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LUÍS NASSIF
Papel das agências reguladoras
Nos estados Unidos, até
os anos 60, sentia-se a necessidade de estabelecer o primado da competição sobre o ganho da escala. O direito econômico americano foi se consolidando gradativamente
nessa direção e obrigou gigantes, como a AT&T, a se dividir
em múltiplas empresas, para
que a competição beneficiasse
os consumidores.
Nos anos seguintes, constatou-se a necessidade da constituição de empresas globais e se
voltou a permitir fusões e incorporações. Constatou-se que,
em muitos casos, a fusão permitia ganhos de escala e que a
facilidade de novas empresas
entrarem no setor era muito
alta. Assim, a simples expectativa de entrada de novos concorrentes impediria práticas
oligopolistas.
É possível que, nos próximos
anos, esse princípio seja alterado.
Tome-se, agora, o modelo
econômico brasileiro. Na aviação civil, durante algum tempo
abriu-se o mercado e estimulou-se a competição para poder beneficiar o consumidor e
permitir o crescimento de empresas inovadoras. Depois,
veio a crise do setor -provocada, em parte, pela supercompetição. O novo modelo se propõe
a corrigir excessos do modelo
anterior, reduzindo a competição para permitir melhor adequação da frota ao mercado.
Provavelmente induzirá a exageros na direção contrária,
obrigando a novas correções de
rumo futuramente, quando a
crise passar.
Esses episódios demonstram
que a economia não é uma
realidade estática, com objetivos únicos sendo mantidos ao
longo do tempo. As decisões
têm que se adaptar às circunstâncias. E isso em um país sem
tradição de respeito aos contratos e de continuidade em
políticas públicas. Como conciliar esses dois fatos: o de entender a economia como processo
de mudanças contínuas, mas
com continuidade e respeito
aos contratos?
Por tudo isso, o modelo das
agências reguladoras é fundamental. Cabe-lhes, de um lado,
garantir o cumprimento de
contratos, os quais são fixados
em negociação entre o poder
público propriamente dito e os
concessionários.
Mas cabe-lhes, igualmente,
ser um fórum permanente para discussão do desempenho e
conciliação de interesse dos diversos agentes que atuam no
setor -Estado, concessionárias e consumidores. Elas já são
um fórum em que esses agentes
têm assento.
Formulação de política do
setor passa pelos ministérios.
Mas as agências têm que se
constituir em fórum de discussão de idéias, de consolidação e
aprimoramento dos conceitos
e da análise das mudanças dinâmicas do setor regulado.
Como ministérios estão sujeitos a alternâncias de seus titulares, muitas vezes vários em
um mesmo governo, a continuidade e o aprimoramento
das ações públicas necessitam
se dar em torno da consolidação de conceitos livremente
discutidos entre opinião pública, Congresso e agentes do setor.
Por isso a hora é de batalhar
pela consolidação e o fortalecimento das agências, para impedir a sua politização e, principalmente, para criticar o fato
de que o contingenciamento
imposto a elas acabará por inviabilizar sua atuação.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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