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DISTENSÃO
Risco-país cai 3,4% e encerra dia aos 908 pontos; indústria já teme perder rentabilidade com valorização do real
Dólar recua mais 2,11% e fecha a R$ 3,155
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado continua empurrando a cotação do dólar para baixo. Ontem a moeda dos Estados Unidos caiu 2,11% e fechou cotado a R$ 3,155 -o menor valor
desde 12 de setembro do ano passado.
O risco-país continua em queda, registrou recuo de mais 3,4% e
fechou aos 908 pontos, influenciado pela alta do C-Bond, principal
título da dívida brasileira, que subiu mais 1,35%, e pela alta das
Bolsas internacionais -reflexo
da perspectiva de que se aproxima o fim do conflito no Iraque.
A queda da moeda estrangeira
preocupa lideranças do setor industrial ouvidas pela Folha. Isso
porque deve gerar perda para o
bolso das empresas. "A cotação
nesse patamar pode atrapalhar
porque haveria tendência de queda na rentabilidade das companhias que exportam", diz José
Fernandes, da AEB (Associação
de Comércio Exterior do Brasil).
"Ficará bem mais difícil operar
com um desconto X ou Y, com
que os exportadores brasileiros
trabalhavam antes, quando o real
estava desvalorizado", afirma
Paulo Skaf, presidente da Abit
(associação do setor).
Explicação: quando a moeda
brasileira se valoriza, fica mais caro vender produtos nacionais no
exterior. Com isso, se as empresas
quiserem faturar mais, terão de
reduzir sua margem de lucro obtida com a venda no exterior.
Isso ocorre porque a retração
econômica mundial acirrou a
competição entre os exportadores. E quem tiver o melhor preço
consegue os melhores contratos.
No passado, existia a política do
desconto em cima dos preços fechados com os clientes internacionais. A estratégia era possível
porque, em 2002, as companhias
brasileiras vendiam grande volume de mercadorias com a valorização do dólar -e a rentabilidade era garantida. Os descontos
ajudavam a atrair mais clientes.
Na visão de algumas entidades,
o bom desempenho nas exportações de algumas empresas -a Sadia, por exemplo, elevou em 25%
sua receita com exportação em
2002, e a Cargill, em 24,2%-
criou um "colchão de amortecimento" que pode ser usado agora.
Menor margem
"Elas ganharam mercado lá fora, elevaram receita, e isso pode
permitir que trabalhem com menor margem", disse Roberto Faldini, diretor da Fiesp.
Caso não consigam manter as
vendas elevadas no exterior
-por causa da alta do real-, as
empresas podem tentar reforçar
as vendas no mercado interno.
"Mas isso só será possível se houver demanda no país, e não há
certeza alguma disso", diz Emílio
Garófalo, economista.
Resultado: a produção pode ser
atingida, diz à Folha um industrial que representa o setor de máquinas. O principal setor afetado
seria o automobilístico.
Dados do governo mostram
que o valor médio diário das exportações do país caiu de US$ 275
milhões na primeira semana de
março para US$ 256 milhões em
abril. No período, já houve um
decréscimo nas vendas de manufaturados (como carros).
Impacto agrícola
O impacto da súbita valorização
do real pode prejudicar os setores
que se beneficiaram da moeda
brasileira desvalorizada. "O Brasil
conseguiu atrair negócios com
novos mercados, em aves e carne
bovina e suína, por meio de preços mais competitivos. Com um
real mais caro, esses produtos podem perder competitividade", diz
Nelson Martim do IEA (Instituto
de Economia Agrícola).
Para setores mais tradicionais,
porém, as consequências não serão tão expressivas. Segundo a
Unica (União da Agroindústria
Canavieira de São Paulo), as oscilações do real não afetam a competitividade do produto brasileiro. Além disso, com o dólar mais
baixo, a importação de insumos
pode baratear a produção.
(ADRIANA MATTOS, CÍNTIA CARDOSO E GEÓRGIA CARAPETKOV)
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