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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
A controvérsia sobre desindustrialização
Há forte declínio da parcela da indústria manufatureira no
PIB e no emprego, revelando "desindustrialização precoce"
AS RAZÕES e os efeitos da continuada valorização do real dividem os economistas. A rapaziada do "senta que o leão é manso" argumenta que a notória melhoria dos "fundamentos" vem instigando o apetite dos investidores por
ativos brasileiros. Melhor ainda,
submetida à concorrência externa, a
indústria brasileira atirou ao mar as
ineficiências e muitas empresas já
flexionam os músculos para um novo período de expansão, os custos
alinhados às exigência do mercado
internacional. A comprovação da façanha é atestada pelo aumento das
importações e da produção doméstica de bens de capital.
O jornal "Valor" do fim de semana,
edição que foi às bancas na quinta-feira, dia 5, registra reparos à visão
otimista do movimento cambial. A
reportagem mostra que os setores
intensivos em mão-de-obra já ganham a companhia dos segmentos
industriais intensivos em tecnologia, como automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, na retaguarda da corrida competitiva.
Esquenta a controvérsia sobre a
desindustrialização. Descontados os
que acham que a indústria brasileira
vai bem, obrigado, e está pronta para
saltar na jugular dos competidores,
não escasseiam os que sugerem ser
até desejável, na nova divisão internacional do trabalho promovida pela liderança sino-americana, que o
Brasil se (re) transforme num exportador de produtos intensivos em
recursos naturais.
Primário-exportador, sim, mas de
primeira classe. Aí está a febre do
etanol para desmentir os pessimistas. A história do capitalismo já registrou períodos relativamente longos de termos de troca favoráveis
aos produtores de commodities,
mas não há notícia de que tenham
sido sustentáveis.
O economista inglês Bob Rowthorn realizou um cuidadoso estudo
sobre o fenômeno da "desindustrialização". Os testes realizados com
um painel de 18 países, no período
1963-1994, revelam que os países
em desenvolvimento apresentam
tendência à queda da participação
da indústria no emprego e no PIB
(Produto Interno Bruto), a partir de
US$ 9.000 de renda per capita (a
preços constantes de 1986).
O Brasil ainda não atingiu essa
marca. Os dados do PIB recentemente publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram uma estrutura setorial de economia madura. Há um
forte declínio da participação da indústria manufatureira no PIB e no
emprego, revelando o que se pode
qualificar de "desindustrialização
precoce". Há fortes indícios, ademais, de que a valorização do real está promovendo o rompimento dos
nexos inter-industriais das principais cadeias de produção.
A estrutura industrial brasileira
pode ser comparada a uma nebulosa
em que sobressaem algumas grandes e médias empresas em cada setor. Elas têm conseguido resistir, até
agora, graças à racionalização e à especialização, bem como à elevação
do coeficiente de insumos importados. No futuro, alguém haverá de
compreender por que a modernização empresarial dos últimos 15 anos
levou ao enfraquecimento estrutural da indústria manufatureira.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 64, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos
do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de
Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo
Quércia).
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