São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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CRISE NO AR

Para ministro, ajuda a empresas privadas não é papel do governo; Dilma diz que Planalto ainda avalia soluções

Mantega afirma ser contra socorro à Varig

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixou claro ontem ser contra um socorro do governo federal à Varig. Disse que não cabe à União dar dinheiro dos contribuintes para concessionárias privadas. ""O papel do governo não é dar socorro. A Varig é um grupo privado e tem autonomia para tentar uma saída para a crise. Não vejo o que o governo poderia fazer", afirmou.
Segundo Mantega, o governo já ofereceu a ajuda possível à Varig, quando o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) deu empréstimo de US$ 41,3 milhões à Aero-LB para que ela comprasse a Varig Log (Varig Logística) e a VEM (Varig Engenharia e Manutenção), em novembro do ano passado. A Aero-LB é uma empresa criada pela portuguesa TAP e por dois empresários brasileiros. O dinheiro do empréstimo já foi até devolvido. A Varig Log acabou comprada pela Volo do Brasil, e a Aero-LB ficou apenas com a VEM.
O Ministério da Fazenda não tem como dar recursos à Varig, declarou o ministro. ""Não existe no Orçamento Federal ajuda para a Varig ou para qualquer outra empresa em dificuldade."
Mesmo dizendo que não gostaria de opinar sobre a Varig, por ser um assunto da alçada do Ministro da Defesa, Mantega manifestou repúdio à idéia de socorro financeiro do governo.
Já a responsável pela coordenação das conversas do Palácio do Planalto com a Varig, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem que um plano do governo federal acerca de possíveis soluções para a crise financeira da empresa aérea será concluído na semana que vem.
"Nós estamos fazendo uma avaliação e esperamos que na semana que vem apresentemos essa avaliação ao presidente [da República]", afirmou, em entrevista no Palácio do Planalto.
Dilma não quis antecipar pontos da avaliação, mas, ao afirmar que a empresa já passa por um processo de recuperação judicial, deu a entender que a situação da empresa é mais complexa do que um simples socorro financeiro.
"A Varig está em recuperação judicial, não é uma questão só do governo, tem uma interferência do Judiciário a partir da Lei das Falências e do fato de ter sido feito um acordo. Não é uma questão que está na mão do governo a questão da recuperação financeira da Varig", declarou, ao ser questionada se o governo pode alongar os prazos de pagamento das dívidas da empresa.
A ministra tentou demonstrar tranqüilidade diante da ameaça de a empresa parar de voar. Ela, que se colocou como "usuária" da Varig, disse não acreditar em tal possibilidade naquilo que chamou de "curto prazo".
"A Agência Nacional de Aviação Civil [Anac] tem de garantir os vôos independentemente do que ocorra ou não em relação à companhia. Acho que essa é uma questão de regulação. De outro lado, não acredito que haja nenhum risco de a Varig perder vôos, no curto prazo, pelo menos até onde eu enxergo."
Dilma somente falou sobre Varig depois de ouvir um pedido do presidente. Após uma solenidade no Planalto, Lula foi questionado sobre a situação da empresa aérea. "Vou pedir para a Dilma falar com vocês", respondeu, chamando a ministra para uma rápida conversa de canto.

"Consumidor protegido"
Na entrevista, diante da ameaça de paralisação da Varig, a ministra da Casa Civil foi questionada se poderia fazer algum tipo de orientação aos consumidores. "O consumidor sempre vai ser protegido", disse, antes de afirmar que a população sabe que a situação da empresa é difícil.
"O consumidor vai ter de ter noção que a Varig, como todos nós sabemos, é uma empresa que passa por uma situação difícil. Todos nós sabemos disso [...] Quando nós chegamos ao governo [em janeiro de 2003], já tínhamos noção de que vinha antes um problema grave com a Varig. A Varig teve problema de gestão na Fundação Ruben Berta, como é de conhecimento de todos os senhores [repórteres], e ao mesmo tempo houve, não só no caso da Varig, houve no mundo uma instabilidade na avião civil."
A gravidade da situação da Varig já levou a Anac a se preparar, com Gol, TAM, BRA e Ocean Air, com um plano para cobrir uma eventual paralisação da Varig. O passivo da companhia aérea é de aproximadamente R$ 7 bilhões, o que faz o governo federal praticamente descartar o uso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Também foram feitas reuniões da Anac com o Itamaraty, que está preocupado em garantir o retorno de passageiros da Varig no exterior, caso a empresa pare.
Ontem, a ministra não quis comentar a situação específica dos credores da Varig, como Infraero, BR Distribuidora e Previdência Social.


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