor margem", disse Roberto Faldini, diretor da Fiesp.
Caso não consigam manter as vendas elevadas no exterior -por causa da alta do real-, as empresas podem tentar reforçar as vendas no mercado interno. "Mas isso só será possível se houver demanda no país, e não há certeza alguma disso", diz Emílio Garófalo, economista.
Resultado: a produção pode ser atingida, diz à Folha um industrial que representa o setor de máquinas. O principal setor afetado seria o automobilístico.
Dados do governo mostram que o valor médio diário das exportações do país caiu de US$ 275 milhões na primeira semana de março para US$ 256 milhões em abril. No período, já houve um decréscimo nas vendas de manufaturados (como carros).

Impacto agrícola
O impacto da súbita valorização do real pode prejudicar os setores que se beneficiaram da moeda brasileira desvalorizada. "O Brasil conseguiu atrair negócios com novos mercados, em aves e carne bovina e suína, por meio de preços mais competitivos. Com um real mais caro, esses produtos podem perder competitividade", diz Nelson Martim do IEA (Instituto de Economia Agrícola).
Para setores mais tradicionais, porém, as consequências não serão tão expressivas. Segundo a Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), as oscilações do real não afetam a competitividade do produto brasileiro. Além disso, com o dólar mais baixo, a importação de insumos pode baratear a produção.
(ADRIANA MATTOS, CÍNTIA CARDOSO E GEÓRGIA CARAPETKOV)


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