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LUÍS NASSIF
Rumos da tecnologia
O que impede o desenvolvimento da tecnologia no Brasil? Esta foi a proposta de discussão em um dos painéis da
Telexpo'98 (feira de telecomunicações), realizada na semana passada em São Paulo.
Na minha exposição, relacionei os fatores negativos indicados a seguir.
Nas Universidades:
* preponderância da visão
especialista e departamentalizada, impedindo a interdisciplinaridade (pesquisas conjuntas entre especialistas de
diversas áreas);
* currículos estratificados,
desmotivando os primeiroanistas e não incorporando os
avanços do conhecimento
científico contemporâneo;
* nas universidades privadas, baixa qualidade do ensino e da pesquisa;
* nas universidades públicas, desmotivação do corpo
docente e dos pesquisadores
(em função dos baixos salários), corporativismo, resistência a cobranças e avaliações, pouco interesse em pesquisa aplicada e pouco conhecimento das necessidades empresariais.
Na política científica:
* enfoque excessivo nos "papers", em detrimento da produção de tecnologia;
* não-definição de prioridades para a alocação das verbas de pesquisa;
* pouca integração entre
pesquisadores, levando à dispersão ou superposição de
pesquisas;
* avaliação insuficiente, especialmente na concessão de
verbas federais.
Nas empresas geradoras de
tecnologia:
* excessiva dependência de
tecnologias externas;
* desenvolvimento de tecnologia própria sem obedecer a
padrões internacionais, fenômeno particularmente intenso no ramo das telecomunicações;
* excessiva dependência de
compras das estatais, impedindo o desenvolvimento de
uma visão de mercado e de
marketing;
* não-desenvolvimento de
instrumentos adequados de
capitalização.
Pontos positivos
Em contrapartida, há movimentos positivos, que, embora
ainda incipientes, tendem a
se tornar hegemônicos.
Nas Universidades:
* gradativa tomada de
consciência da importância
da pesquisa aplicada e da geração de patentes;
* nova Lei de Patentes, permitindo ao pesquisador receber parte dos royalties dos
produtos patenteados;
* primeiras transgressões ao
modelo especialista, com algumas universidades rompendo com os limites da departamentalização;
* disseminação de cursos de
formação de empreendedores,
a partir da experiência da
PUC do Rio de Janeiro.
Na política científica:
* ênfase nas pesquisas associadas, entre institutos e empresas;
* ampliação da concessão
de verbas a pesquisas desenvolvidas por empresas.
Nas empresas geradoras de
tecnologia:
* tentativas de criação de
instrumentos de capitalização, no âmbito do BNDESpar
e de alguns bancos de investimentos privados;
* tendências das grandes
empresas de desenvolverem
capacitação em pequenos fornecedores.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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