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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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CRISE NO AR

Banco do Brasil, Infraero, BR Distribuidora e BNDES terão 60% da empresa em 2005, caso fusão se viabilize

Plano prevê Varig/TAM estatal em 2 anos

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A nova companhia aérea que surgirá da fusão da Varig com a TAM, caso o contrato entre as duas empresas seja firmado, vai se tornar uma estatal federal dentro de dois anos. A Folha apurou ontem que a expectativa de executivos envolvidos no negócio é de que o governo (via Banco do Brasil, Infraero, BR Distribuidora e BNDES) terá cerca de 60% da "nova Varig" a partir de 2005.
A "nova Varig" somente não será uma estatal já em 2003 por causa de exigências da Fundação Ruben Berta (controladora da Varig). Por causa disso, o vencimento das debêntures de garantia de um empréstimo de R$ 1 bilhão reivindicado pelos executivos ligados à fusão ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) seria 2005.
A Varig quer garantir que sua participação de 5% na nova empresa não seja reduzida nos próximos dois anos. As debêntures do BNDES, caso ele conceda o empréstimo, venceriam então em 2005, um ano antes do final do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Executivos ligados ao processo de fusão entendem que o BNDES não conseguiria receber o pagamento do empréstimo de R$ 1 bilhão, nem repassar as debêntures para outras empresa. Em 2005, portanto, caso a nova empresa seja criada, o BNDES passaria a ser sócio da "nova Varig".
Mesmo assim, segundo o projeto de fusão que tem sido elaborado pelo banco Fator e outros consultores, o governo passaria a ser o principal controlador da "nova Varig" já no seu nascimento, previsto para meados do segundo semestre de 2003.
Isso porque a Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora, entre outros credores da Varig e da TAM, teriam 40% do capital da "nova Varig". A carta-consulta da Varig e da TAM sobre o projeto de modelagem da "nova Varig" está pronta e deve ser entregue hoje ao BNDES.

Fiador
O projeto em elaboração prevê as seguintes participações na "nova Varig" em 2003: 5% do capital seria da Varig (a Fundação Ruben Berta teria pouco mais de 2,5%, e outros acionistas da empresa o restante), a TAM teria 35%, as estatais federais 40% e os credores internacionais 25%.
A fundação terá direito a pouco mais de 2,5% da "nova Varig", apesar de ter 87% do controle da Varig, porque acionistas sem direito a voto detém cerca da metade do capital da empresa.
Quase todos os percentuais podem ser modificados, dependendo das negociações com os credores. O único percentual que não será mudado são os 5% da Varig.
Os executivos envolvidos na fusão das duas empresas pedem, na carta-consulta, que o próprio BNDES seja uma espécie de fiador moral da Varig e da TAM com os seus credores.
A idéia é convencer credores como a Boeing e outras empresas de leasing de aviões a trocar parte da dívida que tem a receber da Varig e da TAM por ações da "nova Varig". O BNDES garantiria a viabilidade do negócio. Ainda assim, parte dos débitos desses credores não seria paga.
A idéia dos envolvidos nas negociações é de que a dívida não transformada em ações seria paga ao longo dos próximos anos.
O total da dívida das duas empresas seria de cerca de R$ 6 bilhões. A TAM afirma que não tem débitos vencidos, e que as dívidas a pagar para empresas de aluguel de aviões estaria em torno de R$ 1,8 bilhão.

Dinheiro novo
A nova empresa criada a partir da fusão entre a Varig e a TAM precisará, no entanto, de pelo menos US$ 300 milhões em dinheiro novo do BNDES para tocar o dia-a-dia de suas operações.
Desse total de recursos, a previsão é de que no mínimo US$ 100 milhões sejam necessários para o pagamento de indenizações trabalhistas com a adoção do programa de reestruturação a ser implantado com a fusão.
O número de funcionários das duas empresas deverá encolher dos atuais 24 mil empregados para 16 mil. A fusão entre as duas companhias irá provocar demissões de cerca de 8.000 trabalhadores, segundo a Folha apurou.
Esses números começaram a ser discutidos ontem, em reunião no BNDES, entre os principais credores da Varig (BR Distribuidora, Banco do Brasil e Infraero) e o banco Fator.


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