São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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LUÍS NASSIF
Rumos da tecnologia

O que impede o desenvolvimento da tecnologia no Brasil? Esta foi a proposta de discussão em um dos painéis da Telexpo'98 (feira de telecomunicações), realizada na semana passada em São Paulo.
Na minha exposição, relacionei os fatores negativos indicados a seguir.
Nas Universidades:
* preponderância da visão especialista e departamentalizada, impedindo a interdisciplinaridade (pesquisas conjuntas entre especialistas de diversas áreas);
* currículos estratificados, desmotivando os primeiroanistas e não incorporando os avanços do conhecimento científico contemporâneo;
* nas universidades privadas, baixa qualidade do ensino e da pesquisa;
* nas universidades públicas, desmotivação do corpo docente e dos pesquisadores (em função dos baixos salários), corporativismo, resistência a cobranças e avaliações, pouco interesse em pesquisa aplicada e pouco conhecimento das necessidades empresariais.
Na política científica:
* enfoque excessivo nos "papers", em detrimento da produção de tecnologia;
* não-definição de prioridades para a alocação das verbas de pesquisa;
* pouca integração entre pesquisadores, levando à dispersão ou superposição de pesquisas;
* avaliação insuficiente, especialmente na concessão de verbas federais.
Nas empresas geradoras de tecnologia:
* excessiva dependência de tecnologias externas;
* desenvolvimento de tecnologia própria sem obedecer a padrões internacionais, fenômeno particularmente intenso no ramo das telecomunicações;
* excessiva dependência de compras das estatais, impedindo o desenvolvimento de uma visão de mercado e de marketing;
* não-desenvolvimento de instrumentos adequados de capitalização.

Pontos positivos
Em contrapartida, há movimentos positivos, que, embora ainda incipientes, tendem a se tornar hegemônicos.
Nas Universidades:
* gradativa tomada de consciência da importância da pesquisa aplicada e da geração de patentes;
* nova Lei de Patentes, permitindo ao pesquisador receber parte dos royalties dos produtos patenteados;
* primeiras transgressões ao modelo especialista, com algumas universidades rompendo com os limites da departamentalização;
* disseminação de cursos de formação de empreendedores, a partir da experiência da PUC do Rio de Janeiro.
Na política científica:
* ênfase nas pesquisas associadas, entre institutos e empresas;
* ampliação da concessão de verbas a pesquisas desenvolvidas por empresas.
Nas empresas geradoras de tecnologia:
* tentativas de criação de instrumentos de capitalização, no âmbito do BNDESpar e de alguns bancos de investimentos privados;
* tendências das grandes empresas de desenvolverem capacitação em pequenos fornecedores.

E-mail: lnassif@uol.com.br



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