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OPINIÃO ECONÔMICA
Peru não é Venezuela
GESNER OLIVEIRA
As pesquisas eleitorais vão
esquentar a campanha no
Brasil neste final de semana. Mas
não tanto quanto no Peru, onde o
primeiro turno das eleições presidenciais ocorre amanhã. Segundo
um dos institutos, haveria empate
técnico de três candidatos. Em
qualquer cenário, as dificuldades
para os próximos anos serão
enormes. Em nenhum deles deverá surgir um novo Hugo Chávez.
A economia peruana é um décimo da brasileira. Mas passou por
dificuldades comparáveis às do
Brasil. Enfrentou hiperinflação,
moratória da dívida externa e
impeachment de presidente. Mais
da metade da população está
abaixo da linha de pobreza e, segundo o Banco Mundial, o setor
informal representa 60% do PIB
(40% no Brasil).
A informalidade é visível na
maioria dos países da América
Latina. Aparece nas melhores páginas da literatura latino-americana, como nas do escritor peruano Vargas Llosa, candidato derrotado por Alberto Fujimori às
eleições presidenciais em 1990. É
reconhecida pelo atual presidente
Alejandro Toledo como um colchão amortecedor das tensões sociais. A taxa de desemprego em
Lima é inferior a 10%, mas o subemprego chega a mais de 30%.
Há um descompasso entre a popularidade de Toledo e a economia peruana. Apesar dos problemas estruturais, o Peru se beneficiou da boa situação da economia mundial nos últimos anos.
Cresceu 6,7%, em 2005, mais do
dobro do Brasil, e deverá crescer
4,9% em 2006. A inflação está
dentro das metas estabelecidas
pelo Banco Central e a dívida do
setor público registrou ligeira
queda em relação ao PIB.
Tais resultados não derivam de
mérito especial das autoridades
econômicas, como freqüentemente quer a propaganda oficial no
Brasil. Decorre de conjuntura
mundial singular na qual os preços das commodities melhoraram, a taxa de juros se manteve
em níveis historicamente baixos e
a demanda externa explodiu com
o fator China. As exportações de
minérios e pesca do Peru foram
beneficiadas e acusaram notável
expansão. O comércio exterior
deve ter mais um estímulo com a
assinatura do tratado de livre comércio com os EUA a ser ratificado pelo Congresso neste ano.
No entanto, a administração
Toledo fez pouco para superar os
entraves para o desenvolvimento.
A popularidade do presidente situa-se em apenas 19% e já esteve
pior, em 6%. A candidata da situação, Lourdes Flores, não representa uma agenda nova e apesar de apresentar menor índice de
rejeição deverá ter muita dificuldade para vencer.
Os principais candidatos de
oposição têm menos ainda a oferecer. Ollanto Humala, que segundo algumas pesquisas poderia
estar liderando na preferência
dos eleitores, representa o nacionalismo anacrônico com influência em segmentos militares e sem
compromisso com a democracia.
Alan Garcia representa o populismo e tem em seu currículo uma
das gestões mais desastrosas no
campo econômico.
A julgar pelos números, não se
pode descartar uma vitória de
Humala ou de Alan Garcia. Nem
mesmo se descarta uma eventual
disputa entre os dois no segundo
turno com uma derrota de Lourdes Flores já no primeiro turno.
Tal fato será fator de aflição para
os analistas mais pessimistas e levará alguns setores do governo
Bush a concluir que o verdadeiro
eixo do mal do planeta está na
América Latina, com a transformação do Peru em nova república chavista.
Tais preocupações são descabidas por dois motivos. Em primeiro lugar, porque quem quer que
saia vitorioso vai moderar o discurso. As promessas de campanha têm guardado pouca relação
com as políticas adotadas. O governo Lula é ilustrativo a esse respeito. Lembre-se de que Fujimori
derrotou Vargas Llosa com um
discurso radical e depois fez tudo
diferente. Em segundo lugar, porque o Peru exporta ouro, mas não
petróleo. Não dispõe da mesma
folga de recursos externos e fiscais
de Hugo Chávez.
Tais considerações deveriam
tranqüilizar quem acompanha os
mercados no curto prazo. As eleições de amanhã no Peru não representam risco significativo.
Mas, para quem está preocupado
com longo prazo, persiste a frustração com a falta de verdadeira
agenda de desenvolvimento.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), presidente do Instituto Tendências e ex-presidente do Cade. Atualmente, é professor visitante do Centro
de Estudos Brasileiros na Universidade
Columbia (EUA).
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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